O que sabemos sobre o lado oculto da Lua?
Por Daniele Cavalcante • Editado por Patricia Gnipper | •
Você deve saber que, aqui da Terra, vemos sempre o mesmo lado da Lua. Ela nunca revela para nós o seu "lado oculto" — que muitos chamam erroneamente de "lado escuro", mas que pode ser chamado de "lado afastado", "lado mais distante", e por aí vai. Não sabemos tanto sobre esse lado oposto da Lua, em comparação com o que conhecemos da face visível, mas a ciência vem fazendo descobertas importantes sobre essa região nos últimos tempos.
Por que a Lua tem um lado oculto?
A dança orbital entre a Lua e a Terra faz com que a gravidade dos dois corpos influencie seus movimentos de rotação. Como resultado, a rotação lunar em torno do próprio eixo é perfeitamente sincronizada com sua órbita ao redor da Terra.
Assim, nosso satélite natural completa uma volta em torno da Terra no mesmo intervalo de tempo em que realiza um giro em torno de seu eixo. Por isso, a mesma face da Lua está sempre virada para nós, enquanto a outra não pode ser vista daqui.
Isso não significa que o lado afastado da Lua seja escuro. A Lua leva 27,3 dias para completar uma órbita ao redor da Terra e, esse meio tempo — enquanto acontecem as fases lunares —, os dois hemisférios do nosso satélite natural são expostos aos raios solares, cada um de uma vez.
Quando estamos na fase da Lua nova, sua face voltada para nós fica completamente escura, pois não está recebendo a luz solar naquele momento. Enquanto isso, o lado afastado da Lua está totalmente iluminado pelo Sol.
Como é o lado afastado da Lua?
Hoje, a ciência já tem mapeada a superfície lunar por completo, incluindo seu lado oculto, graças a missões que levaram sondas orbitais e exploradores robóticos para lá.
A primeira foi a soviética Luna 3, em 1959, que nos forneceu as primeiras fotografias do lado afastado da Lua. Então, em 1965, a sonda também soviética Zond 3 transmitiu 25 fotos em boa qualidade daquele lado lunar, revelando crateras e formações até então desconhecidas.
Juntas, essas duas missões permitiram a descoberta de quatro mil características da paisagem lunar daquele lado. Em 1967, os soviéticos já haviam montado o primeiro mapa (quase) completo da Lua, mapeando 95% de sua superfície.
Enquanto isso, os Estados Unidos também faziam o próprio mapeamento do lado oculto da Lua. Entre 1966 e 1967, o país trabalhou no programa Lunar Orbiter, levando várias sondas orbitais para lá, que registraram toda a superfície lunar, incluindo o lado mais distante. Depois, astronautas das missões Apollo 8, Apollo 10 e Apollo 17 tiveram a oportunidade de ver, de pertinho, como é aquele outro lado da Lua, enquanto faziam sobrevoos por lá.
O tempo passou e a China entrou na jogada, com a missão Chang'e 4 levando um rover ao lado mais distante da Lua pela primeira vez na história. O veículo chamado Yutu-2 vem, desde 2019, fazendo grandes descobertas, como a origem do regolito do lado afastado da Lua. Ele também tirou incríveis fotos panorâmicas em alta resolução da região.
Apesar de todas essas missões, a verdade é que ainda não sabemos muito sobre o lado lunar que não aparece para a Terra — e existem alguns mistérios bastante estranhos no lado oculto da Lua, que é bem diferente do lado visível.
Um deles é a baixa quantidade de “mares” por lá. Estamos falando de planícies criadas por atividade vulcânica, causada por impactos de asteroides. Apenas cerca de 1% do lado afastado da Lua é coberto por esses mares, enquanto o lado visível tem 31% de sua superfície ocupada por essas formações. Ainda não se sabe o motivo de tal desigualdade, apesar de haver algumas hipóteses em debate.
Além disso, o lado afastado tem crateras de impacto mais visíveis, o que ainda não tem explicação. A Terra não é muito eficaz em agir como um escudo de proteção para o lado visível da Lua, então não faz sentido pensar que o lado próximo lunar sofreu menos impactos de asteroides graças à interferência terrestre. Então, ambos os lados da Lua deveriam apresentar mais ou menos a mesma proporção de crateras.
Uma hipótese plausível relaciona a quantidade de crateras com a quantidade de mares. É que, como a atividade vulcânica parece ser maior no lado próximo da Lua, as crateras de impacto (que são muitíssimo antigas) teriam sido cobertas pela lava lunar. Mas isso ainda precisa ser confirmado — ou refutado.
A importância do lado oculto da Lua
Astrônomos têm grande interesse em estudar o lado oculto lunar por um bom motivo: a região é livre de sinais de rádio artificiais vindos da Terra. Assim, um telescópio instalado por lá proporcionaria um gigantesco salto na radioastronomia.
E já existem projetos para construir radiotelescópios no lado oculto da Lua, onde os pesquisadores poderiam medir sinais fracos do universo que, de outra forma, seriam abafados pelos sinais emitidos por nossos aparelhos geradores de ondas de rádio.
Para isso, será preciso conhecer o lado de lá muito melhor do que se conhece hoje — e missões como a Chang'e-4 são fundamentais nesse processo. Embora a China seja um pouco "tímida" para revelar suas pesquisas científicas, o país já dividiu com o mundo novidades relevantes, como o fato de o lado afastado ser mais frio do que se pensava.