Microplásticos são encontrados pela 1ª vez na água acumulada em plantas
Por Fidel Forato • Editado por Patricia Gnipper |
Cientistas da Eslováquia investigavam quais tipos de microorganismo vivem em pequenas "poças" de água que se formam nas plantas, quando fizeram uma descoberta surpreendente: este espaço minúsculo dos vegetais era ocupado também por microplásticos — pequenos fragmentos de plástico que medem até 2,4 mm de comprimento. Este é o primeiro registro do tipo na natureza e aponta para a emergência da questão ambiental.
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Publicado na revista científica Biodiversity and Ecosystem Risk Assessment (BioRisk), o estudo sobre os microplásticos no caule de plantas foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade de Prešov. "A detecção de MPs [microplásticos] nestas amostras foi acidental e inesperada", afirmam os autores.
Onde estavam os microplásticos nas plantas?
Em áreas verdes no leste da Eslováquia, os pesquisadores encontraram pela primeira vez microplásticos nas pequenas poças de água que se formam nos fitotelmas. No caso do estudo, foram analisados apenas amostras coletadas em plantas do gênero Dipsacus, que são um tipo de arbusto com flores.
Para entender o que é um fitotelma, é o espaço que fica entre o caule e a folha e, normalmente, permite o acúmulo de água das chuvas. “É um microcosmo aquático relativamente comum, mas negligenciado, com uma ocorrência de muito curto prazo de apenas 3 a 4 meses”, explicam os autores do estudo.
A questão é entender como os microplásticos chegaram até essa região do caule das plantas. Nas amostras, nenhuma outra forma de contaminante foi encontrada na região.
Como os fragmentos de plásticos chegaram até o local?
No estudo, os cientistas não chegaram a uma conclusão sobre a origem dos microplásticos na água que fica acumulada em plantas. Entre as hipóteses mais aceitas, está a de que o plástico chegou com a água da chuva e ali ficou. Embasando o argumento, outros estudos já identificaram até a presença da substância na neve recente, ou seja, aquela que acabou de cair no meio da Antártida. Outra possibilidade é que caracóis e pequenos insetos tenham trazido o contaminante até o local.
“A primeira descoberta de microplásticos em pequenos reservatórios de água, de curto prazo, criados por plantas, é mais uma evidência de que a contaminação desse tipo se espalha por vários caminhos e provavelmente nenhum ambiente na Terra é seguro, o que obviamente torna nossa descoberta bastante desanimadora”, completam os pesquisadores.
Vale lembrar que, em abril deste ano, equipe de cientistas britânicos observou a existência de microplásticos no pulmão de pessoas vivas. Em março, pesquisadores da Holanda identificaram a presença de microplásticos em amostras de sangue humano. Em ambos os casos, as descobertas foram inéditas para a ciência, o que reforça a exposição das diferentes formas de vida a esse material e, no momento, ainda não se sabe quais serão os possíveis impactos da relação.