Microplásticos como o náilon podem perturbar funcionamento de hormônios sexuais
Por Augusto Dala Costa • Editado por Luciana Zaramela |
Novas análises mostraram mais um impacto dos microplásticos nos seres vivos, e desta vez o problema é hormonal. Ao fazer testes em fêmeas de camundongos, cientistas notaram efeitos prejudiciais significativos do náilon nos hormônios sexuais mediante exposição a micro e nanopartículas (MNPs) do material. Isso demonstra que substâncias presentes no nosso dia-a-dia há décadas já podem ter efeitos consideráveis na saúde, levantando preocupações acerca da exposição humana a tais químicos.
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Com a popularização de materiais como o náilon, os microplásticos se tornaram onipresentes no planeta. Quase todos os aspectos da nossa vida diária incluem algum tipo de plástico, que continua sendo encontrado em plantas, animais e até mesmo na placenta humana, demonstrando não termos para onde correr caso queiramos evitar a substância. Partículas podem entrar em nosso corpo pela água ou comida, através de embalagens, com estimados 90.000 partículas plásticas entrando via garrafas de água potável por ano.
Náilon, camundongos e hormônios
A poliamida, mais conhecida como náilon, é um dos mais populares polímeros utilizados pelo ser humano. Está presente em roupas, embalagens industriais, pneus veiculares e muito mais. É quase impossível evitar a exposição a esse material, e, entre os pesquisadores, há temores crescentes acerca da quantidade dele que inalamos todos os anos.
Ainda assim, pouco sabemos sobre os efeitos exatos da substância na saúde. É isso que o estudo, publicado no periódico científico Particle and Fibre Toxicology, buscou responder. Cientistas da Universidade Rutgers olharam, especificamente, para os efeitos da inalação de poliamidas e MNPs ao reduzir as substâncias a pó e expor camundongos a inalações, observando como seu corpo reagiria.
Ao invés de simplesmente injetar as partículas nos animais, um novo método incluiu deixar as poliamidas em forma de aerossol, colocá-las sobre uma caixa de som e então vibrá-la para que a substância se espalhasse no ar, com o fluxo natural levando-a até as cobaias.
As fêmeas estavam no cio e ficaram sob exposição das poliamidas por 24 horas, com os efeitos pós-inalação sendo acompanhados de perto pelos cientistas. Sua pressão subiu e a dilatação dos vasos sanguíneos foi impactada, mas, mais importante, as quantidades do hormônio 17 beta-estradiol diminuíram, demonstrando uma redução na função endócrina dos bichos.
Além disso, foi notada uma inflamação sistêmica tomando conta do corpo dos camundongos, mas os pulmões não foram impactados, curiosamente, órgão cuja perturbação nas funções era esperada pelos pesquisadores. Os resultados indicam que haver uma possível contribuição dos MNPs na redução da fertilidade por todo o mundo, o que se alia a outras pesquisas da equipe demonstrando uma influência do material na obesidade.
Além da descoberta, os cientistas esperam que o novo método de aerossolização do material para estudo possa contribuir para pesquisas futuras, ajudando revelar as influências dos micro e nanoplásticos no corpo humano. No momento, não há muito que possamos fazer para evitar a exposição a tais materiais, já que mesmo um consumo consciente e que evite embalagens plásticas não consegue nos afastar de partículas minúsculas no ar. O esforço terá de ser sistemático — e vindo de cima.