Cientistas enxertaram tecido cerebral humano no cérebro de ratos
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Em busca de formas que ampliem o estudo de condições neurológicas, como autismo e esquizofrenia, uma equipe de cientistas enxertou pedaços de tecido cerebral humano — para ser preciso, organoides cerebrais que foram cultivas em laboratório — no cérebro de ratos recém-nascidos. Nesta fase, o cérebro do roedor ainda não está 100% desenvolvido.
- Cientistas descobrem como autismo muda atividade cerebral estudando organoides
- Cientistas brasileiros revertem disfunção neuropsiquiátrica associada a autismo
Publicado na revista científica Nature, o estudo que "turbinou" o cérebro de roedores com células cerebrais humanas foi liderado pelo neurocientista Sergiu Pașca, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. Segundo os autores, o feito bem-sucedido vai possibilitar novas formas de estudo da mente.
No experimento, foi possível confirmar que as organoides cerebrais se conectaram e se integraram ao tecido no córtex de cada cobaia, formando uma parte funcional do próprio cérebro do roedor. Inclusive, esta nova parte do cérebro tinha uma atividade relacionada com a percepção sensorial.
Como foi feito o experimento que turbinou o cérebro de roedores?
Em um primeiro momento, os pesquisadores cultivaram, em laboratório, organoides cerebrais. Em seguida, foram implantadas no córtex somatossensorial — a área do cérebro responsável por receber e processar informações sensoriais — de roedores recém-nascidos. Até chegaram à idade adulta (140 dias), não passaram por nenhum experimento.
Após este período, os animais foram testados de diferentes formas, onde o objetivo era entender se mudanças no comportamento e o impacto do tecido cerebral humano poderiam ser notadas. Segundo os autores, o enxerto foi absorvido com sucesso pelo cérebro animal.
Por fim, os roedores foram sacrificados e os cérebros foram dissecados. Nesta etapa, os cientistas descobriram que as células da organoide se juntaram aos neurônios do animal, formando redes neuronais.
Enxerto de tecido cerebral humano em ratos perimirá avanços na ciência
A partir do experimento, os pesquisadores acreditam ter descoberto uma nova maneira de estudar o cérebro humano. Esta forma, em tese, parece melhor que o estudo de organoides criadas em laboratório, repleta de limitações. No futuro, a técnica permitirá modelar o desenvolvimento de doenças específicas do cérebro humano em um sistema vivo, ou seja, os roedores.
"Muitas das condições psiquiátricas, como autismo e esquizofrenia, provavelmente são exclusivamente humanas ou, pelo menos, estão ancoradas em características únicas do cérebro humano. E o cérebro humano certamente não foi muito acessível [para estudos deste tipo], o que impediu a compreensão da biologia dessas condições", afirma o neurocientista Pașca para o Science Alert.
Questões éticas devem ser discutidas
“A escolha de implantar organoides humanos em cérebros de ratos para permitir tais observações, é claro, não é isenta de considerações éticas", ressalta András Lakatos, médico e pesquisador da Universidade de Cambridge que não esteve envolvido no estudo, para o Science Media Centre. "Há discussões em curso sobre o tema para abordar as preocupações que surgem e, igualmente, para evitar obstáculos à descoberta", completa.
Fonte: Nature, Science Alert e SMC