China e Rússia se unem e encaram nova corrida espacial com os EUA
Por Danielle Cassita • Editado por Patricia Gnipper |
Em 1957, a União Soviética lançou o satélite Sputnik-1, o primeiro a orbitar a Terra; quatro anos depois, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro humano a ir para ao espaço. Mesmo após o fim da União Soviética, a Rússia se manteve firme como uma grande potência espacial e se uniu aos Estados Unidos para a construção e operação da Estação Espacial Internacional (ISS) — mas, agora, o futuro do programa espacial russo depende é da China.
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A ISS foi lançada em 1998 e, desde então, já recebeu astronautas de diversas nações. Joan S. Johnson-Freese, professor de segurança nacional no United States Naval War College, afirma que a cooperação entre russos e norte-americanos na ISS é o maior símbolo da habilidade dos países trabalharem juntos mesmo em momentos de tensão: “hoje, essa tensão chegou a um ponto em que não há mais grandes apostas”, diz. Os oficiais russos já sinalizaram que podem deixar a ISS após o fim do acordo atual, que se encerra em 2024.
Entre os motivos da saída, estão questões políticas a: segundo Dmitri Rogozin, diretor da agência espacial russa Roscosmos, o país deverá se retirar da ISS se os Estados Unidos mantiverem sanções que afetam o programa espacial russo. A China, por sua vez, nunca foi convidada a integrar a ISS devido à legislação estabelecida pelo Congresso dos EUA em 2011, que impede a cooperação com o país asiático. Assim, a China lançou recentemente os módulos de sua futura estação espacial Tiangong-3, e prometeu receber também astronautas e experimentos de outras nações — caso a ISS realmente chegue ao fim em 2024, o país deverá já ter sua própria estação orbital até lá.
Já Alexander Gabuev, do Carnegie Moscow Center, considera que a China tem um programa espacial ambicioso, os recursos para colocá-lo em prática e o planejamento necessário para isso: “a Rússia, em contraste, precisa de uma parceira”, explica. Essa parceria entre as nações reflete a geopolítica mundial da atualidade, marcada pela aproximação entre a China e Rússia através de suas lideranças atuais. É neste contexto que nasceram as novas alianças, firmadas contra aquilo que consideram um comportamento hegemônico por parte dos Estados Unidos.
Nova cooperação espacial
Mesmo com o antigo programa espacial e a vasta experiência adquirida, a Rússia teve dificuldade para sustentar seu programa. Para completar, o país enfrenta também a obsolescência, a corrupção e falta de recursos para seus projetos. Por outro lado, a China ascendeu ao topo da lista de potências espaciais com missões que a Rússia jamais conseguiu realizar, incluindo o pouso recente do rover chinês Zhurong em Marte.
Então, após anos de possibilidades e promessas, os dois países começaram a planejar missões ambiciosas que devem competir diretamente com aquelas dos norte-americanos e seus parceiros: a China e a Rússia estão unidas no projeto de lançar uma missão robótica rumo ao asteroide Kamo’oalewa em 2024, e vêm coordenando uma série de missões para criar uma base na Lua em 2030. A primeira dessas missões será uma nave russa chamada Luna, nome que acena a uma das missões soviéticas, e tem lançamento estimado para outubro de 2021.
O acordo para a construção da base lunar sugere um envolvimento profundo entre as duas nações: “os russos têm a expertise, e os chineses, os recursos”, comentou Gregory Kulacki, gerente de projeto da China na Union of Concerned Scientists. O país asiático espera que a futura estação demonstre a habilidade de obter água e recursos minerais e energéticos, que podem permitir a sobrevivência de astronautas a curto prazo, servindo também como uma base para a exploração mais profunda do espaço.
A colaboração entre as duas nações não é recente: os primeiros astronautas chineses foram ao espaço vestindo trajes espaciais russos, e foi somente depois que a China desenvolveu seus próprios trajes com base no design russo. Assim, ao se unir com a China, a Rússia conseguirá investir em grandes empreitadas científicas que não conseguiu sozinha após o fim da União Soviética.
Fonte: NY Times