Dá para receber a vacina da gripe e a da COVID-19 juntas?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
No dia 12 de abril, o Brasil dará início a 23° campanha nacional de vacinação contra a influenza — o vírus da gripe —, com um público-alvo estimado em 79,7 milhões de brasileiros. Até o dia 9 de julho, a meta é imunizar, pelo menos, 90% dos grupos prioritários contra a doença respiratória, como crianças e idosos. Vale ressaltar que a imunização não afeta a vacina da COVID-19 e pode evitar a sobrecarga de serviços da saúde.
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De acordo com o Ministério da Saúde, a vacinação contra a influenza é necessária, já que "prevenirá o surgimento de complicações decorrentes da doença, óbitos, internações e a sobrecarga nos serviços de saúde, além de reduzir os sintomas que podem ser confundidos com os da COVID-19". Além disso, a imunização é uma forma de proteger as pessoas mais vulneráveis contra doenças respiratórias, o que pode fortalecer o sistema imunológico e evitar o aparecimento de outras infecções.
Para receber a vacina contra a gripe, os grupos prioritários são:
- Crianças de 6 meses até menores de 6 anos de idade;
- Gestantes;
- Puérperas;
- Povos indígenas;
- Trabalhadores da saúde;
- Idosos a partir dos 60 anos;
- Professores das escolas públicas e privadas;
- Pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis e outras condições clínicas especiais;
- Pessoas com deficiência permanente;
- Membros das forças de segurança e salvamento e Forças Armadas;
- Caminhoneiros;
- Trabalhadores de transporte coletivo rodoviário de passageiros urbano e de longo curso;
- Trabalhadores portuários;
- Funcionários do sistema prisional;
- Adolescentes e jovens de 12 a 21 anos sob medidas socioeducativas;
- População privada de liberdade.
Para alcançar a maior parte das pessoas do grupo prioritário, o Ministério da Saúde distribuirá 80 milhões de doses da vacina influenza trivalente, produzida pelo Instituto Butantan. Além disso, a imunização será feita de forma escalonada, ou seja, os grupos prioritários serão distribuídos em etapas, como acontece com a COVID-19. No Brasil, o Programa Nacional de Imunizações (PNI) adota a vacinação contra o vírus desde 1999.
Duas vacinas, pode?
Até o momento, não foram realizados estudos em que pacientes recebem a vacina contra a gripe e contra a COVID-19 de forma simultânea. Dessa forma, o Ministério da Saúde não recomenda a aplicação das duas doses juntas e orienta que o paciente aguarde um intervalo mínimo de 14 dias entre os imunizantes. Na questão da COVID-19, são 14 dias após a segunda dose.
Com o aumento de casos da infecção pelo coronavírus em todo o país, a ideia é que as pessoas priorizem, neste momento, a vacina da COVID-19, mas já tenham agendado a imunização contra a Influenza, após o período de duas semanas. É importante destacar que a vacina da influenza é necessária para a proteção dos grupos mais vulneráveis às complicações e óbitos decorrentes, sendo que o vírus da gripe também circula pelo país. Por isso, a mensagem é de que as pessoas não deixem de se imunizar, caso se enquadrem nos grupos prioritários.
Vacina da gripe pode proteger contra COVID-19?
A vacina contra gripe foi desenvolvida para criar imunidade ao vírus da influenza e, dessa forma, não previne contra infecções do coronavírus. No entanto, um estudo desenvolvido por pesquisadores norte-americanos, da Universidade do Michigan, sugere que a fórmula pode, sim, desencadear algum grau de proteção contra o novo agente infeccioso.
Publicado na revista científica American Journal of Infection Control, o estudo sobre a vacina contra o vírus da gripe analisou registros médicos de mais de 27 mil pessoas imunizadas para a influenza e que passaram por testes da COVID-19 em julho de 2020, em Michigan. Dessa maneira, a equipe comparou os riscos dos vacinados contra a gripe em contraírem a infecção do coronavírus.
"Os resultados de nosso estudo indicam que a vacinação contra influenza não apresenta efeito prejudicial sobre a suscetibilidade a COVID-19 ou aumento da gravidade da doença", afirmam os pesquisadores no artigo. Por outro lado, "apontam para uma possível associação entre a vacina e a diminuição do risco da COVID-19 e melhores resultados clínicos", defendem.
Na análise norte-americana, "a probabilidade de um teste positivo para a COVID-19 foi reduzida em 24% nos pacientes que receberam uma vacina contra a gripe em comparação com aqueles que não o fizeram", apontam os autores. Além disso, "os pacientes vacinados [contra a influenza] e com teste positivo para COVID-19 eram menos propensos a necessitar de hospitalização ou ventilação mecânica e tiveram um tempo de internação mais curto", explicam. No estudo, a diferença da mortalidade não foi significativa, devido ao "pequeno tamanho da amostra e ao baixo número de óbitos observados".
Em suas conclusões, os pesquisadores, no entanto, alertam que ainda não foi possível verificar uma relação de causa e consequência direta entre as vacinas, mas há um bom indicador e isso pode estar associado a inúmeros fatores, como a melhora da imunidade. "Até que a vacina contra a COVID-19 se torne amplamente disponível, a vacina contra influenza deve ser promovida para reduzir a carga da doença durante esta pandemia", concluem.
Para conferir o estudo completo sobre a relação da vacina da gripe contra a COVID-19, publicado na revista científica American Journal of Infection Control, clique aqui.
Fonte: Com informações: Ministério da Saúde