Análise | Toyota RAV4 Hybrid: potente, econômico e delicioso
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira | •
Como os entusiastas e consumidores bem sabem, o mercado brasileiro tem sido tomado por uma enxurrada de SUVs. Tem para todos os gostos: pequeno, grande, robusto, fofinho, pesado, leve e por aí vai. Este segmento atualmente é dominado pela Jeep, hoje subsidiária da FIAT, que tem no Jeep Renegade e no Jeep Compass automóveis que elevaram o patamar da categoria ao entregarem um conjunto mecânico e tecnológico bem equilibrado. Há, porém, uma parte dentro deste mercado que tem crescido, a dos SUVs grandes, e vem sendo dominada por este modelo que testamos aqui no Canaltech: o Toyota RAV4.
A versão 2020 deste SUVão, que chega à 5ª geração, não é simplesmente um facelift, com mudanças sutis. A Toyota refez o veículo, lhe dando ainda mais requinte, espaço e, claro, desempenho. Tudo isso aliado à principal novidade para o modelo: a motorização híbrida. Com seus três propulsores elétricos aliados a um possante motor 2.5 à gasolina, o RAV4 Hybrid entrega 222cv de potência combinada, mas com um consumo assustadoramente pequeno para os padrões da categoria (e também do segmento).
A experiência com este carro foi das melhores possíveis e, certamente, ele tem tudo para se manter como o SUV mais vendido do planeta.
Nave espacial
A Toyota sabe como fazer carros híbridos - e não é de hoje. Nós aqui do Canaltech já tivemos a chance de testar o Prius e o Corolla, cada um com sua identidade e características próprias. Isso, porém, fica ainda mais evidente no RAV4. Apesar de seus mais de 1.700kgs e 4,6 metros de comprimento (com 2,69 de entre-eixos), o SUV da Toyota é de uma agilidade e conforto absurdos.
A sensação ao guiá-lo fez com que, por alguns momentos, nos sentíssemos em uma nave espacial. Para quem já leu a nossa análise do Prius, vai se lembrar que fizemos a mesma analogia, mas aqui o nível é outro. O motivo? A potência. Com seus três motores elétricos combinados com um propulsor à gasolina, o RAV4 despeja 222cv de potência com 22 kgf/m de torque combinado, mas que chega de maneira quase que imediata aos nossos pés no acelerador, graças ao sistema elétrico e ao câmbio automático CVT. Com isso, ele fica com uma pegada muito esportiva, dinâmica, mas com uma sensação de segurança e conforto das melhores dentro do mercado automotivo do Brasil.
Mas não é só a potência que faz com que o RAV4 seja essa nave toda. Sua suspensão é muito macia, contrariando um pouco a fama dos SUVs, que, via de regra, são mais durinhos justamente para aguentar mais as pancadas do dia a dia. Ao dirigi-lo pelas ruas de São Paulo, poucas foram as vezes em que fomos vítimas de solavancos ou movimentações mais bruscas; já na estrada, a leveza dos movimentos fez um casamento perfeito com o "chão" que ele tem, muito em função do seu baixo centro de gravidade e de seu tracionamento integral. Sim, o RAV4 é um 4x4.
Consumo digno de carro popular
Se com seus irmãos menores a fama de que os híbridos eram carros sem graça caiu por terra, com o RAV4 então isso pode ser enterrado definitivamente. A questão por aqui é que é possível ter um automóvel grande, pesado e com desempenho esportivo, mas com consumo assustadoramente baixo para os padrões não apenas de seu subsegmento, mas também para toda a categoria dos SUVs.
Tal qual nos demais híbridos da marca, existem quatro modos de condução: EV (totalmente elétrico), Eco, Normal e Sport, com o carregamento da bateria sendo feito pelos próprios freios do veículo. No modo elétrico, ele funciona a pequenas velocidades e sempre é acionado automaticamente em momentos de trânsito intenso, em que o motorista só consegue fazer pequenos deslocamentos. Já no modo Eco, o mais utilizado por nós nos testes, o SUV se comporta muito bem e tem consumo médio na casa dos 15 km/l na cidade e 13km/l na estrada.
Quando passamos para o modo normal, o carro tem um desempenho melhorado, com arrancadas mais fortes e retomadas bem interessantes, porém com um consumo um pouco pior, caindo para uma média de 14 km/l no circuito urbano e 12 km/l nas estradas. Caso você queira utilizar o RAV4 no modo Sport, prepare-se, pois é aí que a nave voa mesmo, despejando o que tem de melhor nos seus 222cv de potência. Como era de se esperar, claro, aqui a média de consumo cai ainda mais, com 10km/l e 9km/l na cidade e estrada, respectivamente.
Durante os dias em que passamos com ele, nossa média final foi de 11,9km/l, o que o coloca em pé de igualdade com muitos dos carros populares e com as versões diesel de utilitários e picapes como Renegade, Toro e Ranger.
Segundo a Toyota, com esse sistema híbrido, o RAV4 Hybrid pode percorrer cerca de 1.000 quilômetros com um único tanque de combustível de 55 litros, dependendo do estilo de condução.
Nota da redação: O consumo foi medido com o sistema do próprio veículo, sempre rodando com o ar condicionado ligado e os vidros fechados.
Conectado, mas nem tanto
Um dos poucos pontos negativos do Toyota RAV4 Hybrid é o seu pacote de conectividade. A tela da central multimídia é bem parecida com a que vimos no Corolla 2020, porém sem a capacidade de espelhamento com Android Auto ou Apple Car Play. Segundo o vice-presidente da Toyota para a América Latina, Miguel Fonseca, esta atualização deve ocorrer em breve e os proprietários devem receber este aviso logo.
Há uma única opção de espelhamento, com o Mirror Link, mas, como a legislação não permite, só é possível ver a tela do seu smartphone ou tablet quando o automóvel estiver parado e engatado no P (park, no câmbio automático). O emparelhamento com Bluetooth é bem fácil de ser feito e é possível colocar seu celular para carregar em um espaço dedicado no próprio painel, já que ele possui a tecnologia de carregamento por indução.
A tela de TFT de 7 polegadas localizada no cluster principal é idêntica à do Corolla e traz todas as informações necessárias para o motorista, como consumo imediato, médio, velocidade, detalhamento da mídia, temperatura externa, entre outras.
Tecnologia a serviço do conforto...
Guiar o RAV4 é prazeroso e divertido, mas existem alguns detalhes que fazem toda a diferença na experiência com este veículo e é algo que a Toyota acertou em cheio.
A começar pelo isolamento acústico, que é dos melhores dentro da indústria. Nem mesmo quando pisamos fundo o som do motor invade tanto a cabine, inclusive na estrada, onde a rolagem é grande. Isso foi possível graças a inclusão de novos materiais de absorção sonora que foram colocados em vários pontos-chave dentro da estrutura do veículo. Um vidro de alto isolamento acústico foi adotado para o para-brisa, uma espuma de poliuretano foi introduzida nos para-choques dianteiros para isolar e absorver o som do motor e, ao mesmo tempo, adotaram-se peças de vedação na borda interna das portas laterais. Finalmente, a estrutura que funciona como um silenciador para a parte inferior do veículo aumentou a superfície, elevando a taxa de cobertura de 60% (geração anterior) para 92%.
Além disso, o RAV4 possui uma das features mais legais que tivemos a chance de testar aqui no Canaltech: o resfriamento dos bancos dianteiros. Em um dos dias em que estivemos com o veículo, a cidade de São Paulo chegou a marcar incríveis 37ºC. Nesta situação, colocamos o ar condicionado para trabalhar e, ao mesmo tempo, acionamos o dispositivo de arrefecimento dos assentos e o resultado foi espetacular, aliviando, e muito, a sensação de calor.
Completam os itens de conforto o ajuste elétrico dos bancos com dois perfis de memorização, abertura automática da tampa do porta-malas, ar condicionado digital dual zone, chave presencial, com sistema de aproximação Smart Entry, faróis full LED e teto solar panorâmico.
... e da segurança
O RAV4 Hybrid ganhou cinco estrelas nos testes de segurança da LatinNCap. Isso foi possível graças a um pacote de segurança completo, além da principal novidade para o veículo dentro deste nicho, o Toyota Safety Sense. Este sistema conta com um radar de ondas milimétricas combinado com uma câmera monocular para detectar uma variedade de perigos e alertar o motorista.
Durante os nossos testes, pudemos averiguar os seguintes itens:
Sistema de pré-colisão frontal (PCS)
O sistema de pré-colisão frontal do Toyota Safety Sense usa a câmera e o radar de ondas milimétricas para detectar veículos que circulam nas ruas e estradas. Se o sistema detectar a possibilidade de uma colisão, ele alerta o motorista através de avisos sonoros e visuais e ativa a assistência de frenagem para evitar ou reduzir os danos causados por elas.
Este teste foi feito de maneira bem segura e controlada, em uma local particular. O que pode ser visto é que o sistema só é ativado em caso de pura distração do condutor. Caso o carro perceba que você está no controle, mesmo que de maneira mínima, ele não irá frenar.
Sistema de alerta de mudança de pista com condução assistida (LDA)
Em determinadas circunstâncias, o Sistema de Alerta de Mudança de Faixa (Lane Departure Alert System - LDA) é projetado para detectar desvios de pista quando as linhas divisórias são visíveis. Neste caso, o veículo faz correções bem sutis no volante, mas que são perceptíveis para o motorista. Isso sem falar nos alertas sonoros e visuais, que podem ser controlados por meio do cluster.
Completam o pacote de segurança os faróis altos automáticos, que diminuem quando um outro carro vem em sua direção, e o controle de cruzeiro adaptativo, que permite a condução a uma velocidade constante pré-determinada. Ele usa o radar de ondas milimétricas montado na grade frontal e a câmera projetada a bordo para detectar veículos, calcular sua distância e ajustar a velocidade para ajudar a manter uma distância predeterminada de um carro para o outro.
Vale a pena investir em um RAV4 Hybrid?
Sim, vale. A versão que testamos é a topo de linha, que, hoje, sai na casa dos R$ 190 mil. Sim, os automóveis no Brasil são caros e por este valor, ainda mais. Mas, com relação ao RAV4, é um preço que, no fim das contas, dá uma sensação mais justa devido ao produto que é oferecido.
Apesar dos problemas de conectividade, o RAV4 Hybrid pode ser considerado um veículo que atende a muitos perfis de usuários, pois possui conforto, segurança, bom pacote tecnológico, espaço, requinte no acabamento, excelente desempenho e, claro, consumo mais do que satisfatório para um veículo deste porte.
Esta análise foi feita com um RAV4 Hybrid gentilmente cedido ao Canaltech pela Toyota do Brasil.