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Vírus descoberto na costa do RJ recebe nome baseado em mitologia indígena

Por  • Editado por Luciana Zaramela | 

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NOAA Office of Ocean Exploration and Research
NOAA Office of Ocean Exploration and Research

O cientista brasileiro Alessandro Garritano, doutorando na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, descobriu novas criaturas no fundo do mar de Campos, no Rio de Janeiro, e teve a oportunidade de nomeá-las — são elas um vírus, uma arquea e uma bactéria, todas inéditas e, agora, com nome científico homenageando os tupinambás.

O pesquisador foca seu trabalho na fixação de carbono em ambientes sem luz, onde processos diferenciados são necessários. Em terra e nos mares rasos, as plantas fazem fotossíntese para transformar o dióxido de carbono, ou CO2, com a ajuda da luz solar, em energia, alimentando outras espécies. Mas… e onde é escuro?

Fixação de carbono no escurinho do mar

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Nas profundezas do mar, onde não há luz, corais e esponjas-do-mar ainda conseguem prosperar. Sem iluminação, o jeito é usar outros elementos, como substâncias químicas, para fixar carbono e conseguir a requisitada energia: um desses elementos é a amônia. Junto a uma equipe de sua universidade, Garritano estuda esponjas-do-mar, seres que já habitam a Terra há 600 milhões de anos.

Trabalhando na Bacia de Campos, a aproximadamente 300 km da costa do Rio, em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele coletou amostras da esponja Aphrocallistes beatrix a 700 metros de profundidade, ainda em 2020.

Com veículos operados remotamente (robõs ROVs), a equipe coletou amostras e algumas esponjas vivas, as transportando para o Aquário Marinho do Rio de Janeiro (AquaRio), em um ambiente que imita o habitat da espécie — água fria, entre 4 ºC e 8 ºC, e escuridão total.

Foi descoberto um interessante ciclo envolvendo quatro criaturas: a esponja A. beatrix e mais três comparsas. A espécie produz amônia, assim como os humanos produzem ureia no xixi, ou seja, o elemento é o “excremento” da criatura.

A amônia vai para a arquea (criatura unicelular, como as bactérias) Nitrosoabyssus spongiisocia, que fixa o carbono com a ajuda da substância, e, por sua vez, serve como alimento para corais e outros seres das profundezas. Algo importante sobre essa arquea é que ela produz a vitamina B12, que animais não conseguem sintetizar, já que sua produção vem a custo de muita energia.

É então que vem o vírus Nitrosopumivirus cobalaminus, que infecta as arqueas e faz com que elas liberem a vitamina B12, usada pelas esponjas-do-mar e pela bactéria Zeuxoniibacter abyssi.

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Essa interação fecha o ciclo, já que as esponjas, alimentadas, secretam a amônia usada pelas arqueas e assim sucessivamente. Como os três últimos seres, descobertos pela pesquisa, não possuíam nome científico, restou a Garritano a tarefa de nomear.

À BBC, o estudioso comenta que a maioria dos nomes científicos puxam nomes de origem grega ou latina, e buscou homenagear a cultura brasileira, mais especificamente, a indígena em sua oportunidade. Antes disso, calha lembrar das classificações biológicas: começamos por reino, vamos para filo (ou divisão), classe, ordem, família, gênero e espécie.

O ser humano, por exemplo, é do reino Animalia, filo Chordata, classe Mammalia, ordem Primata, família Hominidae, gênero Homo e espécie Homo sapiens. Garritano teve a chance de nomear não só a espécie, como também sua família e gênero, escolhendo Anhangaviridae para a família, Iaravirales para o gênero e Nitrosopumivirus cobalaminus para espécie.

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Anhangá é a deusa tupinambá do submundo e das profundezas, e Iara, deusa da água. Entender os processos de fixação de carbono é importante não só como curiosidade científica, mas faz parte da compreensão e combate ao acúmulo de CO2 na atmosfera, um dos principais problemas enfrentados pela humanidade atualmente.

Achando novas maneiras de fixá-lo nas profundezas, podemos, no futuro, conseguir armazenar carbono por lá, ajudando a natureza a completar seu ciclo e, de quebra, evitando o colapso climático — e garantindo nossa sobrevivência e de todo o meio ambiente no processo.

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Fonte: BBC