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Como é feito o transplante de órgãos entre espécies diferentes

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Dezembro de 2023 às 16h00

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Ckstockphoto/Envato Elements
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Os transplantes de órgãos entre espécies, oficialmente conhecidos como xenotransplantes, parecem um daqueles conceitos limitados ao universo da ficção científica. Só que, na verdade, eles já são realidade desde o século XVII (1601-1700), mesmo que tenham sido realizados em caráter experimental. Nos últimos três anos, foi registrado um salto tecnológico e os primeiros transplantes de rins e coração de porcos geneticamente modificados para humanos foram feitos.

Apesar disso, hoje, a forma mais aceita e segura de uma pessoa receber um transplante de órgão, é entrar na fila de espera por transplantes — no Brasil, todo o processo é coordenado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Quando for identificado um doador compatível, a cirurgia poderá, então, acontecer. 

Como não é possível prever o tempo de espera e nem há garantias de que o órgão adequado será encontrado, cientistas pensam em como facilitar o processo, salvando mais vidas humanas. É neste momento que os xenotransplantes ganham força, especialmente neste século, como uma alternativa sob medida. 

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Por exemplo, porcos são especialmente criados para estudos envolvendo este tipo de procedimento. Além da seleção genética dos animais, os órgãos que serão transplantados também passam por edição genética, o que reduz o risco de rejeição. No entanto, as técnicas ainda não estão 100% prontas.

O que é xenotransplante?

"Xenotransplante é qualquer procedimento que envolva o transplante, implantação ou infusão em um receptor humano de células, tecidos ou órgãos vivos de origem animal não humana", aponta a agência Food and Drug Administration (FDA), nos EUA, como uma das possíveis definições.

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Segundo a agência, “o desenvolvimento da xenotransplantação é, em parte, impulsionado pelo fato de a procura de órgãos humanos para transplante clínico exceder largamente a oferta”. Em outras palavras, o problema são as longas e incertas filas de transplante de órgãos 

Questões éticas

"Embora os potenciais benefícios sejam consideráveis, a utilização do xenotransplante levanta preocupações relativamente à potencial infecção dos receptores com agentes infecciosos conhecidos ou não conhecidos”, lembra a FDA sobre os riscos.

Outro ponto fundamental é a questão ética, que deve englobar tanto as pessoas que serão transplantadas quanto os animais. Pensando na ética animal, é preciso que haja uma criação adequada, respeitando as condições de vida, sem sofrimento.

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Agora, em relação ao receptor humano, ele deve estar plenamente ciente de que os xenotransplantes são procedimentos experimentais e que envolvem o uso de órgãos animais — isso pode ser uma questão, em especial, para veganos e pessoas de religiões específicas. 

História dos xenotransplantes

Voltando para o passado, um dos primeiros relatos científicos dos xenotransplantes no Ocidente é do médico francês Jean Baptiste Denis. No século XVII, ele transfundiu sangue de animais para humanos, buscando tratar enfermidades. 

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A partir do século XIX (1801-1900), os enxertos de pele com tecidos provenientes de animais começaram a ser realizados, algo que é feito até hoje em casos de queimaduras, por exemplo. Naquele momento, os sapos eram os animais “favoritos”, já que ainda não conheciam a pele de tilápia.

Na década de 1920, chegou-se a sugerir que o transplante de partes de testículo de chimpanzés poderia devolver o “entusiasmo pela vida” em homens idosos. A ideia para lá de polêmica foi colocada em prática, mas há incertezas sobre os resultados.

Nos anos 1960, o cirurgião norte-americano Keith Reemtsma transplantou, pela primeira vez, rins de chimpanzés para humanos. Das 13 cirurgias, um paciente transplantado sobreviveu por alguns meses — algo fascinante para o campo dos xenotransplantes. 

Na mesma década, foi realizado o primeiro transplante de um coração de chimpanzé para um humano, feito pelo médico norte-americano James Hardy. E o cirurgião Thomas Starzl, dos EUA, fez o primeiro transplante de fígado de chimpanzé para humanos.

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Chimpanzés ou porcos?

No decorrer dos anos, ocorreu uma mudança em qual é a espécie favorita de animais para os testes envolvendo os xenotransplantes, indo dos chimpanzés e outros primatas não humanos para os atuais porcos. 

Além da alta semelhança anatômica — por incrível que pareça, o coração de um porco é bastante parecido com o de um humano —, a mudança é explicada pelo menor risco de rejeição imunológica. Quase todos os transplantes do último século fracassaram.

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"Os porcos geneticamente modificados oferecem esperança de um fornecimento ilimitado de órgãos e células para aqueles [humanos] que necessitam de um transplante", afirma David K. C. Cooper, pesquisador da Universidade de Pittsburgh, em artigo para a revista Proceedings (Baylor University Medical Center).

Marcos no transplante de órgãos

Na história recente, os três últimos anos representam uma revolução na área dos xenotransplantes. Tudo começa, em 2021, quando cientistas da Universidade de Nova York (NYU) realizaram um transplante de rim de um porco geneticamente modificado para um humano com morte cerebral, sem detectar problemas de rejeição.

Entre os transplantes de rins — o órgão mais buscado por pessoas na fila de espera no Brasil —, outros dois estudos recentes também trouxeram avanços: 

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Transplantes de coração

Em 2022, os cirurgiões da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland realizaram, pela primeira vez no mundo, um transplante de coração de porco editado geneticamente para um ser humano vivo. O paciente David Bennett, de 57 anos, sobreviveu por mais de 2 meses após a intervenção.

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Neste ano, o segundo transplante do tipo foi feito pela mesma equipe médica. Desta vez, o paciente Lawrence Faucette, de 58 anos, teve uma sobrevida de quase seis semanas

Aqui, vale pontuar que tanto Bennett quanto Faucette eram pacientes terminais e não estavam aptos para os transplantes convencionais, de humanos para humanos.

Edição genética

Antes de todos esses procedimentos, as equipes médicas buscam reduzir a rejeição, recorrendo a diferentes estratégias de edição genética. De forma simples, são eliminados determinados genes associados aos suínos e adicionados outros relacionados com os humanos. Em paralelo, os pacientes recebem altas doses de remédios imunossupressores.

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Agora, mais avanços nesta área devem ocorrer com a liberação de mais ensaios clínicos e experimentos, envolvendo pacientes com poucas ou nenhuma opção de tratamento convencional. Isso, no futuro, poderá resolver o problema das longas filas de transplante de órgãos.

Fonte: FDA e Proceedings