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O que se sabe sobre a variante indiana do coronavírus, identificada no Maranhão

Por| Editado por Luciana Zaramela | 21 de Maio de 2021 às 15h20

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outsideclick/Pixabay
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Nas últimas 24h, foram registrados mais de 638 mil casos do coronavírus SARS-CoV-2 no mundo, segundo levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Somente, na Índia, foram 276 mil casos da infecção. Com estes números, a pandemia da COVID-19 se prolonga ainda mais. E neste cenário, há um novo desafio: a variante indiana (B.1.617). Ela já predomina pelo menos em seu país de origem e foi confirmada em mais de 50 outros territórios.

Toda a preocupação em relação à variante B.1.617 se deve a explosão de casos da doença que a Índia ainda enfrenta e esta cepa pode ser considerada uma das possíveis explicações para o colapso da saúde local, além da falta de medidas eficazes de proteção. Desde o final de abril, o país enfrenta o pior momento da pandemia com recordes nos números de infectados e óbitos.

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Diante dos riscos levantados pela variante indiana do coronavírus, a OMS a classifica como uma variante de preocupação (VOC – Variant of Concern). No contexto da pandemia, outras variantes já receberam a mesma classificação, como a B.1.1.7 (Reino Unido); a B.1.351 (África do Sul); e a P.1 (Manaus, no Brasil).

Variante indiana do coronavírus já está no Brasil

Na quinta-feira (20), o Instituto Evandro Chagas (IEC) — órgão ligado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS) — confirmou os primeiros 6 casos da variante indiana no Brasil. No caso, foi encontrada a sub-linhagem B.1.617.2 da variante em tripulantes no navio MV SHANDONG DA ZHI, que está ancorado no estado Maranhão, de quarentena.

Para confirmar que os tripulantes da embarcação estavam infectados com a variante da Índia, foi feito o sequenciamento genômico de cada suspeito presente na embarcação. Esta investigação individual foi realizada pelo Laboratório de Vírus Respiratórios da Seção de Virologia do IEC.

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"Vale ressaltar que são os primeiros casos desta variante [da Índia] no Brasil, contudo tratam-se de casos importados e as medidas de contenção estão sendo executadas pelos órgãos competentes", destacou o IEC, em nota. Com isso, o instituto esclarece que os pacientes não foram infectados no país e que, até onde se sabe, não há circulação comunitária da variante. Com a bandeira de Hong Kong, a última parada da embarcação foi na cidade do Cabo, na África do Sul.

Segundo o Secretário de Saúde do Estado do Maranhão, Carlos Eduardo Lula, medidas estão sendo tomadas para impedir que a variante se espalhe pela população do estado. Nesse sentindo, a equipe que atendeu a tripulação se deslocou por via aérea, foi testada antes e depois da ação e, agora, permanece em isolamento. "Os demais profissionais em contato com o paciente estão sendo monitorados e testados. Informo, ainda, que já iniciamos a vacinação dos profissionais da área portuária", afirmou.

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Além do Maranhão, há risco de contaminação no Rio Grande do Sul

Se a situação do estado do Maranhão é acompanhada de perto, a variante da Índia pode se espalhar por uma outra porta de entrada no país: a fronteira com a Argentina, no Rio Grande do Sul. "A Argentina tem casos de B.1.617 e um aumento do número de casos está sendo visto em regiões de fronteira com este país (região norte, missioneira). Análises já estão sendo feitas para vigilância genômica", destacou a biomédica e divulgadora científica, Mellanie Fontes-Dutra.

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Nestes casos, é interessante lembrar que predomina no Brasil uma VOC, ou seja, a variante de Manaus (P.1). Além da falta de adesão das medidas sanitárias contra a transmissão do coronavírus, especialistas apontam que esta cepa foi uma das responsáveis pela segunda onda da COVID-19 no país. Inclusive, o sistema de saúde de Manaus entrou em colapso, em janeiro deste ano, e faltou oxigênio para pacientes internados.

Ainda não há consenso sobre qual deve ser o comportamento da variante indiana por aqui, caso ela consiga adentrar no território nacional. É possível que ela prevaleça sobre a variante de Manaus, mas também pode ser que não.

Caso do Reino Unido e da variante da Índia

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No Reino Unido, a situação da variante indiana do coronavírus já parece ser preocupante. De acordo com os dados do Public Health England (PHE), o país confirmou 3,4 mil casos da nova cepa. Na quinta-feira (20), 2,8 mil casos da infecção — independente da cepa — foram notificados em um único dia, valor que é considerado o maior desde o dia 19 de abril. Uma das explicações apontadas seria a entrada da variante estrangeira.

O tweet acima é do médico e clínico geral Luis Fernando Correia. Na imagem, é clara a predominância da variante — e a curva ainda aponta para uma tendência de crescimento.

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Em investigação, a situação epidemiológica pode ter se originado por um erro de software do sistema de rastreamento genômico do país. Em decorrência da falha, dados de 700 pessoas infectadas com a variante e os contatos próximos não foram imediatamente repassados ​​às equipes de saúde locais. Isso pode ter colaborado com a disseminação mais acelerada da nova versão do vírus da COVID-19.

Quais mutações a variante indiana do coronavírus carrega?

Para entender: a variante indiana do coronavírus pode ser observada em três versões com diferenças pouco expressivas, sendo a B.1.617.1, a B.1.617.2 e a B.1.617.3. Em outubro do ano passado, pesquisadores identificaram o primeiro caso, no estado de Mararashtra, na Índia. Inicialmente, foi chamada de variante de mutação dupla, mas estudos posteriores confirmaram outras mutações.

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Em todas as versões, as variantes apresentam três mutações principais nos genes que codificam a espícula do coronavírus, ou seja, a proteína S (spike). São elas: a L452R; a E484Q; e a P681R. Neste local, a mutação tende a ser preocupante, já que é através deste mecanismo que o agente infeccioso consegue invadir as células humanas saudáveis.

Sobre estas mutações, pesquisadores já sabem, por exemplo, que a L452R foi observada em uma cepa dos Estados Unidos. Agora, a E484Q tem pontos em comum com a E484K. A última está presente em outras VOCs: a B.1.1.7; a B.1.351 e a P.1. Por fim, a P681R é, até o momento, exclusiva da nova variante indiana e pesquisadores ainda não sabem o que isso pode significar.

O que já sabemos sobre transmissibilidade e eficácia da vacina?

Em questão de semanas, a variante B.1.617 se tornou a cepa dominante na Índia e se espalhou para cerca de 50 países, incluindo o Reino Unido e a Argentina, por exemplo. Toda essa capacidade de proliferação é apontada como indicativo da sua alta transmissibilidade. Para alguns, este é um indicativo de que a variante é altamente transmissível. “Sua prevalência aumentou em relação a outras variantes em grande parte da Índia, sugerindo que tem melhor 'aptidão' em relação a essas variantes”, explicou Shahid Jameel, virologista da Univrsidade Ashoka, para a Nature.

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Por enquanto, grandes estudos ainda não foram realizados com a nova variante, mas existem uma série de indicativos e estudos menores que observaram sua maior transmissibilidade. Em um preprint — artigo não revisado por pares — feito por pesquisadores do Instituto Nacional de Virologia (NIV) indiano, foi observado que a variante local é responsável por infecções mais graves em roedores. Os animais contaminados com a B.1.617 apresentavam um quadro de maior inflamação nos pulmões quando comparados com outras variantes.

Em paralelo, outro preprint da Universidade de Göttingen, na Alemanha, verificou que o soro convalescente — plasma com anticorpos de quem se recuperou da COVID-19 — pode ser menos eficaz em auxiliar a recuperação de infectados pela variante indiana. Na análise, os pesquisadores observaram que os anticorpos neutralizaram a B.1.617 com 50% menos eficácia do que o resultado que foi obtido com as outras cepas.

No entanto, as vacinas ainda permanecem eficazes contra a variante B.1.617 ou devem, ao menos, reduzir a gravidade da infecção, defende o virologista indiano Pragya Yadav, da NIV. Na questão dos imunizantes, é importante observar que, em números gerais, a Índia é o terceiro país do mundo que mais aplicou doses, segundo a plataforma Our World in Data. No total, foram 187,9 milhões de doses, o que pode significar 93,5 milhões de pessoas imunizadas, de forma completa, contra a COVID-19. Isso pode parecer promissor, mas não é para uma população de 1,3 bilhão de pessoas.

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Para acessar o estudo feito com roedores, clique aqui. Para conferir o estudo desenvolvido com soro convalescente de pacientes que se recuperaram da COVID-19, acesse aqui. Ambos foram publicados na plataforma online bioRxiv.

Fonte: Com informações: The Guardian, Reuters, BBC e Nature