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Crítica Loki | O propósito glorioso de ser a melhor série da Marvel

Por  • Editado por Jones Oliveira |  • 

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Reprodução/Disney+
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O que faz de um Loki um Loki? Essa é uma questão que foi levantada diversas vezes na série do Disney+ e norteia toda a jornada de autodescoberta do personagem. E, ao fim de sua temporada, vemos que o Deus da Trapaça é muito mais do que alguém em busca de seu propósito glorioso ou um asgardiano querendo aceitação. Loki é, acima de tudo, um trickster.

O trickster é um arquétipo, uma espécie de imagem primordial que habita nosso imaginário e se manifesta em narrativas e comportamentos como um papel a ser cumprido. E tanto na psicologia quanto nos personagens mitológicos, o trickster é esse elemento contestador que representa a força de transformação. Em suma, é aquele que quebra com o status quo para criar o novo.

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E em Loki vemos o quanto isso é verdade. Mais do que apresentar um novo vilão e introduzir o multiverso ao Universo Cinematográfico da Marvel (MCU, na sigla em inglês), a série é sobre essa transformação, sobre confrontar as estruturas rígidas que são dadas como absolutas e imutáveis para criar algo novo das ruínas do velho — mesmo que isso signifique contestar o que você acredita de si próprio.

Parece discurso de autoajuda, mas o grande mérito do seriado da Marvel é apresentar toda essa discussão com uma embalagem bastante divertida e aventuresca, repleta de ótimos personagens, e entregar tudo aquilo que promete. Ainda que tropece aqui e ali em alguns episódios, Loki já se revela como a melhor investida do Marvel Studios no mundo das séries não apenas pelos desdobramentos que oferece, mas pelo modo como desenvolve seus temas.

Com Wandavision e Falcão e o Soldado Invernal, vimos que essas produções servem principalmente para aprofundar e explorar melhor personagens que não tinham tanto espaço nos filmes, como é o caso do próprio Loki, que sempre foi relegado a essa figura do Deus da Trapaça, esse alguém em quem não se deve confiar. Contudo, até que ponto isso é realmente a sua essência?

Toda a estrutura burocrática e engessada da Autoridade de Variância Temporal (TVA, na sigla em inglês) que a gente vê e até a ideia de que o tempo é único, inalterável e pré-definido servem como alegorias para esse determinismo a que Loki se opõe. A todo momento, ele é lembrado que tem um papel a cumprir e que não há como fugir desse destino. Caso ouse pisar fora da linha, torna-se uma variante cujo fim é ser apagado.

Só que estamos falando de um trickster, ou seja, daquele cujo papel é confrontar essa ordem, por mais que isso signifique se reinventar e mudar sua própria natureza. Assim, o que temos é uma enorme sessão de terapia feita no melhor jeito Marvel de ser.

E é interessante ver a evolução do personagem de Tom Hiddleston ao longo dos seis episódios sob essa perspectiva. Ainda que a mudança do Loki vilão de Vingadores no deus gente boa aconteça muito rápido a partir de um supletivo dado por Mobius e seu projetor de slides, a série desenvolve muito bem os questionamentos do protagonista diante de sua natureza e o processo de quebrar esse ciclo e se livrar dessas amarras — por mais que isso signifique fazê-lo se apaixonar e querer se sacrificar por ele mesmo.

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Novas possibilidades

Toda a temática e o modo como isso tudo foi abordado apenas deixa Loki ainda melhor, mas nada disso seria possível se a sua base não fosse tão sólida. A história foi muito bem construída para trazer todas essas questões sobre liberdade e determinismo, mas sem deixar de ser interessante e divertido.

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É claro que há alguns deslizes, seja com episódios que parecem não avançar tanto, com cenas que caem no clichê do super-herói ou pelo simples fato de muitas coisas serem resolvidas de forma apressada. O ataque de Sylvie à Linha Sagrada do Tempo, por exemplo, não trouxe qualquer consequência para a história e foi esquecido de um capítulo para o outro sem qualquer explicação sobre o fato, do mesmo modo que as diferentes variantes do Loki são muito mal aproveitadas e somem sem mostrar para o que vieram.

Ao mesmo tempo, temos a introdução de personagens muito bons, como a própria Sylvie, Mobius e agora o Aquele que Permanece. Todos roubam a cena quando aparecem e se revelaram grandes adições ao MCU, que esperamos ver mais vezes daqui para frente — e não apenas na já confirmada segunda temporada da série. Aliás, Jonathan Majors não só foi uma surpresa na série, como também entregou uma atuação impressionante.

E além de tudo isso, Loki vai ser lembrada pelo seu impacto no futuro do universo cinematográfico. O mistério que se desenrola ao longo dos episódios funciona para engajar e prender o público, mas são as respostas e as consequências delas que fazem tudo valer a pena. Trata-se de uma história que funciona muito bem isolada e que fica ainda melhor quando olhamos para os impactos que ela vai ter. Para quem ficou teorizando qualquer sombra que aparecia em Wandavision, Loki traz impactos reais para o futuro do MCU e não há como não se empolgar com isso, principalmente com What If…? já batendo à porta.

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E depois de tanto tempo ouvindo que as séries não poderiam influenciar os filmes e que suas histórias seriam apenas complementares, Loki vem para confrontar essa realidade e mostrar que a Fase 4 da Marvel começa mesmo é no streaming. No fim, um trickster tão valoroso quanto seu protagonista.