Análise | Fiat Toro Ranch une mundos dos SUVs e picapes com maestria
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira | •
Em nossas análises aqui no Canaltech, já falamos bastante que os SUVs estão dominando o mercado automotivo brasileiro, aposentando os hatches médios e peruas ano após ano. Com este cenário, as montadoras resolveram ser mais criativas e aproveitar essa onda para criarem produtos cada vez mais atrativos e com características para agradar aos consumidores, que estão com cada vez mais apetite por um utilitário.
A Fiat foi pioneira no Brasil com o lançamento de carros com aspecto aventureiro, o que podemos considerar, de certo modo, como o embrião para o que hoje são os SUVs. Não que os utilitários já não existissem por aqui, mas a popularização começou com esses “adventures”.
Em 2016, porém, a montadora italiana projetou o que hoje é um dos maiores sucessos de mercado em território brasileiro: o Fiat Toro. O veículo, que é considerado um Sport Utility Pick-Up (SUP), foi capaz de unir o melhor de dois mundos: o conforto e praticidade de um SUV com a força, robustez e capacidade de carga de uma picape.
A versão testada pelo Canaltech foi a topo de linha*, chamada de Toro Ranch. Mas há tantas outras que podem agradar diferentes estilos e bolsos, porém, falaremos disso mais para frente.
*A versão Ultra, lançada após a Ranch, ganhou apenas uma mudança na caçamba.
Chama a atenção
Inevitável olhar para o Fiat Toro e não elogiar seu design. A picape não tem o tamanho das que estão posicionadas na categoria de “picapes médias”, como a Ford Ranger, Toyota Hilux ou Chevrolet S10, mas também não é pequena a ponto de ser confundida com sua irmã menor, a Fiat Strada, que há anos é a picape mais vendida do Brasil.
O Fiat Toro foi feito para chamar a atenção de quem precisa de um veículo robusto, capaz de aguentar as pancadas do dia a dia, mas também que seja gostoso de guiar e que tenha o conforto que as grandes cidades exigem. E quem disse que para isso o carro precisava ser feio? Muito pelo contrário: o design é digno de elogios e merece, sim, ser destacado, pois ele transmite exatamente a mensagem que o veículo quer passar, ainda mais na versão Ranch, que é cheia de detalhes.
Como é posicionada com um tamanho intermediário, “subir” nesse Toro não é complicado, mesmo para pessoas de baixa estatura. Há, inclusive, uma alça bem perto da porta que facilita esse trabalho e uma plataforma lateral para que possamos apoiar os pés.
Quando entramos na cabine, o Toro chama ainda mais atenção. A qualidade dos materiais é muito boa e, como todas as picapes nessa faixa de preço, abusa do plástico duro. Isso, no Toro, porém, não chega a ser um problema — apesar de acharmos que cairia bem um material emborrachado pelos valores cobrados por essa versão.
A versão Ranch tem um material de acabamento em duas cores, com bancos de couro na cor marrom e os detalhes das portas, também em couro, na mesma cor. Também há um compartimento “secreto” no banco do carona em que é possível guardar uma boa quantidade de objetos, tal qual acontece no Jeep Compass.
Eficiente no campo e na cidade, mas não no mesmo nível
Por mais que o Fiat Toro seja uma picape, temos algumas ressalvas a respeito de seu comportamento no off-road. As picapes do segmento superior, as médias, são equipadas com itens de segurança e desempenho que lhes garante um trabalho mais eficiente quando falamos de terra, barro, lama e afins. Não que o Toro não seja capaz disso, mas nossa sensação é de que o veículo foi pensado mais para a cidade do que para o campo.
Os números e o desempenho, porém, impressionam: o Toro é equipado com um motor 2.0 turbodiesel de 170cv e 35,7 kgf/m de torque a 1750rpm, o que lhe garante uma relativa agilidade e poderio muito bom para andar nas grandes cidades e na estrada. O câmbio automático de nove marchas lhe garante um conforto absurdo, seja qual for a situação, mas é mesmo na estrada que vimos o quão eficiente ele é. E isso pode ser aferido pelo consumo: apesar dos seus 1871kgs, o Fiat Toro Ranch foi capaz de fazer 13,5 km/l nas rodovias e 11 km/l na cidade. Seu 0 a 100 km/h é em 10 segundos.
Quando o colocamos em um ambiente off-road brando, seu desempenho também foi digno de elogios. Utilizamos o Toro em uma estrada de terra próximo à região de Amparo, no interior de São Paulo, em uma subida bem íngreme e terreno bem judiado. Na subida, ele “jantou” a estradinha e foi superbem, sem a necessidade da utilização latente da tração integral (4x4), mesmo que ela possa ser acionada pelo sistema da picape automaticamente.
Na descida, o sistema de controle do automóvel nos garantiu total segurança, com pausas e frenagens sem solavancos. A suspensão do Toro, que é independente McPherson na dianteira e independente e multilink na traseira, deixa tudo muito leve, seja no off-road ou em nossas ruas esburacadas.
Sua direção é elétrica e, tal qual pudemos conferir no Fiat Argo, a Fiat fez um excelente trabalho em sua calibragem – mas não no esterçamento. Sim, picapes não são veículos fáceis de manobrar, mas bem que o Toro poderia ter um raio de esterçamento um pouco melhor. Seu irmão de plataforma, o Jeep Renegade, não sofre deste problema, por exemplo.
Quanto à capacidade de carga, segundo a FCA, o Toro consegue levar até 1000 kgs em sua caçamba sem que cause grandes danos ao desempenho. Nós conseguimos encher a picape com 500kgs de carga e efetuamos grandes acelerações e arrancadas, tanto em solo plano quanto em subidas, e o resultado foi muito bom, sem perdas significativas.
Chegamos à conclusão que o Toro brilha muito mais nas cidades do que no campo. Com um modo de condução dos mais confortáveis do mercado e um motor potente e econômico, compensa mais ter este veículo se você tiver uma rotina que envolva apenas o lazer e o trabalho, com eventuais viagens. Se você tiver uma fazenda, sítio ou algo do tipo e quer botar a picape para trabalhar e fazer valer sua “intenção”, talvez haja decepções.
Conectividade, segurança e conforto
O Fiat Toro Ranch é a versão mais requintada da picape e isso também pode ser justificado em seus itens de série: não há opcionais, ela vem completa. Se você comprar o Fiat Toro Ranch, saiba que terá á disposição todo o arsenal de itens de tecnologia e segurança que a picape pode receber – mas não dos que poderia ter.
Como assim poderia ter? Como bem sabemos, o Toro é da Fiat, que detém, também, os carros da marca Jeep sob o guarda-chuva da FCA. E, pelo valor que é cobrado pelo Toro (R$ 165.990), alguns equipamentos deveriam ser obrigatórios, tais quais já aparecem em outros modelos da empresa com valor compatível, como alerta de colisão, sensor de ponto cego, park assist e sistema de permanência.
Ressalvas à parte, o Toro Ranch tem um pacote infindável de itens de conforto, conectividade e segurança. A começar pela partida remota, que pode ser feita por meio da chave e, claro, do destravamento do carro com sensores presenciais. Os ajustes do banco do motorista são elétricos, o ar-condicionado é digital e de duas zonas e o console central da cabine é climatizado – este último item não visto em modelos maiores. Há, também, o rebatimento automático dos retrovisores, o espelho central é eletrocrômico e, ao realizar as manobras de ré, além da câmera e dos sensores, o motorista tem à disposição a movimentação do retrovisor direito para a visão da guia.
A central multimídia uConnect que equipa o Toro Ranch é uma versão bombada da que analisamos no Argo. A tela tem o mesmo tamanho, 7 polegadas, mas os componentes são muito mais rápidos e tornam o aparelho mais completo. Por exemplo: o abrir e fechar de programas pode ser feito por meio do controle de abas ou por voz, há GPS da TomTom nativo e o espelhamento com Android Auto e Apple Car Play é muito mais responsivo do que no compacto. A interface também exibe itens e funcionamento bem mais fluidos.
No campo da conectividade também há ressalvas. As chamadas de voz, por exemplo, são atrapalhadas pelo som do motorzão da picape, que não chega a invadir tanto a cabine, mas causa vibração acima da média e interfere na captação da voz pelo microfone. Das vezes em que entramos em chamadas de telefone, as reclamações eram constantes por parte de quem (tentava) ouvir do outro lado.
O clutch central tem uma tela de 5 polegadas de ótima resolução e exibe todas as informações necessárias para o motorista, como pressão dos pneus, consumo imediato, controle de cruzeiro (que é adaptativo), entre outros. Completam os itens de conforto e segurança os sensores noturnos e de chuva, roda de liga leve de 18 polegadas, LED diurno, engate de reboque removível e santantônio cromados.
Vale a pena, mas...
É fácil dizer se valeria a pena ou não ter um Fiat Toro Ranch. A resposta é sim. Porém, há ressalvas. Existem versões do próprio Toro que são mais em conta e que ostentam o mesmo powertrain, ou seja, o motor 2.0 turbodiesel e a tração 4x4. Mesmo sem o requinte que esta versão possui, o interessado em uma picape intermediária como o Toro estará bem servido com as versões Volcano e Freedom.
Para os que não querem pagar os R$ 166 mil de jeito nenhum, existem opções com quase o mesmo valor e com tamanho e capacidade de carga superiores, como a Toyota Hilux e a Ford Ranger, que, futuramente, serão testadas pelo Canaltech.
A grande vantagem do Toro, porém, é que ele é capaz de aliar o melhor dos mundos das picapes e dos SUVs em um único produto; sem ser tão grande quanto uma picape superior e tendo capacidade de carga acima da dos SUVs compactos.
Fiat Toro: preços e versões
- Fiat Toro Endurance 1.8 MT - R$ 96.990
- Fiat Toro Endurance 1.8 AT - R$ 102.990
- Fiat Toro Freedom 1.8 AT - R$ 114.990
- Fiat Toro Volcano 2.4 AT - R$ 127.990
- Fiat Toro Endurance 2.0 Turbodiesel AT - R$ 134.990
- Fiat Toro Freedom 2.0 Turbodiesel AT - R$ 146.990
- Fiat Toro Volcano 2.0 Turbodiesel AT - R$ 158.990
- Fiat Toro Ranch 2.0 Turbodiesel AT - R$ 165.990
- Fiat Toro Ultra 2.0 Turbodiesel AT - R$ 167.990
O Fiat Toro Ranch analisado pelo Canaltech foi gentilmente cedido pela FCA.