Publicidade
Economize: canal oficial do CT Ofertas no WhatsApp Entrar

Quem teve ou está com COVID-19 pode tomar a vacina?

Por| Editado por Luciana Zaramela | 27 de Abril de 2021 às 16h30

Link copiado!

twenty20photos/envato
twenty20photos/envato

No ano passado, muito falamos sobre a corrida das vacinas. A essa altura, a população de vários países já começou a ser vacinada. No Brasil, não é diferente: os grupos prioritários já recebem no braço o imunizante da Sinovac (CoronaVac, produzida no país pelo Butantan) ou de Oxford/AstraZeneca (Covishield, produzida no Brasil pela Fiocruz). Mas em meio à vacinação, algumas questões vêm à mente. E uma delas é a seguinte: se uma pessoa estiver com COVID-19, ela pode ser vacinada? 

Em fevereiro, a Organização Mundial de Saúde (OMS) anunciou as diretrizes de aplicação da Covishield, e lançou a seguinte orientação: "Pessoas com COVID-19 confirmada por PCR, incluindo aquelas com início de infecção confirmada por PCR entre uma dose e outra, não devem ser vacinadas até depois de estarem recuperadas da doença aguda e de os critérios de descontinuação do isolamento serem atendidos".

Mas talvez você esteja se perguntando: a vacina não é justamente para conter a COVID-19? Então as pessoas infectadas não são justamente as que precisam da vacina? Mas não é bem assim. Na verdade, a vacina busca ajudar o organismo a conhecer o vírus para poder reconhecê-lo quando ele chegar de verdade, sabendo então como lidar com ele. Para entender isso melhor, conversamos com o Celso Granato, infectologista do Grupo Fleury.

Continua após a publicidade

O especialista explica ao Canaltech que não há um tipo só de vacina, mas sim vários, mas que genericamente falando, o que costuma ser feito é injetar um produto que pode ser um vírus inativado inteiro (como é o caso da CoronaVac, por exemplo) ou um pedacinho do vírus (como é o caso da vacina da AstraZeneca, da Pfizer ou da Moderna).

Dessa forma, segundo Granato, ao entrar em contato ou com o vírus inativado, ou com um pedacinho de vírus, nosso organismo não fica doente por causa da vacina, mas entende que aquilo é uma coisa estranha, e quando isso acontece, deixa células de memória, que ficam guardadas na medula ou no baço. "Depois, se entrar em contato com o vírus de verdade, o sistema imune já conhece, e sai fazendo anticorpos com muito mais rapidez, porque essas células de memória já estão prontas, e com isso você não pega a doença", explica o médico sobre o funcionamento da vacina, de maneira geral. 

Então essa é a base de qualquer vacina: sarampo, rubéola, caxumba, febre amarela. O médico comenta a existência de pequenas nuances, dependendo se é um vírus inativado ou fragmento do vírus, mas que são apenas detalhes. "O mecanismo geral é apresentar o vírus ao organismo de uma forma inócua, que não vá causar doença, mas ensinar o organismo a responder e gerar células de memória", reforça. Vale ressaltar que já fizemos uma matéria sobre o que é vacina, para que serve e qual a sua importância.

Uma pessoa com COVID-19 pode tomar a vacina? 

Continua após a publicidade

Não confunda: uma pessoa que já esteve infectada com COVID-19 alguma vez pode e deve ser vacinada. Mas no momento em que se está infectada, não. "Não deve-se tomar vacina no momento da doença. A gente recomenda que a pessoa tome vacina pelo menos um mês depois de ter tido a doença, porque o que acontece: a pessoa teve a doença recentemente e já se curou, mas ainda está com o nível de anticorpos muito alto, e o anticorpo que a pessoa já tem em função da doença natural pode inativar a vacina", explica o infectologista. O Dr. orienta que, de qualquer forma, o paciente deve conversar com um médico.

Já no que diz respeito às formas graves de COVID-19, Granato comenta que essas pessoas tendem a ter um nível mais alto de anticorpos, precisando de mais tempo antes de tomar a vacina (dois ou três meses), para dar tempo desses anticorpos abaixarem. Mas ressalta que ainda não existe pesquisa sobre isso. 

Mas veja só: em janeiro, pesquisadores do Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo (IQSC) e da startup paulistana Biolinker desenvolveram um teste capaz de detectar anticorpos contra o coronavírus em apenas 10 minutos. Trata-se de um dispositivo parecido com testes rápidos já disponíveis nas farmácias.

Continua após a publicidade

Funciona da seguinte maneira: ao analisar uma gota de sangue do usuário, identifica a presença de anticorpos do tipo imunoglobulina G (IgG), produzidos ainda na fase aguda da COVID-19. Assim, duas bolinhas avermelhadas aparecem no leitor. Ainda está em fase de pesquisa, claro, mas é um sinal de que no futuro, talvez tenhamos um controle melhor de quando um paciente que teve a doença já pode se vacinar.

Duas doses

Outra questão que pode vir à tona é por que a necessidade de duas doses, e se de fato é possível pegar a COVID-19 depois da primeira dose, antes de tomar a segunda. "Todos os estudos foram feitos com duas doses da vacina. Se uma fosse suficiente para a pessoa não pegar a doença, por que a gente daria a segunda dose, deixando de vacinar uma outra pessoa? Então todos os estudos, com exceção da Janssen, mostraram que a vacina precisa ser tomada em duas doses, porque depois da primeira, a pessoa não tem imunidade suficiente", explica o infectologista.

Em janeiro, o imunizante da Johnson & Johnson, desenvolvido pela farmacêutica Janssen, conseguiu desencadear uma resposta imunológica suficiente com apenas uma dose. Um estudo publicado no periódico científico The New England Journal of Medicine apontou: “Uma dose única da Ad26.COV2.S induziu uma forte resposta humoral na maioria dos receptores da vacina, com a presença de anticorpos neutralizantes em mais de 90% dos participantes, independentemente da faixa etária ou da dose do imunizante”.

Continua após a publicidade

É natural que depois da primeira dose (de uma vacina que necessite de duas, que por enquanto é o caso das duas vacinas disponíveis no Brasil), a pessoa ainda assim possa pegar a infecção. "Não quer dizer que vai pegar, mas pode acontecer, porque essa vacinação ainda não se completou. Ela se completa mais ou menos 15 dias depois da segunda dose", orienta o médico.

Se a pessoa tomou a primeira dose e teve a doença, é porque a imunidade dela não estava completa. Mas na doença,  Granato menciona um reforço desse anticorpo. Se a pessoa tomou a primeira dose e depois ficou com COVID-19, deve esperar pelo menos um mês para tomar a segunda dose, se a doença não tiver sido uma forma muito intensa.

Se for bem intensa, a recomendação do especialista é esperar dois a três meses para baixar o nível de anticorpos gerados pela doença. "Como organizar isso? Conversar com a pessoa do posto de saúde, explicar que teve a doença e ver se é possível reservar essa dose para ela tomar mais tarde. Mas isso ainda não está definido", observa.

Continua após a publicidade

O infectologista reitera que pessoas que têm formas gravíssimas de alergias — do tipo que vai ao pronto socorro e precisa tomar adrenalina —, grupos populacionais de imunodeprimidos (como HIV de forma descontrolada) ou com determinados tipos de câncer podem não ter uma resposta satisfatória da vacina, por causa da imunodeficiência. "Mas tudo isso precisa sempre ser ponderado na hora da vacinação", recomenda o médico.

No entanto, é preciso entender que, mesmo com as duas doses, nenhuma das vacinas em uso contra a COVID-19 deve evitar casos assintomáticos, então é possível que a transmissão da COVID-19 continue, fazendo-se necessária a utilização das medidas preventivas, como máscara, distanciamento social e álcool em gel. É uma luta que ainda está longe de acabar, e que exige passos muito cautelosos. 

Questionado se é possível tomar uma vacina para outra doença (como sarampo, por exemplo) depois de tomar a vacina contra a COVID-19, o infectologista diz que depende muito de qual é a outra vacina, mas é importante seguir o calendário e a recomendação dada, quando você for se vacinar.

"De uma forma geral, a gente não mistura vacinas e vai depender muito do calendário. Não é tudo igual, mas geralmente há intervalos de pelo menos um mês entre uma vacina e outra, mas o importante é tomar a vacina contra a COVID-19 agora, que é mais premente, e quando houver necessidade de tomar outra vacina contar para o médico ou enfermeira que for aplicar que foi vacinado. O ideal é portar a carteirinha de vacinação", aconselha o especialista.

Continua após a publicidade

No último dia 12, o Brasil dará início a 23° campanha nacional de vacinação contra a influenza — o vírus da gripe —, com um público-alvo estimado em 79,7 milhões. Mas como até o momento, não foram realizados estudos em que pacientes recebem a vacina contra a gripe e contra a COVID-19 de forma simultânea, o Ministério da Saúde não recomenda a aplicação das duas doses juntas e orienta que o paciente aguarde um intervalo mínimo de 14 dias entre os imunizantes. 

Fonte: Com informações de Organização Mundial da Saúde