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Som da Liberdade | Por que um filme cristão virou alvo de polêmica?

Por  • Editado por Durval Ramos | 

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Angel Studios
Angel Studios

Aclamado pelo público e criticado por boa parte da imprensa internacional, o filme Som da Liberdade, da produtora cristã Angel Studios, tem causado muita polêmica desde a sua estreia nos Estados Unidos e repetiu o barulho em outras partes do mundo, inclusive no Brasil. O longa chegou aos cinemas brasileiros no último dia 21 de setembro e, já em seu primeiro final de semana de estreia, se tornou a principal bilheteria do país, segundo dados do Comscore, à frente de títulos como A Freira 2 e Os Mercenários 4.

Todo esse sucesso, porém, vem acompanhado de uma discussão sobre as intenções e o discurso presente no filme. O debate gira em torno do longa ser inverossímil e até mesmo fazer referência à QAnon, uma teoria da conspiração criada pela extrema-direita no país.

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A obra é protagonizada por Jim Caviezel, do também controverso A Paixão de Cristo, e, de acordo com a produtora, foi baseado em histórias reais vividas por Tim Ballard, um ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna do governo dos Estados Unidos. Ele teria comandado, em 2013, uma operação a fim de resgatar crianças de traficantes que comandavam uma rede de exploração sexual na Colômbia.

A trama mostra a jornada de Tim rumo ao país e seus esforços para salvar as vítimas, em especial uma garotinha hondurenha. Mesclando cenas de ação com muito drama e um forte discurso religioso, a produção tem como objetivo retratar essa realidade e alertar o público sobre o problema do tráfico humano.

Uma das polêmicas, no entanto, começa justamente quando se fala na veracidade do filme. Isso porque Tim é conhecido nos Estados Unidos por ter fundado a OUR (Operation Underground Railroad), uma organização anti-tráfico de pessoas a qual ele atribuiu o resgate de várias vítimas. Acontece que tais informações já foram questionadas pela imprensa estadunidense, que afirma que não há provas suficientes para comprová-las.

A outra polêmica diz respeito à possível relação do enredo filme com a QAnon, uma teoria da conspiração elaborada pela extrema-direita que alega haver uma seita criada por adoradores de Satanás, pedófilos e canibais que comandam uma rede de tráfico infantil com o intuito de extrairem um hormônio que é produzido por meio da tortura de crianças.

A teoria ainda afirma que o tal hormônio daria longevidade a quem o usasse e que os traficantes conspiraram contra o governo de Donald Trump durante o seu mandato presidencial para tentarem dominar os Estados Unidos.

Apesar do filme não citar nada sobre a QAnon, as alegações são que ele dissemina as ideias conspiracionistas e presta um desserviço à verdadeira rede de proteção de tráfico humano. Vale ressaltar que a polêmica ganhou ainda mais força depois que a extrema-direita começou a venerar o longa e que Trump marcou uma reunião para exibi-lo a seus apoiadores no seu clube de golfe em Bedminster.

Outro fator que fez o filme ser relacionado à QAnon é que o próprio Caviezel já deu declarações sobre o grupo. Ao divulgar o filme, ele confirmou que acredita que tal conspiração satânica exista e ainda afirmou que o suposto hormônio coletado por meio de tortura infantil é uma droga de elite que vem sendo usada há muitos anos por celebridades.

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Já quando questionado se Som da Liberdade tem relação com a teoria, o ator negou, assim como a produtora e o diretor mexicano Alejandro Monteverde.

O sucesso de Som da Liberdade

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Apesar das polêmicas, Som da Liberdade conseguiu resultados excelentes no Rotten Tomatoes. Foram 99% de aprovação do público comum, que o classificou como “um filme poderoso, com atuações fortes e uma mensagem importante”. Já com os especialistas, o resultado foi de 72% de aprovação e o consenso que o longa é um ótimo suspense com ação, mas ainda assim não é isento de problemas na representação dos assuntos delicados.

Esses problemas foram duramente criticados pela revista Rolling Stones, que o chamou de “filme de super-herói para pais com vermes cerebrais". Já a BBC o marcou como “improvavél e controverso”. Mas, não foram só as opiniões negativas que pontuaram a estreia do filme, a Variety o considerou um “thriller inquietante sobre o tráfico sexual infantil”.

Na bilheteria o resultado também foi positivo e o filme conseguiu arrecadar mais de US$ 124 milhões (cerca de R$ 590 milhões na cotação atual), desbancando Indiana Jones e o Chamado do Destino e Sobrenatural: A Porta Vermelha.