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Pensar demais e por muito tempo pode, sim, cansar o cérebro — agora sabemos como

Por| Editado por Luciana Zaramela | 16 de Agosto de 2022 às 09h40

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twenty20photos/envato
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Pensar por muito tempo e com muita dedicação cansa o cérebro, sim — e agora temos provas científicas disso, segundo cientistas. Não é como se não soubéssemos que isso acontece, mas sempre foi difícil encontrar provas físicas disso, já que a sensação é subjetiva. Se alguém diz que está com fadiga mental, tudo que podemos fazer é acreditar. Ao menos, até agora.

Não se sabia por que pensamentos intensos ou esforço mental elevado causavam fadiga cognitiva, aliás. A sensação é descrita como uma maior dificuldade para completar tarefas ou para focar nelas, não sendo exatamente um sono ou cansaço. Agora, um neurotransmissor conhecido há cerca de 70 anos vem nos dar mais informações sobre o cansaço do cérebro: é o glutamato.

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Cansando o cérebro

O glutamato é o neurotransmissor excitatório mais comum do cérebro, e desde a sua descoberta, vem surpreendendo os cientistas. Pesquisas indicam, por exemplo, que esses aminoácidos controlam a força dos sinais cerebrais ao regular sua distribuição para outros neurônios, e eles podem até mesmo excitar neurônios à morte — já foram detectadas cargas de 8.000 moléculas de glutamato encapsuladas em uma bolsa de sinapses única.

A questão é que a abundância de glutamato pode ser um problema, e ela está justamente ligada à fadiga cerebral. Monitorando a química do órgão em 24 participantes, cientistas de um estudo publicado na última quinta-feira (11) na revista Current Biology os puseram para resolver tarefas computacionais por mais de 6 horas.

Neles, um aumento nos níveis de glutamato foi detectado no córtex pré-frontal lateral, a parte do cérebro associada a altas capacidades cognitivas, como memória de curto prazo e tomada de decisões.

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Outros 16 participantes, que receberam tarefas simples, não apresentaram acúmulos do neurotransmissor nessa parte do cérebro, levando os pesquisadores a crer que o glutamato extracelular possa ser um dos limitadores ao vigor mental humano. Em outras palavras, o cérebro pode acabar tornando as tarefas cognitivas mais difíceis como um mecanismo para proteger nossos neurônios do excesso de neurotransmissores excitatórios.

Outra teoria fala sobre a glucose, substância utilizada pelo cérebro como uma fonte de energia. Ainda não se sabe, no entanto, como a falta dela deixaria o ato de pensar difícil, ao menos bioquimicamente falando. Alguns pesquisadores propõem que isso cause uma perda de dopamina no cérebro, desinteressando o indivíduo de tarefas mais facilmente. Isso nos faria procurar tarefas mais satisfatórias, que nos trariam mais dopamina.

Há evidências, também, de que o glutamato é eliminado das sinapses durante o sono, o que explica a renovação mental trazida por uma boa noite de descanso. Imageamentos por ressonância magnética funcional (fMRI) do córtex pré-frontal já mostraram que essa parte do cérebro está envolvida em esforços cognitivos que ficam com uma excitabilidade reduzida ao longo do tempo: em outras palavras, quanto mais usamos a mente, ao final do dia a mesma atividade precisará de mais esforço do que no início.

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Agora que sabemos que o glutamato vai se acumulando e torna a ativação do córtex pré-frontal mais custosa após um dia de muito esforço mental, é preciso descobrir porque o aminoácido se acumula mais nessa parte do cérebro, e descobrir mais sobre seu papel no órgão — e é exatamente isso que os cientistas planejam fazer. Isto é, quando o glutamato de seus cérebros diminuir novamente.

Fonte: Current Biology, J. Am. Chem. Soc.