COVID-2019 | Tudo o que você precisa saber sobre a epidemia do coronavírus
Por Rafael Rodrigues da Silva | •
A COVID-2019, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2 (mais popularmente conhecido como Coronavírus), tem se espalhado rapidamente ao redor do mundo, já sendo encontrada em cerca de 40 países do globo — incluindo o Brasil, que na madrugada da última terça-feira (25) confirmou o primeiro caso da doença por aqui.
Enquanto a doença se espalha, o medo também se alastra pela população, já que a forma como as pessoas (principalmente aquelas que não são da área da saúde) falam sobre a doença faz parecer que se trata do vírus do apocalipse., que irá assolar a humanidade e cuja infecção é uma sentença de morte — e nada está mais longe da verdade.
De acordo com o Dr. Jon Dongyan, um especialista em vírus da Universidade de Hong Kong, as pessoas estão exagerando os riscos da doença, criando um estado de pânico que também deve ser combatido pelos governos e profissionais de saúde pública, pois esse pânico generalizado acaba atrapalhando os esforços de combate à doença. Claro, uma parte desse pânico provém do fato de este ser um vírus que, até pouco tempo, era completamente desconhecido e que ainda não possui uma vacina para combatê-lo, mas já temos informações suficientes para cravar que não se trata de uma doença tão grave quanto o que está sendo ventilado por aí.
Gravidade da doença
Atualmente, os cientistas dividem os casos de infecção pelo vírus em três tipos diferentes: os de infecção leve (casos em que os pacientes não desenvolvem pneumonia), infecção severa (pacientes apresentam dificuldades para respirar, baixa saturação de oxigênio no sangue e outros problemas respiratórios graves) e infecção crítica (pacientes não conseguem respirar e apresentam uma falha generalizada no funcionamento dos órgãos). Destes três, cerca de 81% dos casos de pessoas infectadas pelo coronavírus são do tipo leve, com cerca de 14% sendo do tipo severo e apenas 5% do tipo crítico.
É importante fazer esta distinção porque, de acordo com os médicos que estão na linha de frente do combate ao vírus na China, as mortes relacionadas à doença são exclusivas dos pacientes que desenvolvem infecções severas e críticas. Já entre os pacientes com infecção leve (a enorme maioria dos infectados) a doença não causa grandes transtornos, e os sintomas são iguais aos de uma gripe comum (tosse, coriza, febre, sensação de cansaço e uma leve dor no corpo).
É possível, ainda, que o número de infectados com a doença seja até maior do que os existentes nos relatórios, já que muitas pessoas nem vão aos hospitais fazer os testes para confirmar a infecção pelo SARS-CoV-2, por acreditarem que o que pegaram foi apenas uma gripe comum.
Mortalidade
De acordo com os dados da OMS divulgados no relatório de 26 de fevereiro, a atual taxa de mortalidade da doença gira em torno de 3,4% (em escala mundial) e 2,3% quando consideramos apenas a China.
Mesmo assim, esses números estão inflados por algumas situações fora do padrão. Por exemplo, dentro da China, a média está sendo elevada por uma maior taxa de mortalidade na província de Hubei (onde fica a cidade de Wuhan, local em que a doença surgiu), onde 2,9% dos pacientes infectados terminaram em óbito, enquanto no restante do país a taxa de mortalidade beira 0,4%. O mesmo ocorre ao considerarmos os territórios fora da China, onde o Irã (país em que a doença matou 15% dos infectados) eleva a média mundial de mortalidade, que cairia mais que a metade se os casos da região fossem desconsiderados.
Comparando com outras doenças, a COVID-2019 é bem mais perigoso que a gripe comum (que tem uma taxa de mortalidade de 0,1%), mas não tão mortal quanto a SARS (doença que também surgiu na China no começo do século, mas que conseguiu ser contida antes de se tornar uma pandemia), que matou 9,6% dos infectados, e bem menos mortal do que a dengue, que mata entre 10% e 30% dos pacientes infectados (a diferença nas porcentagens se dá com base na procura ou não de auxílio médico quando apareceram os primeiros sintomas da doença).
Mas por que então toda a preocupação?
Boa parte da preocupação, principalmente entre os profissionais de saúde, não é por conta da mortalidade da doença, mas sim pela velocidade com a qual ela se espalha e pelo fato de ser um tipo de vírus até então desconhecido pela medicina, o que obriga os médicos e pesquisadores a tentar desenvolver uma vacina para prevenção, ao mesmo tempo que tentam conter uma pandemia, tornando ambas as tarefas muito mais difíceis.
A COVID-2019 não apenas possui os mesmos sintomas de uma gripe comum, mas também é transmissível da mesma forma. Assim, tudo o que uma pessoa precisa fazer para ser infectada pelo vírus é entrar em contato com a saliva de alguém infectado — seja por contato direto e voluntário (como um beijo), direto e involuntário (como ser atingido por gotículas de saliva de alguém infectado durante um acesso de tosse) ou mesmo indireto (como, por exemplo, tocar em um dinheiro que foi infectado e, antes de ter a oportunidade de lavar a mão, coçar um olho, por exemplo).
Agora, o que faz com que a doença se espalhe em uma velocidade alarmante é justamente o fato de ser um vírus totalmente novo: desde que mamamos o colostro, quando bebês, nosso corpo já possui anticorpos que estão acostumados com o vírus da gripe, e conseguem identificá-lo e combatê-lo antes que eles possam fazer mal para nosso corpo. É por isso que normalmente só ficamos gripados quando a imunidade do nosso corpo cai (como, por exemplo, por causa de estresse ou por uma mudança significativa e repentina na temperatura), mesmo que estejamos praticamente o tempo todo em possível contato com o vírus da gripe.
O mesmo não ocorre com o SARS-CoV-2: por ser um vírus totalmente novo, nossos anticorpos não estão preparados para identificá-lo rapidamente, e por isso, qualquer pessoa que entra em contato com ele acaba desenvolvendo a doença. Assim, a melhor forma de prevenção para a COVID-2019 é a mesma proteção antigripe: evitar lugares fechados e aglomerações de pessoas, e lavar as mãos sempre que possível com água e sabão (ou passar álcool gel) para reduzir a quantidade de bactérias e de possíveis vírus que possam estar “escondidos” por ali. Também é importante manter sempre uma alimentação balanceada, pois isto irá garantir que seus anticorpos estejam prontos para combater a doença caso a contraia, e diminuirá as chances de ela evoluir para os níveis severo e crítico.
Além disso, se você está pensando em viajar, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos sugere que, enquanto a epidemia não for contida, evite visitar China, Coreia do Sul, Japão, Itália e Irã, pois são os países com o maior número de casos confirmados e onde há a maior chance de se contrair a doença.
O que o futuro nos reserva
Enquanto laboratórios correm contra o tempo para tentar desenvolver uma vacina contra a COVID-2019 e finalmente conseguir apaziguar os ânimos do público, o fato da doença se parecer tanto com uma gripe (principalmente nos casos que são classificados como leves) é talvez o que mais tem atrapalhado os esforços de contenção, pois muita gente acaba não procurando assistência médica ou evitando contato com outras pessoas por achar que está apenas resfriado, e contaminando um número maior de pessoas no processo.
De anticorpos a economia
Assim, um vírus que é de baixa preocupação no quesito individual acaba se tornando uma ameaça no sentido global, pois, por se tratar de uma doença para a qual ninguém ainda possui anticorpos, ela pode causar graves problemas nos sistemas de saúde e econômicos globais, com cada vez mais pessoas procurando por hospitais e cada vez menos pessoas trabalhando nas fábricas e efetuando compras nas lojas.
Por conta disso, acredita-se que os países que mais sofrerão com a doença serão os considerados de “terceiro mundo”, pois normalmente eles não possuem um sistema público de saúde robusto o suficiente para cuidar de uma epidemia como esta (como podemos ver no Irã, que possui atualmente a maior taxa de mortalidade para a doença no mundo).
Incrivelmente, neste ponto o Brasil parece estar bem preparado, pois o fato de termos hospitais que podem prover gratuitamente remédios antigripais para toda a população será de grande ajuda para impedir a doença de atingir uma grande taxa de mortalidade por aqui. Isto porque a necessidade de internação por conta da doença se resume aos cerca de 5% de casos críticos, e em todos os outros os hospitais são usados mais como “quarentena” para evitar que a doença se espalhe, mas não há a necessidade de internação para recuperação.
Outra coisa é que, mais cedo ou mais tarde, a epidemia deve diminuir: isto porque qualquer pessoa que contraiu o vírus (mesmo que tenha desenvolvido apenas a versão mais leve da doença) já se torna imune a ele, não mais sendo infectada mesmo que entre em contato direto com o SARS-CoV-2 (a menos que ele sofra uma mutação; mas não vamos pensar nisso agora). É por isso que o governo chinês tem pedido a todos os pacientes que se recuperaram da doença a doar sangue, pois os anticorpos presentes no sangue dessas pessoas podem teoricamente ser transferidos para outras, e ajudar na recuperação daqueles que estão em estado mais grave.
Assim, os especialistas acreditam que há apenas duas possibilidades para a COVID-2019: ou a doença se tornará cada vez menos transmissível com o passar dos meses, até finalmente “morrer” (como aconteceu com a SARS), ou então se tornará uma doença sazonal como a gripe comum, estabelecendo-se como uma ameaça constante ao corpo humano, mas perdendo uma boa parte de sua periculosidade com o passar do tempo.
Fonte: The New York Times