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Conheça a trajetória das missões Chang'e, que levaram a China à Lua

Por| 04 de Junho de 2019 às 17h27

NASA
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Em um período de quinze anos, o mundo viu a China se tornar uma nação relevante na exploração espacial. Muito disso vem do sucesso das missões Chang'e, que levaram o país à Lua e seguem mostrando que os chineses não estão de brincadeira quando o assunto é competir com os antigos protagonistas da história da exploração espacial.

A agência espacial chinesa CNSA é a responsável pelas Chang'e, com este nome sendo uma homenagem à deusa chinesa da Lua. E os planos ambiciosos da agência preveem mais missões lunares acontecendo pelos próximos dez anos, com o objetivo de lançar as bases para estabelecer uma presença humana permanente na Lua — tal qual os Estados Unidos planejam fazer com o programa Artemis.

As três primeiras Chang'e

Para os chineses, tudo começou com a Chang'e 1 no final de 2007, quando o país lançou sua primeira nave rumo à órbita da Lua. Dois anos depois, a nave completou seu objetivo principal, que era mapear a superfície lunar e explorar locais de pouso para futuras Chang'e. Já em 2010, a Change' 2, também orbital, foi lançada com objetivos similares.

Livro lançado em 2010 apresenta dados e imagens registradas pela Chang'e 1 (Imagen: Reprodução/SinoMaps Press)
Livro lançado em 2010 apresenta dados e imagens registradas pela Chang'e 1 (Imagen: Reprodução/SinoMaps Press)

Então, em 2013 a CNSA lançou a Chang'e 3, marcando sua primeira tentativa de pousar uma nave na superfície lunar. E o país conseguiu fazê-lo no final do mesmo ano, fazendo com que a China se tornasse o terceiro país a pousar uma nave na Lua (depois da União Soviética e dos Estados Unidos).

A alunissagem aconteceu na planície de lava Mare Imbrium, com a Chang'e 3 também conseguindo liberar um rover chamado Yutu na superfície lunar — este que se tornou o primeiro veículo de rodas a atravessar a paisagem lunar desde a missão soviética Luna 24, de 1976. No início de 2014, no entanto, o Yutu sofreu um curto-circuito, ficando impedido de se mover novamente, mas continuou enviando dados até o ano seguinte, ajudando os pesquisadores a descobrir coisas como um novo tipo de rocha vulcânica rica em ilmenite, mineral composto por titânio, ferro e óxido.

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A Chang'e 3 também levou consigo um observatório chamado Lunar-based Ultraviolet Telescope (LUT), o primeiro observatório de longo prazo implantado na Lua e adequado para capturar imagens do céu noturno a partir da superfície lunar. No final de 2018, a CNSA decidiu desligar os equipamentos da Chang'e 3, mesmo que eles ainda tivessem capacidade de funcionar por mais algumas décadas, para se concentrar na Chang'e 4 — com a ambição de se tornar os primeiros a pousar uma nave no lado afastado da Lua, aquele que jamais pode ser visto daqui da Terra.

O Lunar-based Ultraviolet Telescope foi um dos equipamentos científicos a bordo da Chang'e 3 (Imagem: Reprodução/CNSA)
O Lunar-based Ultraviolet Telescope foi um dos equipamentos científicos a bordo da Chang'e 3 (Imagem: Reprodução/CNSA)

A missão Chang'e 4

Carregando consigo um módulo estacionário e um rover chamado Yutu-2, a Chang'e 4 foi lançada em dezembro de 2018 e pousou com sucesso no lado afastado da Lua no comecinho de 2019 — especificamente na cratera Von Kármán, que fica dentro de uma cratera de impacto ainda maior com o tamanho de 2.500 km, conhecida como bacia do Polo Sul-Aitken.

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A Chang'e 4 tem como objetivo principal estudar a geologia deste outro lado lunar, e vem nos fornecendo dados preciosos, além de imagens inéditas deste misterioso hemisfério lunar. Por exemplo, a missão chinesa descobriu que a temperatura superficial do outro lado da Lua é menor do que a registrada pelas missões Apollo no hemisfério que fica sempre voltado para a Terra, o que pode ser explicado, provavelmente, por uma diferença na composição do solo lunar entre seus dois lados.

Panorâmica do lado afastado da Lua, onde vemos parte da Chang'e 4, a paisagem lunar e o rover Yutu-2 (Imagem: Reprodução/CNSA)
Panorâmica do lado afastado da Lua, onde vemos parte da Chang'e 4, a paisagem lunar e o rover Yutu-2 (Imagem: Reprodução/CNSA)

Ainda, a Chang'e 4 levou consigo experimentos de uma mini-biosfera, contendo ali sementes diversas. Alguns dias após o pouso, a CNSA revelou que sementes de algodão haviam brotado, continuando a crescer por cerca de uma semana, até que uma morte inevitável aconteceu com a chegada da longa e congelante noite lunar — cada noite por lá dura cerca de duas semanas terrestres.

Já o rover Yutu-2, que ainda está estudando o terreno adjacente a seu local de pouso, está investigando a estrutura interna do lado afastado da Lua, bem como a composição deste solo. Enquanto o Yutu original "morreu" antes da hora, o Yutu-2 já excedeu sua expectativa de vida útil de três dias lunares (equivalente a três meses terrestres).

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Satélites Queqiao e Longjiang

Com a missão Chang'e 4, surgiu a necessidade de também enviar novos satélites à órbita lunar. O motivo? Bom, como a sonda e o rover estão do lado afastado da Lua (aquele que está sempre "de costas" para a Terra), é impossível haver uma comunicação direta de lá para cá — afinal, a totalidade da Lua fica no meio do caminho como uma barreira para as comunicações. Então, a solução foi enviar, seis meses antes do lançamento da Chang'e 4, um satélite de retransmissão chamado Queqiao.

Posição do satélite Queqiao na órbita lunar (Imagem: Reprodução/ABC)
Posição do satélite Queqiao na órbita lunar (Imagem: Reprodução/ABC)

Posicionado em um lugar estratégico na órbita lunar, exatamente num ponto onde as forças gravitacionais da Terra e da Lua se equilibram, o satélite é capaz de transmitir dados de e para qualquer ponto na superfície do lado oposto da Lua.

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Junto com o Queqiao, foram lançados também outros dois minissatélites chamados Longjiang-1 e Longjiang-2, com o peso de apenas 45 quilos cada. Eles voam em conjunto ao redor da Lua e observam o céu em comprimentos de onda de rádio bastante longos, de maneira que não é possível de se fazer aqui da Terra por conta da nossa atmosfera.

O contato com o Longjiang-1 foi perdido antes mesmo de o satélite entrar na órbita lunar, mas o Longjiang-2 chegou em segurança e, desde então, vem fotografando tanto a superfície lunar quanto a Terra a distância.

"Nascer" da Terra visto da Lua pelo satélite Longjiang-2 (Imagem: Reprodução/CNSA)
"Nascer" da Terra visto da Lua pelo satélite Longjiang-2 (Imagem: Reprodução/CNSA)

A missão Chang'e 5

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Lançada no dia 23 de novembro de 2020, a Chang'e 5 foi planejada para pousar na planície vulcânica Mons Rümker — mesma área onde a Apollo 12 pousou em 1969, por sinal, no hemisfério lunar que vemos a partir da Terra. Essa região tem dezenas de vulcões blindados chamados cúpulas lunares, e a sonda tem como objetivo coletar amostras dali para serem trazidas à Terra. Vale dizer que a humanidade não traz amostras da Lua ao nosso planeta desde 1976, quando a missão soviética Luna 24 trouxe cerca de 170 gramas de regolito. 

O processo foi planejado para funcionar da seguinte maneira: a sonda aproveitará as duas semanas de um dia lunar para perfurar o solo, colhendo tudo o que puder em até dois metros de profundidade no local do pouso. Então, as amostras serão armazenadas em um módulo de ascensão, que voará da superfície rumo à órbita da Lua, onde se encontrará com o módulo orbital da missão. Nesse módulo, há uma cápsula de retorno, capaz de iniciar o voo de volta à Terra com as amostras a bordo. A China espera que a cápsula com as amostras chegue à Terra entre os dias 16 e 17 de dezembro de 2020.

Arte mostra os diferentes aparatos que fazem parte da missão Chang'e 5 (Imagem: Reprodução/All About Space//Future)
Arte mostra os diferentes aparatos que fazem parte da missão Chang'e 5 (Imagem: Reprodução/All About Space//Future)

As próximas Chang'e

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A CNSA já prevê uma Chang'e 6 e uma Chang'e 7 para serem lançadas dentro de alguns anos. Caso a Chang'e 5 não consiga sucesso nesta missão ambiciosa de trazer amostras lunares à Terra, a missão Chang'e 6 serve como um backup. E, caso a Chang'e 5 seja bem sucedida, a Chang'e 6 ainda assim vai acontecer, só que pousando no polo sul da Lua em 2023, provavelmente. Assim, a China conseguirá coletar amostras de duas áreas diferentes em nosso satélite natural, complementando os estudos.

Então, a Chang'e 7 começará a preparar o terreno para que o país asiático estabeleça uma estação lunar de pesquisa. A ideia é que isso comece a acontecer em meados da década de 2020. A partir daí, os planos ainda são incertos, mas a agência espacial chinesa já disse que uma Chang'e 8 deverá acontecer até 2027, equipada com módulo de pouso, rover e orbitador, bem como com um experimento de impressão 3D utilizando recursos naturais da Lua para começar a construir uma estrutura fixa na superfície lunar. E, depois disso, a China pretende enviar seus primeiros astronautas para o nosso satélite natural, com o objetivo principal de estabelecer uma presença humana constante por lá.

*Matéria originalmente publicada em 04/06/2019; atualizada em 29/11/2020 após o lançamento da Chang'e 5

Fonte: Astronomy Magazine