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Illuminati | Saiba como a equipe supersecreta revitalizou o heroísmo na Marvel

Por| 29 de Maio de 2022 às 11h10

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Se nosso mundo realmente tivesse grupos compostos por seres superpoderosos, como os chamados “mocinhos” reuniriam seus líderes para discutir as ameaças? Se a Terra possuísse criaturas com potencial de se transformar em perigos cósmicos para a própria existência, os “chefes” de cada nação ou comunidade se juntariam para tentar unir forças em ações proativas, não? É mais ou menos essa a ideia da sociedade secreta da Marvel, chamada de Illuminati.

Quem lê os quadrinhos da Marvel há pelo menos dez anos, já conhece o grupo, que foi primordial para o soft reboot causado pelas Guerras Secretas de 2015. E a equipe ganhou ainda mais popularidade depois de uma versão aparecer recentemente no filme Doutor Estranho no Multiverso da Loucura.

Mas quem realmente são os Illuminati? Como eles surgiram, o que fizeram, quais suais intenções e por que a narrativa guiada por essa sociedade secreta foi tão importante na revitalização do conceito de heroísmo na Marvel na virada dos anos 2010?

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Vem comigo que explico essa trajetória e como isso deve ser visto no Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês) daqui para frente. Mas, antes de mais nada, é preciso contextualizar a origem dos Illuminati e de que maneira eles se tornaram uma peça-chave para o reboot que a Marvel Comics estava precisando nos anos 2010.

O caminho para o Illuminati

No começo dos anos 2000, a Marvel tentava se recuperar do pedido de falência e de fracassos de vendas com toda sua linha de heróis nos anos 1990. A exceção eram os X-Men, que já mostravam sinal de desgaste e estavam em decadência. A saída foi recuperar os Vingadores como franquia número um da editora.

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Enquanto começava a fazer isso, a Marvel lançava a linha Ultimate, que acontecia em uma Terra alternativa, e tentava trazer atualizações de seus personagens clássicos em um “mundo laboratório”. As abordagens eram mais extremas e realistas, o que acabou agradando o público, cansado de um conceito de heroísmo desatualizado, já capengando há anos por conta de desconstruções como as vistas em Watchmen e Batman - O Cavaleiro das Trevas.

Com o Homem-Aranha Miles Morales e a versão dos Vingadores chamada de Supremos, lançados no começo dos anos 2000, a Casa das Ideias começou a compreender melhor que o maior charme de sua linha editorial é o fato de que, quanto mais falíveis e atualizados com o momento do mundo real, mais os leitores se divertem e se veem nesses “humanos querendo ser deuses”.

“O Capitão América nunca matou? Por que ele não muda de patente, já que é tão incrível assim?” Perguntas como essas começaram a ser respondidas na linha Ultimate: sim, Steve Rogers matou muito e mata quando necessário, ele é um soldado, oras; e só não mudou de patente porque, simplesmente, não quer, pois Steve Rogers deixou de responder a hierarquias do exército de país há muito tempo.

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Essa pegada fez muito sucesso, e a editora passou a investir ainda mais nisso: veja bem, nas melhores histórias marvetes das duas últimas décadas, em grande parte das tramas vemos os próprios heróis lutando entre si ou tentando vencer suas limitações mundanas.

Os roteiristas Brian Michael Bendis e Mark Millar sabiam bem como brincar com dinâmicas de equipes problemáticas, com diálogos e sacadas espertas. Em paralelo a isso, Kevin Feige já mexia os pauzinhos nos bastidores para criar o Marvel Studios — e Feige sempre teve contato com os criadores da Marvel Comics.

Assim, entre 2002 e 2005, a Marvel Comics planejou uma reformulação no seu conceito de heroísmo, que precisava se reconectar com os leitores antigos e dialogar com a nova audiência. As “revisões”, então, foram planejadas para funcionar de maneira gradual, com os principais eventos de cada temporada sendo usados para isso.

Contudo, as sagas retcon do passado e a ideia de um reboot mais amplo já tinha falhado em anos recentes, principalmente com Heróis Renascem, no final dos anos 1990. Além disso, havia uma briga interna sobre o que fazer com os X-Men e o Quarteto Fantástico, devido aos direitos autorais que estavam com a Fox.

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A saída da Marvel nesta época foi começar a usar seus próprios problemas de cronologia ou caracterizações ultrapassadas como catalisadores dos argumentos das histórias. E duas sagas acenderam as chamas das mudanças em meados dos anos 2000: Guerra Civil, em 2006; e Invasão Secreta, de 2008, quando nasceu o Illuminati.

Illuminati nasceu para organizar os “cantinhos” e criar novos conflitos

Depois de Guerra Civil, vimos como o Homem de Ferro poderia se tornar um vilão; e de que maneira os heróis poderiam se perder em suas vaidades, sem se importarem com o foco de suas ações — que deveria ser o de salvar a humanidade, certo? Pois bem, com a saga de 2006, acompanhamos uma mudança nas motivações dos personagens, que passaram a ter posicionamentos políticos e questionamentos que os tornaram mais palpáveis para os tempos modernos.

Já em Invasão Secreta, a Marvel brincou com o mote “Em quem você confia?”, trazendo a paranoia para as páginas de suas HQs, pois qualquer personagem poderia ser um alienígena Skrull disfarçado entre nós. Isso explicou incongruências na trajetória de vários personagens e deixou os relacionamentos entre os supergrupos em discussão.

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As desavenças e proximidade entre os heróis, por exemplo, tornaram-se cada vez mais importantes para a atuação em equipe, seus confrontos de ideias. E a desunião, assim como falhas que o lado humano deles se tornaram peças-chave nas vitórias e derrotas contra os inimigos e diante de seus próprios ideais junto à humanidade.

No mundo real, o termo “Illuminati” é citado há décadas como supostas sociedades secretas de alta potência que, em muitas teorias de conspiração populares, manipulam aspectos da sociedade global nos bastidores. Em 2005, a Marvel introduziu o Illuminati em New Avengers #7 com uma função semelhante, levando em consideração o contexto citado acima.

Inicialmente eles apareceram para definir e organizar melhor a geopolítica de seus “cantinhos de potência” da editora. Tony Stark, que sempre pensa de forma futurista e proativa, reuniu o grupo pela primeira vez após a Guerra Kree-Skrull, história clássica publicada nos anos 1970 e que abriu os conflitos cósmicos e ampliou as interações alienígenas com os heróis da Marvel.

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Stark convocou o Doutor Estranho, representante dos heróis místicos e sobrenaturais; e o Senhor Fantástico, líder dos arqueólogos do desconhecido, o Quarteto Fantástico. Já o Professor Xavier era a voz mutante do grupo e Namor a referência do reino submarino de Atlântida. Para completar, Raio Negro marcava presença pelos Inumanos — o Pantera Negra aderiu posteriormente.

A história de apresentação do grupo foi para lidar com o Sentinela, herói extremamente poderoso e instável que havia sido apagado da memória de todos do Universo Marvel e estava voltando à ativa, perdido no meio dos conflitos em andamento na época. Mas os Illuminati começaram a ter mais importância, influenciando o cânone e mudando o conceito de heroísmo na Casa das Ideias a partir de New Avengers: Illuminati, minissérie lançada em cinco edições entre 2006 e 2007.

Illuminati mostrou as consequências das falhas dos heróis

O aspecto mais interessante dos Illuminati é trazer à tona o lado cru, sombrio, frio e até cruel dos heróis. Além de os deixar mais próximos dos leitores, isso resgatou o núcleo humano da Marvel em novos tempos. Foi uma das grandes sacadas para que o conceito de heroísmo da Casa das Ideias fosse reformulado.

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A história que realmente apresentou os Illuminati, liderados por Tony Stark, mostrou a equipe atacando os Skrulls logo após a Guerra Kree-Skrull. A missão foi um fracasso. Todos os integrantes foram capturados, o que permitiu que os alienígenas estudassem a fundo o corpo humano. E foi justamente isso que deu aos metamorfos a capacidade de se infiltrar com tanta eficiência entre os terráqueos — até mesmo os sentidos apurados de Wolverine ou telepatas se confundiam na detecção. E isso resultou na Invasão Secreta.

Como dito, eles tentaram “resolver” o lado sombrio do Sentinela, e só estragaram tudo, deixando o superser à mercê de Norman Osborn. E isso contribuiu para a destruição de Asgard. Em seguida, os Illuminati mandaram o Hulk para outro planeta, o que resultou no Gigante Esmeralda voltando para a Terra tentando destruir todos os integrantes da equipe na saga Guerra Mundial Hulk.

Reed Richards, ao lado dos Illuminati, reuniu as Joias do Infinito, na tentativa de destruí-las. Mas causou a ira do então aliado Vigia, o que obrigou os integrantes a esconder as gemas. Mais tarde, Thanos conseguiu reavê-las.

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Como dá para notar, nenhuma trajetória na Marvel mostrou tanto como os heróis podem se tornar quase vilões. Os Illuminati passaram a ser marcados como os superseres que fazem “o trabalho sujo” e tomam decisões que, embora sejam questionáveis, eram as que eles podiam tomar no momento. E isso escalou na fase de Jonathan Hickman.

A revolução do heroísmo da Marvel com os Illuminati de Jonathan Hickman

Quando Jonathan Hickman assumiu os Vingadores em 2012, o Marvel Studios já estava bombando e a Marvel Comics tinha a missão de realizar um reboot mais profundo. Isso porque os X-Men e o Quarteto Fantástico tinham que ficar em segundo plano naquele momento, sob ordens de Ike Perlmutter, que não aceitava a inflexibilidade da Fox em ceder ou negociar os direitos dos personagens adquiridos pelo estúdio no final dos anos 1990.

Além disso, havia o plano de sincronizar a caracterização dos personagens com o que vinha sendo lançado nos cinemas. E mais: a Marvel já tinha ideias relacionadas à diversidade e empoderamento feminino desde o começo dos anos 2000, elevando personagens como Jessica Jones e Luke Cage. Na virada dos anos 2010, a Casa das Ideias queria ampliar isso por meio do legado de seus ícones.

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Hickman, então, tinha carta-branca para destruir tudo. Ele inventou as Incursões, que são planetas do Multiverso se colidindo — isso apareceu em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, o que indica que as Guerras Secretas estão a caminho do MCU. Assim, o papel dos Illuminati se tornou ainda mais obscuro: eles tiveram que assassinar milhões de pessoas e destruir vários mundos que ameaçavam a Terra principal da Marvel, a 616.

E, no processo, os Illuminati exibiram requintes de crueldade: apagaram a mente do Capitão América, sequestraram e torturaram a personagem Cisne Negro, fracassaram diante de Thanos, Doutor Destino e Norman Osborn; e geraram até brigas internas que acabaram em tragédias, como no conflito entre Namor e Pantera Negra, que resultou em guerra e mortes em seus reinos.

Os Illuminati devolveram a humanidade aos heróis da Marvel

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Embora pareça que os Illuminati só façam cagada, na verdade eles tornaram os heróis muito mais verossímeis para os tempos atuais. O alcoolismo e a vaidade de Stark, a falta de tato do Capitão América, o orgulho de Thor, o egocentrismo do Doutor Estranho, a ética duvidosa do Professor Xavier, a intolerância de Namor, entre outras limitações, ajudaram a reformular o heroísmo na Marvel.

O lado falível é o que nos faz lembrar quem é que eles estão tentando salvar: pessoas como eles mesmo, com defeitos, humanas. E isso ajudou a promover o legado e a diversidade, já que outras perspectivas, culturas e etnias podem ajudar a resolver coisas que superpoderes não conseguem.

Os Illuminati que apareceram no MCU também tinham características parecidas: nem todos concordavam com a mesma decisão, e erraram em um episódio que custou a morte da equipe. Isso aconteceu com os Illuminati de outros mundos do Multiverso — e o da Terra-616 só sobreviveu porque aceitou o fardo de viver pensando até que ponto os vilões são os heróis da própria história.

Superar limitações, redimir erros e conviver com pecados faz parte da jornada do herói. E os Illuminati ajudaram a destacar vários “defeitos” em personagens e núcleos que precisavam de motivações pessoais mais palpáveis para se tornarem os superseres altruístas que um dia acreditaram ser em um passado mais inocente.

E como estão os Illuminati agora? Bem, eles custam a se reunir, já que, toda vez que isso acontece, há muitas decisões difíceis e custos altos a pagar. Talvez a próxima vez ocorra seja mesmo no MCU, nas Guerras Secretas das telonas.