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Afinal, faz sentido usar chips octa-core em smartphones? (parte 2)

Por| 09 de Novembro de 2015 às 15h02

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Afinal, faz sentido usar chips octa-core em smartphones? (parte 2)
Afinal, faz sentido usar chips octa-core em smartphones? (parte 2)

Smartphones com 8 núcleos já estão entre nós há algum tempo, tornando-se basicamente sinônimo de alta performance em modelos topo de linha. Mas afinal, é mesmo necessário todo esse "poder de fogo"? Bem, você provavelmente chegou até aqui porque já leu a parte 1. Mas, caso não tenha lido ou queira relembrar, basta acessar o link abaixo:

Continuemos...

Muito foco em CPU e pouca atenção para a GPU

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Um dos pontos pouco considerados na evolução dos SoCs é a GPU que os equipa, tanto em casos reais de uso quanto em apps de benchmark. Muito do mérito de pontuações maiores no Antutu, Quadrant e outros apps fica com a CPU, o mesmo acontecendo em jogos mais pesados e adoção de resoluções maiores. Isso cria a associação entre aumento de cores e resultados práticos que na verdade não faz sentido, já que a GPU tem um papel essencial nesse avanço.

Em um SoC, a CPU é, literalmente, apenas uma pequena parte do chip. Na grande maioria dos casos, a GPU ocupa um espaço (ou seja, usa mais transistores) do que todos os cores de CPU combinados, e mesmo os dois juntos com o espaço reservado para a memória RAM não chegam a ocupar 50% da área do chip. Há uma boa área reservada para o processamento multimídia (codificação e codificação 4K, por exemplo), DSP e processamento de imagens do display, além de uma boa quantidade de outros recursos.

O foco em poder de CPU é tão grande que alguns smartphones chegam ao mercado completamente focados nesse quesito, muitas vezes deixando fatores importantes de lado. O Positivo Octa X800, por exemplo, já deixa claro os oito núcleos logo de cara, mas vem com somente 1 GB de memória RAM e GPU Mali-450, que está longe de acompanhar o poder de CPU, além de ser relativamente antiga.

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Quando testamos o X800, vimos que ele saiu melhor do que HTC One M7 em benchmarks, um dos mais avançados quando anunciados. Porém, a experiência real é completamente diferente do marketing anunciado, apanhando para rodar alguns jogos mais pesados e incapaz até de codificar vídeos em 1080p. Não chega a ser um caso isolado, já que muitos fabricantes focam no marketing “octa-core” e usuários compram esses aparelhos com uma expectativa que acaba não se cumprindo, já que a GPU (além do resto do SoC, de uma forma geral) foi deixada de lado.

Um dos exemplos mais patentes disso é o iPhone, dual-core desde o iPhone 4s. Muitos fazem piada sobre isso, já que o Android já está para receber modelos de 10-core tri-cluster, acusando os iPhones de serem defasados. O que acontece na prática, porém, é que a Apple nunca deixou de usar GPUs extremamente poderosas (caso da PowerVR GT7600 hexa-core), que ficam encarregadas das tarefas realmente pesadas, além de melhorar a eficiência dos dois núcleos de CPU tanto via software quanto desenhando núcleos otimizados para o iOS, uma estratégia mais eficiente e capaz de oferecer resultados concretos.

No mundo Android, com exceção dos chips da Qualcomm (que dão uma boa atenção para a série Adreno em cada geração), grande parte dos fabricantes mal fala sobre a GPU, mesmo ela tendo a mesma importância, senão maior, do que a própria CPU. O Zenfone 2, por exemplo, focou bastante no poder de fogo do Atom Z3580 e nos 4 GB de memória RAM. A GPU, porém, é a PowerVR G6430, utilizada pela Apple ainda em 2013 no iPhone 5s.

Thermal Throttling

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Aquecimento excessivo é algo que começou com os chips quad-core, mas se tornou grave nos modelos octa-core. Os smartphones quad-core esquentavam sem grandes consequências, por vezes incomodando as mãos, mas agora o próprio smartphone deixa de executar certas funções quando está muito quente para não correr o risco de não danificar os componentes internos. De impedir que usuário aumente o brilho de tela até recusar a abertura do app de câmera, várias problemas começaram a aparecer.

Em 2015 o Snapdragon 810 foi o chip que mais ficou conhecido por esses problemas, de fato não precisando de muito para ficar superaquecido. Mas este revés não é exclusividade dele, acontecendo em quase todos os smartphones avançados com chips octa-core, caso do Exynos 7420 do Galaxy S6, ainda que em uma escala menor. Qual a solução para esse problema? Diminuir o clock até que a temperatura do SoC normalize, algo conhecido como thermal throttling.

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O interessante é que o SoC faz isso para não queimar, ou mesmo danificar componentes. É uma situação que passou a fazer parte do dia a dia de muitos usuários, mesmo que, curiosamente, seja um “modo de emergência” do processador, mesmo caso dos modelos de desktop, quando as coisas saíram do controle. Não é raro que esses smartphones apresentam pontuações constantemente menores em benchmarks executados de forma serial.

Há um problema extra também. Há componentes que não suportam calor, caso da bateria, que vai degradando com o tempo de uma forma muito mais veloz do que deveria. Não há inimigo pior para a bateria do que o calor excessivo, e mesmo as telas podem ser danificadas por isso. Isso acontece também pelo fato de os smartphones ficarem cada vez mais finos, o que limita o poder de dissipação de calor. Mas, bom, se os fabricantes sabem disso, por que usam chips que superaquecem de qualquer forma?

O que realmente importa?

Muito dessa corrida espacial de especificações se deve ao fato de que os fabricantes querem se diferenciar da concorrência prometendo um aparelho teoricamente melhor, já que há dezenas de fabricantes Android. Não é algo que a Apple sofre, já que só lança dois aparelhos por ano, ou mesmo a (finada) Blackberry, o que acaba se reduzindo a uma guerra de especificações que dificilmente se traduzem em benefícios reais para o usuário. Parece mais uma guerra de benchmaks do que uma evolução.

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O aumento na resolução de telas é um outro exemplo disso, com alguns fabricantes anunciando modelos com telas 4K com mais de 800 pontos por polegada quadrada de densidade de pixels (caso do Xperia Z5 Premium da Sony). Na prática é praticamente impossível ver a diferença, algo que chegamos a comentar, mas é algo que chama a atenção na embalagem, não é mesmo? Ainda mais ao lado de um chip octa-core.

Já a autonomia de bateria recebe pouca ou nenhuma atenção. Há algumas poucas exceções no mercado, como o Moto Maxx e o Zenfone Max. Talvez a última barreira para o “smartphone perfeito” seja ficar dias fora da tomada, já que diferenciações de marca não necessitam de mais processamento. Destes extras, por exemplo, podemos citar o Active Display e o Always On dos smartphones da Motorola, o 3D Touch dos iPhones, e a resistência a água do Xperia, diferenciais que já existem e ajudam os usuários a escolher entre um aparelho e outro. Autonomia realmente superior, porém, parece impossível de se tornar tendência.

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Conclusão

Chips de oito núcleos: estes sim se tornaram uma tendência e o mercado parece seguir nessa direção. Inclusive, já há projetos tri-cluster de 10 núcleos, caso do Helio X20 da MediaTek, com 3 conjuntos diferentes de CPU, sendo o próximo capítulo da “guerra de specs” que provavelmente será seguido de telas 5K e 6 GB ou 8 GB de memória RAM, mesmo que o benefício real para o usuário seja questionável (para não dizer imaginário).

Poucos reconhecem que o mercado de smartphones está saturado, e a "culpa" é essa mania global de priorizar especificações em vez de experiência de uso. Poucos fabricantes dão atenção a dois pontos que os usuários realmente buscam, caso de uma autonomia e bateria superior e atualizações rápidas do Android, já que o lucro está concentrado na venda de aparelhos, tentando forçar o usuário a trocar de aparelho para melhorias incrementais.

Algumas empresas, porém, perceberam que essa corrida armamentista está se esgotando. A Qualcomm, por exemplo, pretende lançar seu próximo chip top de linha com quatro núcleos, focando no que realmente importa: experiência e inovações reais no design do chip. É melhor que se orgulhar da ficha técnica. Com o tempo, esperamos que os demais fabricantes também se foquem nisso, percebendo que o modelo de mercado atual, vendendo especificações ao invés de experiência, acabou.

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Fontes: MOOR Insights & Research 1 e 2, fórum Ars Technica, Android Authority, PhoneArena