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Digital Wellbeing, uma tendência que pretende diminuir nosso vício em internet

Por| 13 de Julho de 2018 às 18h34

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Digital Wellbeing, uma tendência que pretende diminuir nosso vício em internet
Digital Wellbeing, uma tendência que pretende diminuir nosso vício em internet
Tudo sobre Google

Ao contrário do que se poderia imaginar, o movimento identificado hoje como “Digital Wellbeing” (Bem-estar Digital) não é obra de algum ativista fervoroso atuando na contramão de novas tecnologias. Na verdade, essa tendência hoje adotada por cada vez mais gigantes da internet surgiu no próprio centro nervoso do Vale do Silício – particularmente, no interior de uma companhia notória por capitalizar o tempo que cada um de nós passa conectado.

Embora esteja hoje mais associado com funções presentes em novos produtos do Google, como o sistema operacional Android P, o Digital Wellbeing está mais para um conceito; uma filosofia de vida, até. Ao reconsiderar questões como utilidade, design e publicidade, empresas onipresentes como Facebook, Apple e a própria Google buscam alternativas para ajudar seus usuários a controlar melhor o tempo de exposição a conteúdos da internet – embora gerar receita ainda seja prioridade, é claro.

144 páginas de manifesto incendiário

O conceito de Bem-estar Digital remonta ao ano de 2012, quando o então gerente de produtos da Google, Tristan Harris, trabalhava no aplicativo Inbox. Entre as notificações, ligações e mensagens privadas que faziam seu telefone vibrar a cada poucos segundos, Harris acabou desencantado com a promessa proverbial de conectividade das tecnologias modernas. A epifania do jovem executivo viria logo em seguida, ao passar um tempo no conhecido festival de contracultura Burning Man.

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A conclusão a que chegou Harris foi bastante natural: talvez muitos dos produtos atualmente desenvolvidos por grandes empresas de tecnologia não tenham nosso bem-estar como principal razão de ser. Isso deu origem a um memorando de 144 páginas intitulado “Um Chamado para Minimizar as Distrações e Respeitar a Atenção do Usuário” – que, de mão em mão, acabou sobre a mesa do CEO da Google à época, Larry Page.

Para acomodar a preocupação crescente, a Google cria então um novo posto: o de responsável pela ética no design de produtos. Conforme descreve o próprio Harris em seu currículo no LinkedIn, tratava-se de “estudar como o design, a utilidade e as arquiteturas escolhidas em telas digitais afetam o comportamento do usuário”.

Uma corrida por atenção

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O cargo não durou tanto tempo assim, já que Harris acabou deixando a empresa em 2016. Mas o movimento iniciado ali tornava claro: não só a Google, mas também a Apple, o Facebook, a Snap e tantas outras companhias do setor – todas estavam empenhadas exclusivamente na busca de novas maneiras de segurar o usuário pelo maior tempo possível dentro de seus ecossistemas. É o próprio “design do vício”.

Enquanto as telas de rolagem infinita do Facebook nos mantêm reféns de quaisquer novidades, os streaks do Snapchat garantem que adolescentes deem um jeito de manter conversações por dias seguidos, a fim de não perder o “combo”. Para Harris, havia (e há ainda) uma verdadeira corrida; uma disputa pela nossa atenção online. “Dois bilhões de pessoas utilizam o Facebook todo dia”, diz. “Isso é um número maior do que os seguidores do cristianismo.”

Tristan Harris abandonou seu posto no Google como “canário de mina de carvão”, como costuma dizer. Mas a ideia foi levada adiante, expandindo-se na forma do “Centro para Tecnologia Humana”. Nessa cria direta dos seus dias como crítico interno da antiga empresa, uma coalizão de tecnologistas, ativistas e cidadãos bem intencionados de forma geral tenta recuperar o controle sobre os nossos aparelhos pessoais.

Confira o seu nível de vício

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Para além do papo holístico de pessoas bem pagas que passaram a erguer as sobrancelhas para a tecnologia, é fato que muitas soluções têm buscado incorporar formas de conter o tempo de exposição à Internet. Como não poderia ser diferente, a própria Google tem tomado a frente nessa implementação.

Prova disso é o renovado dashboard que vem a bordo do Android P. A nova versão do sistema operacional mobile inclui diversas estatísticas reunidas para mostrar o quão viciado cada usuário pode estar. É possível saber o tempo que foi gasto em um aplicativo específico, o número de notificações recebidas, quantas vezes o celular foi desbloqueado etc.

Trata-se de um verdadeiro rastreador fitness, cujo objetivo é, pelo menos, torná-lo consciente de utilizações que ultrapassem limites saudáveis. E é até possível utilizar um timer, para que realmente não seja possível ultrapassar um limite preestabelecido.

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Não perturbe

Outra ferramenta cada vez menos estranha a aplicativos e redes sociais é a função “Não perturbe”, uma espécie de modo avião menos radical. O Android P, por exemplo, inclui o novo comando gestual “Shush” – que realmente manda o telefone “calar a boca”. Como uma abordagem um pouco diferente, há também a função “Wind Down”, que torna o celular menos interessante na hora de dormir ao reduzir o nível de cores da tela.

“Esqueça-nos um pouco”

Com abordagem ligeiramente distinta, ferramentas como o YouTube e o Instagram também têm adotado formas de afastá-lo um pouco. O streaming de vídeos agora “atira no próprio pé”, cortando a própria ferramenta de vídeos encadeados caso o usuário passe da conta – sendo então encorajado a dar um tempo.

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Já o Instagram virou notícia recentemente ao incluir uma nova função que, novamente, atenta contra uma de suas principais sacadas para manter os usuários conectados. Um novo aviso agora é exibido sempre que os conteúdos publicados nas 48 horas anteriores tiverem sido visualizados. Esse marco antes demorava para se tornar consciente, já que o aplicativo não necessariamente exibe suas atualizações em ordem cronológica.

Detox digital

Para os casos mais graves, é possível que apenas novas funcionalidades não sejam suficientes. Embora sempre seja possível adquirir um celular à moda antiga – daqueles que só fazem ligações e mandam mensagens –, há atualmente vários grupos que se propõem à ajuda mútua para conter o vício de internet.

Isso inclui até mesmo spas, como o Digital Detox. Promovendo uma espécie de retiro espiritual avesso a tecnologias (embora máquinas de escrever sejam permitidas), o movimento itinerante já atendeu mais de mil pessoas por vários estados dos EUA oferecendo aulas de ioga, meditação e longas caminhadas desconectadas.

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E suas regras básicas são dispostas logo na entrada:

  1. Proibidas tecnologias digitais
  2. Proibidos telefones, internet ou qualquer tipo de tela
  3. Proibidas conversas sobre trabalho
  4. Proibidos relógios
  5. Proibidos chefes
  6. Proibido stress
  7. Proibida ansiedade

A pergunta de um milhão de dólares

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Segundo pesquisas recentes, um usuário típico de internet terá gastado, ao final da sua vida, quase quatro anos inteiros cutucando a tela de algum aparelho, clicando em um mouse ou, de maneira geral, fuçando na internet. Além disso, não faltam estudos que relacionam a utilização excessiva de redes sociais a aumentos no número de casos de depressão entre crianças e adolescentes. Dessa forma, algo precisa ser feito.

Para Tristan Harris, tudo se resume a uma “pergunta de um milhão de dólares”. Enquanto o levante de movimentos como o Digital Wellbeing trata de tentar colocar freios nos artifícios que nos mantêm viciados na internet (em maior ou menor grau), parte dessa experiência sempre envolveu algum grau de persuasão – o que não é necessariamente ruim. Qual seria o limite, entretanto?

“Entender como o período gasto em ambiente online tem impacto nas pessoas é importante, e ser honesto em relação a isso é uma responsabilidade de todas as companhias”, disse Harris em sua palestra ao TED Talks. No final, talvez se trate menos do meio do que do objetivo. “São necessárias ferramentas para atingir os objetivos de cada um para a vida, em vez de simplesmente garantir o máximo de tempo em frente à tela”, conclui o canário aposentado da Google.

Fonte: Wired, Digital Detox, Android Central, TED Talks