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Megera, o menor mamífero do mundo, consome o próprio cérebro para sobreviver

Por| Editado por Luciana Zaramela | 30 de Novembro de 2022 às 20h15

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Lies Van Rompaey/iNaturalist/CC-BY-4.0
Lies Van Rompaey/iNaturalist/CC-BY-4.0

O menor mamífero do planeta, além do tamanho, tem outra particularidade que chama a atenção, especialmente à ciência: é o "consumo" do próprio cérebro como uma estratégia de eficiência energética. O autor da façanha é o musaranho-pigmeu (Suncus etruscus), também chamado de megera, que consegue reduzir o órgão a 1/4 de seu tamanho original.

Por que a megera "come" seu cérebro?

A estratégia tem tudo a ver com a sobrevivência: no inverno, os alimentos se tornam escassos, fazendo com que muitas espécies acabem migrando ou hibernando para fugir da fome. Diferentão, o musaranho-pigmeu diminui o tamanho do cérebro para não precisar de tanta energia, já que precisa comer o equivalente a 8 vezes o tamanho do corpo todos os dias.

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A megera não pesa mais do que uma única carta de baralho, tendo de 1,2 a 2,7 gramas e medindo de 35 e 53 milímetros de comprimento. Ela acaba recuperando grande parte da massa cerebral na primavera, quando consegue se alimentar de uma grande quantidade de insetos. Nesse período, no entanto, o animal passa pelo período reprodutivo, então também gasta um pouco mais de energia.

Sendo comum à Europa central e do norte e grandes porções da Ásia, o minúsculo mamífero teve o comportamento cerebral curioso observado pela primeira vez nos anos 1940. Apenas em 2017, no entanto, a ciência investigou o fenômeno mais a fundo e produziu artigos relatando o funcionamento incomum, que hoje chamamos de fenômeno de Dehnel, ou encolhimento sazonal do cérebro. Outros animais que apresentam isso incluem toupeiras e doninhas.

Além da curiosidade: benefícios à medicina

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Para além do fato curioso, o fenômeno de Dehnel também pode resultar em benefícios para a ciência e saúde do ser humano: ao estudar o cérebro das megeras, pesquisadores poderão encontrar novas maneiras de tratar doenças neurodegenerativas, como o mal de Alzheimer, a esclerose múltipla e a lateral amiotrófica e muitas outras. Uma das possibilidades é produzirmos química cerebral semelhante à dos musaranhos para aplicação em nosso cérebro.

Já descobrimos, por exemplo, que a parte subtraída do órgão do pequeno mamífero engloba a matéria branca e rica em lipídios que pode ser encontrada por todo o cérebro: a redução justamente dessa parte faz parte dos sintomas de esclerose múltipla nos humanos. Para desvendar mais sobre esse mistério, os cientistas estão buscando entender como a capacidade de cognição é mantida e, depois, recuperada com o retorno da massa encefálica.

Entre os testes realizados, está a observação das megeras em laboratório enquanto se movem em labirintos de LEGO e outros quebra-cabeças, o que deve mostrar como a adaptação do animal ocorre em situações de redução cerebral. Os especialistas se mostram empolgados e lembram que, se esta novidade já é incrível e pode nos guiar para práticas inovadoras de medicina, pode haver mil outras descobertas incríveis para se fazer na natureza — e que nos levarão mais longe ainda.

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Fonte: The Washington Post