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Como é feito o transplante de coração?

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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No domingo (27), o apresentador de TV Fausto Silva, 73, passou por uma cirurgia de transplante do coração. Desde o começo do mês, Faustão tratava um quadro grave de insuficiência cardíaca — o órgão não conseguia mais bombear o sangue adequadamente — era preciso realizar sessões de diálise e ele estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

No momento, outras 379 pessoas aguardam por um transplante de coração no Brasil. Em comum, todos os pacientes, independentemente de serem provenientes da rede pública ou privada, são inscritos na lista de espera unificada e informatizada, organizada pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT).

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Nos primeiros oito meses deste ano, já foram realizados 261 transplantes de coração no Brasil. Considerando apenas as cirurgias do primeiro semestre (206), o Ministério da Saúde aponta para um aumento de 16% em relação ao mesmo período do ano passado. Aqui, vale lembrar que, quanto mais doações, mais rápido a fila de espera avança, o que salva inúmeras vidas.

Como é a fila de espera por um transplante?

A lista de espera por transplantes de órgãos no Brasil é única, independente da existência ou não de plano de saúde, e quase todas as cirurgias são feitas com apoio do SUS.

Como toda lista, a de espera por órgãos também funciona por ordem cronológica, mas outros aspectos podem alterar a posição de um indivíduo, como a gravidade do caso — pessoas internadas e com maior risco de morte têm prioridade.

Outro fator importante é a questão da compatibilidade. O doador e o transplantado precisam ter altura e peso aproximados (compatibilidade antropométrica), além da compatibilidade sanguínea. É fundamental os dois estarem próximos geograficamente.

Pensando em facilitar a compatibilidade, pesquisadores britânicos testam uma nova técnica que muda o tipo sanguíneo de um órgão antes do transplante, através de uma máquina de perfusão normotérmica e enzimas especiais. Hoje, a tecnologia ainda não está pronta para o uso da população.

Tempo de isquemia do coração

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A questão geográfica é bastante importante quando se considera a doação de órgãos, já que cada um tem um tempo limite que pode permanecer fora do corpo. Este período é conhecido por tempo de isquemia e, no caso do coração, é de apenas 4 horas. Por isso, são priorizados pacientes próximos geograficamente e, mesmo assim, em alguns casos, o transporte precisa ser aéreo.

Por que Faustão recebeu o coração em tão pouco tempo?

No caso do Faustão, o Ministério da Saúde explica que o paciente foi priorizado na fila “em razão de seu estado muito grave de saúde”. Inclusive, a Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo informou que o transplante só foi realizado, após a equipe médica do paciente — também priorizado — em primeiro lugar na fila ter recusado a doação por questões de compatibilidade. Entre os critérios para a cirurgia ser bem-sucedida, é importante a compatibilidade sanguínea. No caso do apresentar, era fundamental ser do grupo B.

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Vale observar que, na última semana, entre 19 e 26 de agosto, o Brasil realizou 13 transplantes de coração, sendo que 7 foram feitos no estado de São Paulo — historicamente a região é a que mais concentra doações e cirurgias de transplante.

Quanto custa o transplante de coração no SUS?

Dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), a cirurgia de transplante de coração custa, atualmente, 37 mil reais, segundo dados do Sistema de Gerenciamento da Tabela de Procedimentos, Medicamentos e OPM do SUS (SIGTAP). Neste valor, estão incluídas as despesas do hospital (20,8 mil reais) e os gastos com a equipe de profissionais de saúde (6,2 mil reais), como médicos, anestesistas e enfermeiros.

Como é feita a cirurgia de transplante do coração?

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Antes de qualquer cirurgia, é preciso localizar um coração compatível para o transplante — o que pode demorar mais ou menos em razão da urgência do caso. A partir deste momento, o procedimento começa com a anestesia geral do paciente no centro cirúrgico. Toda a urina é esvaziada da bexiga, através de um dreno.

Em seguida, é feita uma incisão no peito do paciente, podendo ser antecipada pela raspagem de pelos na região. Então, o coração antigo é desconectado dos vasos sanguíneos e removido. Para manter o indivíduo vivo, o corpo é ligado a uma máquina de circulação extracorpórea, também conhecida como coração artificial, já que mantém o fluxo sanguíneo do organismo. Também é usado um ventilador pulmonar para manter a respiração.

Paralelamente, a equipe de cirurgiões liga o novo coração aos vasos sanguíneos do paciente e, para ativar o órgão doado, pequenos estímulos elétricos (choques) são aplicados. Quando o processo é concluído, os médicos desativam a máquina de circulação extracorpórea. Por fim, a incisão no peito é fechada, concluindo a cirurgia, que pode durar de 2h30 até 12h.

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Passado o momento da cirurgia, o paciente é levado para a UTI, onde deve permanecer por cerca de 15 dias. Isso porque ainda há risco de rejeição, mesmo com os remédios imunossupressores, e de possíveis infecções bacterianas. Na verdade, uma ampla gama de medicações é prescrita preventivamente, além de analgésicos para aliviar a dor.

Complicações de um transplante de coração

Embora a cirurgia em si seja um dos grandes riscos, não é o único problema envolvendo esse tipo de procedimento complexo. Por exemplo, o sistema imunológico pode não reconhecer o coração transplantado (rejeição) ou ainda o novo órgão pode não funcionar adequadamente (disfunção primária do enxerto).

Em alguns casos, as artérias que irrigam o coração podem ficar grossas e estreitas demais, danificando o músculo cardíaco (vasculopatia do aloenxerto coronário). As infecções e sangramentos também são riscos recorrentes após o transplante.

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A boa notícia é que a maioria desses problemas é tratável, ainda mais quando são rapidamente diagnosticados. Dessa forma, o risco do novo órgão não funcionar adequadamente tem caído ano após ano.

No Brasil, as cirurgias do tipo são feitas desde maio de 1968, ou seja, há mais de 55 anos. Inclusive, o primeiro procedimento nacional do tipo foi feito pela equipe do médico Euryclides de Jesus Zerbini, no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HC-USP).

Fonte: Ministério da Saúde e Universidade Johns Hopkins