Como as vacinas de mRNA podem salvar milhões de vidas nesta década?
Por Fidel Forato • Editado por Luciana Zaramela |
Após o sucesso das vacinas contra a covid-19, uma nova geração de vacinas com RNA mensageiro (mRNA) é desenvolvida por pesquisadores em todo o mundo. Se o nível de investimento se mantiver e os resultados dos testes continuarem a ser promissores, milhões de pessoas poderão ser salvas pelos imunizantes que vão proteger contra o câncer, doenças autoimunes, vírus e cardiopatias (problemas do coração) antes de 2030.
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A expectativa é bastante otimista, já que as primeiras doses das vacinas de mRNA poderão chegar até o final desta década. Inclusive, a visão é compartilhada pelos dois principais players responsáveis pela tecnologia do mRNA: a Moderna e a BioNTech. Ambas lançaram vacinas contra a covid-19, sendo a da BioNTech/Pfizer a mais popular no Brasil.
Para além dos testes clínicos e das questões envolvendo a segurança dos compostos, outro desafio que será determinante no sucesso das vacinas de mRNA é a questão financeira. As fórmulas somente salvarão milhões de vidas, se forem subsidiadas pelos governos e órgãos internacionais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). Caso contrário, estarão restritas apenas a alguns indivíduos.
Como funciona uma vacina de mRNA
A aparente vantagem das vacinas de mRNA é que o modelo de funcionamento pode ser replicado para qualquer agente infeccioso, incluindo vírus e bactérias, ou mesmo tumores, de forma relativamente simples. Em nenhum caso, é preciso cultivar vírus perigosos em laboratório, por exemplo.
Para cada doença, os cientistas precisam identificar um fragmento (proteína) presente exclusivamente naquele patógeno, não encontrado em nenhuma célula saudável. A partir daí, a ideia é que a vacina instrua o organismo a produzir essas proteínas, através do código genético (RNA) inserido. De forma bem resumida, o imunizante é uma receita.
Após a proteína ser processada dentro do corpo e exposta ao sistema imunológico, as células de defesa vão considerar todos os patógenos com aquela proteína (marca) um inimigo a ser combatido. Com isso, cria-se uma imunidade ou ainda se estimula uma defesa ativa contra um agente perigoso ao organismo.
Qual a diferença do RNA para o RNA?
Em termos práticos, a representação mais comum do DNA envolve dois filamentos (fitas) de nucleotídeos em espiral. Enquanto isso, o RNA é composto por um único filamento. Quanto às funções, o DNA armazena material genético e o RNA é usado na síntese de proteínas, como propõem os cientistas. Embora seja um meme, os cachos da Daenerys Targaryen, a Mãe dos Dragões, em Game of Thrones, exemplificam bem a questão estética, como podemos ver a seguir:
Vacina da Moderna contra câncer
Fora da covid-19, o campo mais avançado de pesquisas com mRNA é o das vacinas contra o câncer. Por exemplo, a Moderna está na terceira e última fase de testes clínicos do imunizante oncológico mRNA-4157/V940, que poderá ser usado contra o câncer de pele (melanoma) reincidente. O composto recebeu o selo de "terapia inovadora" nos EUA, o que deve acelerar o processo de autorização de uso.
“Teremos essa vacina [contra o câncer]. Ela será altamente eficaz e salvará muitas centenas de milhares, senão milhões de vidas”, afirma Paul Burton, diretor médico da Moderna, para o jornal The Guardian. Além do melanoma, “seremos capazes de oferecer vacinas personalizadas contra vários tipos diferentes de tumores para pessoas em todo o mundo”, acrescenta. Este caminho será desbloqueado, quando a primeira vacina do tipo for oficialmente aprovada.
Imunizantes vão salvar milhões de vidas em 2030
No entanto, os cientistas não planejam quebrar apenas a barreira da luta contra o câncer, o objetivo da tecnologia de mRNA é reformular a maneira com a qual o organismo humano encara a maioria das doenças, indo das condições autoimunes até a proteção contra o vírus sincicial respiratório (VSR).
Para Burton, a ideia do mRNA “pode ser aplicada a todos os tipos de áreas de doença”. Considerando apenas os estudos da Moderna, são desenvolvidas soluções contra doenças infecciosas, cardiovasculares, autoimunes e cânceres. Por enquanto, todos os dados preliminares são “muito promissores”, aumentando o otimismo em relação aos benefícios da tecnologia para o futuro da humanidade.
Fonte: The Guardian