Carros elétricos x movidos a etanol: qual o melhor para o Brasil?
Por Felipe Ribeiro • Editado por Jones Oliveira |
O Brasil vive um período de transição em sua indústria automotiva. Em um momento que se discute muito questões como emissão de poluentes e preço dos carros, o nosso mercado precisa definir para qual caminho seguir, ao mesmo tempo que precisa considerar suas próprias peculiaridades.
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Parece consenso que o melhor para a indústria automotiva, em geral, será mesmo caminhar para a total eletrificação. Muitas empresas já definiram, inclusive, suas metas, delimitando o ano de 2035, ou 2030, prevendo interrupção total de modelos com algum tipo de combustão e apostando nos carros elétricos.
Entretanto, aqui no Brasil, como já dissemos, existem algumas peculiaridades. A principal delas é o etanol, reconhecidamente um combustível que emite muito menos CO² do que a gasolina e com um processo de produção capaz de neutralizar boa parte das impurezas emitidas pelos carros.
Com bem revelou a Stellantis em uma apresentação no mês de abril, a matemática é simples. Em testes recentes, o nível de emissões foi o seguinte:
- Gasolina (E27): 60,64 kg CO2eq
- 100% elétrico (BEV) com energia europeia: 30,41 kg CO2eq
- Etanol (E100): 25,79 kg CO2eq
- 100% elétrico (BEV) com energia brasileira: 21,45 kg CO2eq
Esses números já consideram todo o ciclo de vida do método de abastecimento. No caso do carro elétrico abastecido no Brasil, é levada em conta nossa matriz energética, que é quase 90% renovável, com muita presença de hidrelétricas, energia solar e eólica. Para o etanol, a vantagem óbvia é sua abundância e capacidade de produção, além de ser facilmente encontrado em postos país afora.
Com isso na mesa, surge a dúvida: o que vale mais a pena para o Brasil? Carros elétricos ou movidos a etanol?
Etanol vale a pena, mas não é melhor do que elétrico
Pensando no mercado nacional, a escolha por seguir com o etanol é óbvia, mas sem abandonar a eletrificação. No curto prazo, a tendência é que as empresas optem por soluções híbridas flex, como a própria Stellantis sugeriu e como alguns especialistas indicam.
"Com nossa matriz energética limpa e com o etanol em abundância, o melhor caminho para o Brasil é mesmo o híbrido-flex, mas não podemos dizer que um carro puramente abastecido com o combustível de cana é melhor que um 100% elétrico", disse Jean Albino, mentor investidor da Lead Energy, em entrevista ao Canaltech.
Atualmente, apenas a Toyota tem modelos híbridos-flex: a dupla Corolla e Corolla Cross. Mais um modelo está em desenvolvimento e deve chegar em 2024, mas podemos esperar carros da Volkswagen e da Fiat com essa tecnologia também em 2024.
"Percebe-se que há um empate técnico entre o uso do carro 100% elétrico com nossa matriz energética e um carro abastecido 100% com etanol. Esses dados foram importantes para que optássemos pela aposta no híbrido movido, prioritariamente, a etanol. É um ciclo virtuoso importante, que vai desde o plantio até o veículo", disse Antonio Filosa, presidente da Stellantis, em entrevista coletiva.
Obstáculo do elétrico é a infraestrutura
Vários temas sobre os carros elétricos já foram desmistificados, como a manutenção e a autonomia. Entretanto, em se tratando de Brasil, o grande problema não é o uso da energia ou da rede elétrica, e sim como recarregar os veículos sem ser na sua casa.
Durante apresentação do Chevrolet Bolt EUV, a General Motors ressaltou que vai apostar na eletrificação total, inclusive no Brasil, já prevendo que iremos ter uma melhora considerável na oferta de carregadores.
"O Brasil tem uma matriz energética limpa e as empresas estão investindo cada vez mais em carregadores. Já é possível, por exemplo, viajar de São Paulo à várias capitais do país, com corredores de recarga rápida já estabelecidos. O carro elétrico é mais eficiente e nossa aposta para o futuro", disse Santiago Chamorro, presidente da General Motors para a América Latina.
Prova dessa estratégia da GM é de já ter confirmado alguns modelos elétricos para o nosso mercado, como o Blazer EV e o Equinox EV.
Sobre os carregadores, a expectativa é de que não apenas as fabricantes tenham essa preocupação, mas também estabelecimentos e o próprio governo. "Vamos precisar de um movimento interno forte para que mude a cultura do país em torno dos carros. Tudo precisa mudar para que nos tornemos referência em carros elétricos", disse Albino.
Com autonomias parecidas e efeitos de infraestrutura bem diferentes, os carros elétrico e a etanol devem conviver no Brasil ainda por um bom tempo. São tecnologias que, por aqui, não podem ser ignoradas e nem as únicas. Vai depender muito da vontade e estratégia das empresas, além de políticas públicas em torno de um projeto nacional que direcione o mercado.
Avaliando o produto em si, os elétricos são mais eficientes, tecnológicos e menos poluentes. Mas, em se tratando de Brasil, um híbrido a etanol parece ser o mais vantajoso.