Usuários de cannabis são menos adeptos a remédios para dormir
Por Nathan Vieira • Editado por Luciana Zaramela |
A maioria dos usuários de cannabis que recorre à substância em busca de uma boa noite de sono costuma rejeitar os remédios para dormir. Essa é a descoberta de um estudo conduzido pela Washington State University e publicado na revista Exploration of Medicine. De 1.255 participantes (todos consumidores da planta), 80% não usa mais esse tipo de medicamento, como a famosa melatonina ou soníferos de venda controlada.
- Estudo mostra como é a cannabis no microscópio
- Canabidiol | Óleo de cannabis reprova no exame toxicológico?
Aproximadamente 50% das pessoas no estudo também relataram o uso de variedades de cannabis contendo CBD (canabidiol) e o terpeno mirceno, um composto aromático encontrado no lúpulo, manjericão e outras plantas além da cannabis.
Os participantes relataram resultados matinais variados e efeitos colaterais. A maior parte dos usuários de cannabis revelou sentir disposição e concentração pela manhã após o uso da substância, além de sentir menos dores de cabeça e menos náuseas em comparação com a época em que usavam remédios tradicionais para dormir.
Em contrapartida, os consumidores de cannabis também se sentiram mais sonolentos, mais ansiosos e irritados pela manhã, em comparação com o público que recorre a outros recursos para dormir. Outros efeitos colaterais envolviam boca seca e olhos vermelhos.
“Em geral, o uso de cannabis para questões relacionadas ao sono foi percebido como mais vantajoso do que medicamentos de venda livre ou remédios prescritos para dormir. Ao contrário dos sedativos de ação prolongada e do álcool, a cannabis não foi associada a um efeito de ‘ressaca’, embora os indivíduos tenham relatado alguns efeitos persistentes", conclui o estudo.
Os pesquisadores também descobriram que mais de 60% dos participantes do estudo dormiram de seis a oito horas quando usaram apenas cannabis, enquanto menos de 20% dormiram de seis a oito horas enquanto usavam um remédio para dormir (ou até mesmo uma combinação entre cannabis e esses medicamentos).
Cannabis é aprovada no Brasil?
Em 2020, a Anvisa autorizou o primeiro produto à base de cannabis no Brasil. Desde então, o uso medicinal da planta tem conquistado cada vez mais espaço no país. Para se ter uma noção, em 2022, o uso de cannabis medicinal cresceu 110% no Brasil.
No entanto, precisamos entender que a cannabis possui mais de 100 canabinoides já identificados e encontrados nas flores, folhas e caule da planta. Os mais conhecidos são o tetrahidrocanabinol (THC) e o já mencionado canabidiol (CBD).
O THC é a substância responsável pelo efeito psicoativo, mas isso só acontece quando há uma grande concentração. No uso medicinal, o objetivo não é sentir os efeitos sensoriais, mas sim relaxamento, aumento de apetite, alívio de dores, diminuição de ansiedade etc. Assim, fumar a cannabis para fins recreativos continua proibido no país.
No Brasil, qualquer médico pode receitar produtos de cannabis com fins medicinais para seus pacientes, independente da especialidade, inclusive como primeira via de tratamento. Basta ter inscrição ativa no Conselho Federal de Medicina (CFM).
Evidências científicas da cannabis medicinal
Neste ano, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou uma nota técnica destacando as evidências científicas da cannabis medicinal encontradas até então.
Na ocasião, a instituição reforçou que algumas pesquisas são conclusivas em apontar a segurança e eficácia dos canabinoides na redução de sintomas e melhora do quadro de saúde para aspectos como:
- Dor crônica
- Espasticidade
- Transtornos neuropsiquiátricos
- Náusea
- Ansiedade
- Vômito
- Perda do apetite
No entanto, a própria Fiocruz reconhece que a potencial segurança e eficácia do uso terapêutico da cannabis vem sendo pesquisadas para dezenas de outras condições.
Fonte: Washington State University, Exploration of Medicine, Agência Fiocruz