Consumo de vitamina D duplica no Brasil em apenas 3 anos e preocupa médicos
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Para quem está com deficiência de vitamina D, tem osteoporose ou está na terceira idade, suplementar o corpo com a substância é bom, especialmente no clima frio do inverno — mas, para quem não está com nenhuma dessas condições, não há motivo que traga necessidade de suplementação. Mesmo assim, muitas pessoas tomam vitamina D à revelia, com o objetivo de fortalecer a imunidade e o metabolismo ou até se proteger da covid-19. Isso, no entanto, está errado.
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O excesso de vitamina D no corpo pode ser pior do que sua deficiência, a curto prazo, causando desde dores de cabeça e náuseas a falhas na função renal. No Brasil, o exagero no consumo do hormônio é crescente, com consultórios de endocrinologia de todo o país relatando casos do tipo. Apenas entre 2019 e 2022, a venda de suplementos envolvendo a vitamina dobrou, segundo a Associação de Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac).
Fake news vitaminadas
O exagero no uso de vitamina D decorre, em grande parte, de notícias falsas e sensacionalistas acerca de benefícios milagrosos. Durante a recente pandemia do coronavírus, por exemplo, identificou-se um déficit da substância na maioria dos casos graves, o que causou um crescimento nos índices de venda e uso. O problema é que o dado, embora correto, não significa que a suplementação vitamínica seria uma cura mágica, evitando ou se livrando da infecção por covid-19.
O problema chegou a tal ponto que uma união de 6 entidades médicas dos Estados Unidos, ligadas às áreas endocrinológica e ortopédica, se pronunciaram declarando não concordar com o uso da vitamina no combate ao vírus. Os médicos ainda indicaram o habitual banho de sol de 15 a 30 minutos diários para obter vitamina D, dica clássica da área, mas que sempre convém reforçar.
Além da covid-19, ainda há vários supostos benefícios da vitamina, que parece virar uma poção mágica: os relatos incluem alívio ou prevenção da bronquite, câncer e autismo, por exemplo. Tudo isso, é claro, sem qualquer comprovação científica, o que não impede o compartilhamento em redes sociais. O uso aumentou durante a pandemia, mas, mesmo com o seu fim, segue em alta.
Casos cautelares
Usos excessivos de vitamina D acabam virando histórias cautelares contadas por médicos, cujos relatos incluem pacientes que chegaram ao consultório com taxas do hormônio acima de 200 — sendo que o normal vai de 20 a 30 unidades de medida — sem ao mesmo saber que faziam suplementação, já absorviam a substância através de outras pílulas diversas.
Muitas vezes, o paciente nem sequer busca uma cura milagrosa, mas deseja apenas mais saúde e uma rotina mais natural, o que também leva ao consumo do suplemento — um “escape” de medicamentos tradicionais. Poucas pessoas, no entanto, realmente precisam de suplementação.
Uma “overdose” de vitamina D leva à hipercalcemia, ou seja, excesso de cálcio no sangue, o que pode causar náusea, vômitos, perda de peso e urinação frequente demais, podendo levar, em casos mais graves, à insuficiência renal e confusão mental.
Quando há excesso de vitamina D no corpo, o paciente deve até mesmo passar um tempo evitando cálcio e evitar o leite de qualquer jeito. Há quem acabe ingerindo 50 vezes mais do que o recomendado, prejudicando muito o corpo. No final das contas, a deficiência da substância é ruim e pode causar enfraquecimento ósseo crônico, mas demora anos para se instalar; já um exagero, que leva à intoxicação, pode ocorrer em apenas alguns meses.
Fonte: O Globo