Macaco vive por 2 anos com rins de porco
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Pela primeira vez, um macaco sobreviveu com rins geneticamente modificados de porco por mais de dois anos — foram exatos 758 dias. O bem-sucedido estudo pré-clínico foi descrito em artigo publicado na revista científica Nature e já é considerado um marco na área de transplantes de órgãos entre espécies.
- Teste com transplante de rins de porco para humano foi bem-sucedido
- Realizado 2º transplante de coração de porco para humano
O procedimento histórico pelo tempo de sobrevivência do animal transplantado foi liderado por pesquisadores da empresa de biotecnologia eGenesis e da Harvard Medical School, ambas localizadas nos Estados Unidos.
A partir de agora, a empresa trabalhará para iniciar testes com xenotransplantes de rins em humanos, o que poderá, um dia, zerar as filas de espera por um transplante de órgão. No Brasil, onde há o maior sistema público de transplantes do mundo, 37,5 mil pessoas aguardam por novos rins nesta quarta-feira (11).
Transplante de rins entre espécies
O experimento envolveu 21 macacos que tiveram os seus rins removidos e passaram por um transplante, com algumas particularidades. Se os pesquisadores simplesmente “pegassem” o rim de um porco e colocasse na outra espécie, isso não funcionaria. Então, as edições genéticas, usando a tesoura genética CRISPR, foram comuns em todos os experimentos.
A questão é que, segundo os autores, os macacos transplantados sobreviveram apenas 24 dias quando os rins foram editados para desativar exclusivamente três genes suínos que desencadeiam uma forte rejeição ao novo órgão.
Agora, a média de sobrevivência aumentava significativamente se, além desse desligamento dos genes suínos, fossem inseridos sete transgenes humanos que melhoram a aceitação. Além disso, também ocorreu a inativação dos retrovírus endógenos no genoma suíno. Neste novo cenário, o tempo médio de vida era de 176 dias, com um espécime ultrapassando os dois anos.
Marco na área dos xenotransplantes
Para o diretor-executivo da eGenesis, Michael Curtis, o feito é um “marco extraordinário” na área dos xenotransplantes, já que possibilitará, um dia, “melhores resultados para inúmeros indivíduos [humanos] que necessitam de transplantes de órgãos”.
Com base nesses dados, a equipe pretende dar entrada em um pedido na agência Food and Drug Administration (FDA) para iniciar os primeiros testes com transplantes de rins suínos em humanos.
Órgãos de porcos em humanos
Na ainda breve história dos xenotransplantes envolvendo humanos, no ano passado, o primeiro paciente do mundo recebeu um coração de porco editado geneticamente. Poucos meses depois, ele faleceu. Mais recentemente, em setembro deste ano, o segundo transplante do tipo foi realizado em um homem de 58 anos, que tinha uma doença cardíaca em estágio terminal.
Até o momento, foi realizado um único transplante de rins suínos editados para um paciente humano, mas este já tinha o diagnóstico de morte cerebral confirmado quando recebeu a doação. Os rins permaneceram em funcionamento por 30 dias até o experimento ser concluído, abrindo precedentes para mais pesquisas do tipo.