O Google vai perder o trono para ChatGPT e Bing?
Por Igor Almenara • Editado por Douglas Ciriaco |
O Google é visto há décadas como sinônimo de buscas na web, e a expressão "dar um Google" reforça essa posição. Porém, 2023 trouxe a popularização das IAs generativas e a pergunta: o Google está ameaçado?
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Durante o Google I/O deste ano, se falou de IA o tempo todo — e isso virou até motivo de piada: a Gigante das Pesquisas parecia desesperada em destacar o uso de modelos em todo o ecossistema, num grande esforço para alcançar os lançamentos da Microsoft.
Entretanto, esse é um assunto muito sério para a empresa, e ele não foi virou foco da noite para o dia: em publicação no blog Google Research de abril de 2023, a companhia afirma ver os modelos avançados como uma "tecnologia fundamental e transformacional" e há anos desenvolve ferramentas alimentadas por IA.
A internet está mudando
A busca na internet mudou e há vários motivos para isso. Desde 2022, por exemplo, o Google se atenta à ameaça das redes sociais aos métodos de busca tradicionais: o TikTok e o Instagram, mesmo que com ferramentas mais simplórias, são usados especialmente pelos mais jovens na hora de pesquisar por lugares, receitas e pessoas.
Na visão dos executivos da casa, isso se dá porque os usuários mais novos cresceram numa nova era da internet e são mais acostumados a ter respostas rápidas e visuais para os assuntos que procuram.
De certa forma, a popularização de chatbots como "sabe-tudo da internet" pode ser um sintoma dessa transformação. Os bots entregam respostas robustas sobre o conteúdo solicitado de forma rápida e consistente, parecido com o que um humano faria. Talvez seja essa a razão de o ChatGPT virar o 4° “buscador” mais usado no mundo (mesmo com conhecimento defasado) e o Bing Chat fazer o buscador da Microsoft ser mais usado do que nunca.
A gigante acordou?
Finalmente entrando na corrida, a gigante parece começar a reagir: todo o ecossistema Google vai ser recheado de ferramentas alimentadas por inteligência artificial, desde a busca ao app Fotos para celular.
O centro desse projeto é PaLM 2, um novo modelo de linguagem (LLM) avançado concorrente do GPT-4 da OpenAI. A tecnologia é o coração do Bard, terá suporte para mais de 100 idiomas, resultados multimodais (geração e reconhecimento de imagens, por exemplo) e presença ampla nos serviços da companhia.
No buscador, a inteligência artificial alimentará a "Experiência Generativa", uma ferramenta capaz de resumir conteúdo e colocar respostas no topo da tela de buscas. Com isso, o usuário deve encontrar a resposta que precisa logo de cara, de maneira natural, como numa conversa com outra pessoa
Isso tudo indica que o Google não só está atento às mudanças nos hábitos de consumo de conteúdo na internet como está disposto a entrar de cabeça nessa nova era tal qual a Microsoft.
Ao que parece, a empresa vai entregar uma solução intimamente integrada ao ecossistema em várias frentes de uma vez só, respingando IA em Gmail, Docs e até na Play Store.
Por que o Google demorou tanto?
No mesmo artigo do Google Research, a Gigante das Buscas reconhece que o potencial transformador de IAs exige responsabilidade não apenas em como ela avança na própria tecnologia, mas em como imagina quais invenções construir e como será o impacto dessas ferramentas no mundo. Basicamente, a empresa sabe que qualquer novidade pode gerar ondas na sociedade, por isso é necessário cautela.
A companhia parece ter consciência de que IAs generativas são imperfeitas e podem alucinar (apresentar respostas enganosas ou distorcidas) — o Bing Chat é prova disso. Divulgar informações enganosas, mesmo que alertando o usuário sobre o assunto, pode ser nocivo, então o Google indica ter alguma cautela nesse sentido.
“Vocês vão nos ver sendo ousados e lançando produtos, mas seremos muito responsáveis na maneira de fazer isso”, explicou recentemente o CEO Sundar Pichai.
É possível ainda que o Google esteja preocupado com questões legais, apesar de não ter comentado nada sobre isso publicamente. A empresa parece não querer lançar produtos importantes em regiões onde há riscos legais de banimento, como aconteceu com o ChatGPT em alguns países, e os freios legais talvez seja a razão pela qual Brasil e União Europeia ficaram de fora dos primeiros testes públicos com o Bard.
O Google está em declínio?
Atualmente, o Google ainda é visto como sinônimo de pesquisas e levantamentos reforçam essa teoria: segundo o site Statista, o Google controlava 85,53% do mercado de buscas em março de 2023, e o Bing, mesmo que visto com mais frequência na mídia, detinha apenas 8,23% do setor no mesmo período.
Os índices de interesse do Google Trends ressaltam essa diferença no próprio buscador: os termos “ChatGPT” e “Bing” não estão nem perto de superar a pesquisa por “Google”. Contudo, a liderança com sobras não impediu a subsidiária da Alphabet de mexer umas peças do próprio tabuleiro para acompanhar a onda do momento.
É impossível prever o desfecho dessa briga, mas é visível que o Google não quer deixar a concorrência ganhar espaço. A empresa parece trabalhar em ferramentas sólidas para atender as demandas dos usuários diante das transformações da internet ao mesmo tempo em que preserva o próprio legado como líder no setor de buscas.
Então, respondendo à questão que abre este bloco: Não, apesar da nítida sensação de que a empresa demorou para acompanhar os concorrentes na oferta de recursos de ponta envolvendo IA e buscas na web, o Google não está em declínio. E isso se prova tanto pelos números, com folgada liderança da companhia liderada por Sundar Pichai, quanto pelo futuro próximo: o Google I/O 2023 marca uma virada de chave, um momento ímpar no qual gigante mostrou ter várias cartas da manga para entrar de vez no jogo e conter qualquer arremedo de ameaçada dos principais rivais.
Se isso vai funcionar, só o tempo vai dizer. No futuro, é possível que o Google ainda seja conhecido como sinônimo de pesquisas na web lotada de IA, mas a plataforma pode ser totalmente diferente do que o mundo conhece hoje. De qualquer maneira, é fato que essa transformação leva anos para acontecer e provavelmente nós nem vamos perceber todas as mudanças.