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Como os humanos sobreviveram por tanto tempo sem vacinas?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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twenty20photos/envato
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Volta e meia, algum internauta leva uma questão aos cientistas de plantão na web — como os seres humanos sobreviveram por tanto tempo sem vacinas? Muitas vezes, a pergunta é feita com o viés de que, por milhares de anos, nossa espécie conseguiu se virar muito bem, obrigado, sem os imunizantes, questionando sua necessidade. A eficácia das vacinas leva a uma questão retórica interessante: a falácia do viés de sobrevivência.

Os Homo sapiens realmente conseguiram levar a vida sem vacinas, caso contrário, não estaríamos realizando a presente comunicação, mas isso não quer dizer que muitas outras pessoas não tenham morrido pela falta delas. Grande parte sem passar à frente seus genes aos descendentes. O mesmo pode ser dito para todo tipo de remédio e tratamento, como os antibióticos, anti-inflamatórios, quimioterapias e afins.

O viés de sobrevivência

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Você já deve ter ouvido sobre o viés de sobrevivência em alguma conversa por aí. “Minha avó fumou todos os dias desde os 19 anos de idade, viveu até os 100 e não teve nenhum problema de pulmão”. O tabagismo, dessa forma, parece menos perigoso porque há uma pessoa no grupo de sobreviventes, fazendo parecer que a atividade não é potencialmente mortal.

Em outras palavras, o problema oculto no viés da sobrevivência é que você não costuma ouvir histórias de pessoas que morreram de problemas relacionados ao fumo, diminuindo a percepção de seu malefício.

Um exemplo interessante aconteceu na 2ª Guerra Mundial, como notado pelo estatístico Abraham Wald. Os aviões que sobreviviam a tiroteios voltavam à base, e os engenheiros que os examinavam pensavam que as regiões perfuradas por balas eram as mais frágeis dos aeroplanos, passando a reforçar sua estrutura. Isso, no entanto, não levou ao retorno de mais pilotos com vida — o que estaria acontecendo, então?

Wald lembrou que os aviões que não retornavam não podiam ter suas perfurações por bala analisadas, e, é claro, provavelmente haviam sido alvejados em áreas mais mortais. O viés de sobrevivência levou a uma conclusão errada com base apenas nos veículos sobreviventes, e isso se provou correto quando as regiões não atingidas nos aeroplanos que retornavam foram reforçadas e mais deles passaram a sobreviver a tiroteios.

Isso também ocorre com as doenças. Os humanos, como espécie, sobreviveram a todas as patologias enfrentadas até agora, mas não sem muitas mortes. A Peste Negra e a Gripe Espanhola, por exemplo, foram devastadoras — a primeira doença chegou a eliminar até ⅓ de toda a população da Europa, chegando até a ser usada como arma biológica na Crimeia, onde mongóis catapultaram mortos pela condição para dentro de fortes.

A Peste Negra, também chamada de peste bubônica, voltou em pequenos surtos, mas hoje conseguimos controlá-la, inclusive com vacinas. Outra doença que matava humanos aos montes era a varíola — até 30% dos infectados acabava indo a óbito. Um dos únicos tratamentos era injetar pus das pústulas dos infectados em pessoas saudáveis, mas com pouca garantia de sucesso.

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Em 1796, Edward Jenner descobriu que leiteiras infectadas por varíola bovina ficavam imunes à varíola comum, tendo então a ideia para a primeira vacina do mundo — com o imunizante, conseguimos vencer a doença, que foi declarada erradicada pela Organização Mundial da Saúde em 1979.

Os humanos conseguiriam sobreviver sem vacinas? Provavelmente sim. Mas a custo de milhões e milhões de mortes a mais.

Fonte: IFLScience