Análise | Toyota Hilux 2020: foco é o trabalho e a força bruta
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira | •
As picapes médias, principalmente em grandes cidades, são veículos em que as pessoas olham com um certo preconceito, mas que carregam fãs fieis e sob várias alcunhas. Geralmente essas caminhonetes são bem altas, robustas e, por onde passam, chamam muito a atenção, seja pelo jeitão desengonçado ou beleza, seja pelo barulho dos motores a diesel.
Modelo mais vendido do mercado brasileiro há pelo menos três anos, a Toyota Hilux representa muito bem o que é uma picape média: tem força de sobra para o trabalho, passa pelos obstáculos com facilidade e é capaz de carregar muito peso sem perda de desempenho.
A questão aqui, porém, é que ao mesmo tempo em que a Hilux traz o que há de melhor no segmento, também exalta algumas limitações desse tipo de veículo, e isso está demorando para ser solucionado pela fabricante japonesa, que deve lançar uma nova geração do veículo só em 2021.
Nós passamos um tempo com a versão topo de linha da gama, que tem espantosas 12 versões ao todo. Essa variedade pode explicar porque a Toyota Hilux vende tanto, mas, claro, seus méritos são inegáveis – assim como seus defeitos – e vamos abordar todos agora.
Como é dirigir uma picape desse tamanho?
Antes de mais nada, é necessário explicar ao leitor do Canaltech como é dirigir uma picape média.
Ao contrário do Fiat Toro, primeiro veículo desse tipo que testamos por aqui (e testaremos outros tantos), a Toyota Hilux não foi feita pensando no usuário que fica a maior parte do tempo na cidade. Apesar de dividir a plataforma com o SUV Toyota SW4, o conforto que a Hilux oferece nem de longe lembra o da picape intermediária da Fiat ou do seu “irmão” utilitário.
Por ser um veículo mais alto e com uma suspensão mais voltada ao suporte de carga, a Hilux tem um rodar bem mais truculento, balançando bastante e “dobrando” muito mais nas curvas, com isso ficando ainda mais evidente se considerarmos que, na maior parte do tempo, a utilizamos com a caçamba vazia, o que, claro, altera seu equilíbrio. Mas essas características não são restritas apenas ao modelo da Toyota e são um padrão das picapes médias e maiores.
Além disso, muita atenção ao velocímetro: por ser mais alta, a Hilux tira um pouco da sua sensibilidade e noção de velocidade. Por vezes, tivemos a clara sensação de estarmos mais lentos do que a realidade. O que piora no exemplar da Toyota, neste ponto em específico, é a ausência de um cluster digital, que ajudaria muito.
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Outro ponto que é o terror dos usuários de picape médias são as manobras. Esses veículos não foram feitos para manejos curtos e nem para o passeio do dia a dia. Tudo bem que nós estamos em uma quarentena e não fizemos deslocamentos para shoppings, por exemplo, mas achar uma vaga para a Hilux não foi fácil, tampouco manobrá-la em ruas mais apertadas. Falaremos mais dos apetrechos tecnológicos mais para frente, mas a ausência de sensores de estacionamento traseiros e dianteiros é imperdoável se considerarmos um veículo desse porte. Para completar, o modelo é um dos poucos no segmento que ainda adotam a direção hidráulica, o que dificulta ainda mais.
Mas, é aquilo: a Hilux foi pensada para o trabalho e para o off-road e, nesse aspecto, a picape sobra. Nos nossos testes, que foram feitos exatamente nos mesmos locais que o Fiat Toro e com o mesmo peso de carga, o modelo da Toyota botou seu motor 2.8 turbodiesel de 177cv e incríveis 45,9 kgf/m para funcionar. Por mais que a potência seja inferior a de concorrentes de mesma faixa de preço, a caminhonete japonesa tem no arranque e força seu brilho e grande destaque no quesito desempenho, mesmo pesando mais de duas toneladas. A Hilux, como é de se esperar para uma picape desse porte, tem tração integral (4x4), que é acionada manualmente.
Ainda sobre a potência, a Hilux pode ser conduzida sob três modos: Eco, Normal e Power. Aliados ao muitíssimo bem escalonado câmbio automático de seis marchas, esses perfis são bem distintos e podem ser usados em diferentes situações. No Eco, o privilégio vai para o consumo, mas não que ele torne o veículo tão mais fraco. No Power, por sua vez, toda a cavalaria e torque da Hilux são despejados, dando a impressão de estarmos em um carro muito leve. Já no modo Normal, o comportamento é bem equilibrado.
Na cidade, nem tudo é ruim. A buraqueira de São Paulo é vencida sem nenhum problema e a picape é muito esperta quando precisamos de uma ultrapassagem ou retomada. O consumo é outro ponto alto; em nossos testes, os números mistos entre cidade e estrada ficaram em 11,2 km/l, com a capacidade do tanque sendo outro destaque: 80 litros.
De maneira resumida: não é fácil ter uma picape em uma grande cidade. Por mais útil que ela possa ser, mesmo para o transporte de cargas diversas, toda essa força bruta e truculência não são necessárias por aqui na maioria das situações. Caso seu uso seja misto ou majoritário em estradas e no campo, poucos produtos irão superar um veículo desses - ainda mais a Hilux.
Muita segurança e pouca conectividade
A Toyota Hilux 2020 é o que podemos chamar de “picape raiz”. Mas bem que a Toyota poderia caprichar mais nos equipamentos de série. Como dissemos, o foco dos itens tecnológicos da caminhonete japonesa está no trabalho; os assistentes e itens de segurança do veículo foram pensados para auxiliar o condutor em situações extremas.
A começar pelo seletor de tracionamento, que é manual. Por padrão, a Hilux SRX, que é a que testamos, vem configurada para o 4x2, mas, com um pequeno botão giratório, podemos acionar o tracionamento integral e o tracionamento integral baixo (para terrenos bem complicados). Caso você esteja em uma descida bem vertical e o terreno não seja dos melhores, a picape possui o sistema de auxílio automático, que controla os comandos de freio para você.
Ainda no quesito segurança, a Hilux, desde as versões de entrada, tem sete airbags e tirou cinco estrelas no teste do LatinNCap.
Apesar de ser um veículo bem seguro, mesmo em sua versão topo de linha a Hilux carece de sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, sistema de alerta de colisão, monitoramento de pressão dos pneus, sistema de permanência em faixa e câmera de identificação de sinais na pista. Tudo isso pode ser visto em concorrentes e em carros que possuem valores parecidos.
Quando vamos para o campo da conectividade, a central multimídia decepciona. Ela é idêntica a que vimos no Toyota RAV4 e não tem espelhamento para Android Auto e Apple Car Play. Caso você queira fazer com que a tela do seu smartphone apareça na tela de oito polegadas, somente pelo uso do Miracast, que bloqueia a imagem da tela quando o carro está em movimento. Pelo MirrorLink, a conexão pode ser feita por aplicativos compatíveis, como o Modo de Direção, da Samsung, que tem até uma interface interessante, mas não é capaz de espelhar sistemas de navegação como Google Maps e Waze.
Para compensar, a Hilux tem um GPS nativo e que está bem atualizado; também há opção para acessar a TV digital. Uma nova versão da central multimídia com espelhamento aos sistemas Android e iOS é esperada para o meio do ano.
Portanto, o mais recomendado aqui é conectar o seu telefone por meio do Bluetooth e utilizar a central apenas para consumir as mídias que você possui. Caso resolva conectar seu smartphone no cabo, certifique-se de que o acionamento do MirrorLink não esteja ligado.
Completam os itens de segurança, conforto e tecnologia os controles de estabilidade e tração, ar condicionado digital de uma zona, volante com comandos de mídia, controle de cruzeiro adaptativo, saída de ar para os passageiros de trás, sensor presencial, ajuste elétrico do banco do motorista, alerta de cinto de segurança para todos os passageiros, sensor crepuscular e a câmera de ré.
Design e acabamento
Não dá para reclamar do design da Hilux 2020. Pelo contrário. A picape da Toyota é uma das mais bonitas do mercado e ganhou belos retoques em sua atual versão. A grade frontal e o para-choque ficaram maiores e são equipados com luzes diurnas de LED.
A cabine é bem espaçosa e vimos materiais de muito boa qualidade, apesar do uso em excesso do plástico duro. No painel frontal, para passar um pouco mais de requinte, a Toyota aplicou detalhes em black piano e tiras cromadas. O volante e os bancos, por sua vez, são de couro.
O ponto negativo, porém, vai para a porta do compartimento de carga. Além de ser bem pesada, o caimento não tem nenhum mecanismo de segurança ou de amortecimento, o que pode causar acidentes. Apesar disso, o protetor de lataria, é de série desde a primeira versão. As rodas na versão que testamos são aro 18 e possuem design exclusivo.
Para o trabalho, vale a pena
Se você pensa em ter uma picape média que possua boa potência e arranque, consumo de combustível eficiente, capacidade de carga e transporte elevados e que não faça feio no design, a Toyota Hilux vale muito a pena.
Mas, a sensação que dá é que o modelo atual parece cansado e obsoleto quando pensamos em itens de tecnologia. Algo que pode – e deve – ser corrigido em breve.
Na cidade, como todas as picapes médias, a utilização da Hilux não é das melhores, mas um pacote de itens de conforto mais atraente e um rodar mais suave poderiam atenuar isso.
Preços e versões
- GR-S Cabine Dupla 4×4 2.8 turbodiesel automática - R$ 214.690
- SRX Cabine Dupla 4×4 2.8 turbodiesel automática - R$ 205.590
- SRV Cabine Dupla 4×4 2.8 turbodiesel automática - R$ 187.890
- SR Cabine dupla 4×4 2.8 turbodiesel automática - R$ 169.940
- Cabine Simples STD Power Pack 4×4 2.8 turbodiesel manual - R$ 149.705
- Cabine Simples STD Narrow 4×4 2.8 turbodiesel manual - R$ 147.205
- SRV Cabine Dupla 4X4 2.7 Flex automática - R$ 146.590
- SRV Cabine simples 4X2 2.7 Flex automática - R$ 135.190
- Cabine simples STD 4×4 2.8 turbodiesel manual - R$ 130.360
- Chassi cabine simples 4×4 2.8 turbodiesel manual - R$ 126.200
- SR Cabine Simples 4X2 2.7 Flex automática - R$ 125.440
- SR Cabine Simples 4X2 2.7 Flex manual - R$ 119.940
A Toyota Hilux analisada pelo Canaltech foi gentilmente cedida pela Toyota do Brasil.