Dexametasona e outros medicamentos que podem mudar os rumos da COVID-19
Por Fidel Forato |
No mundo todo, são mais de 80 milhões de casos diagnosticados do novo coronavírus (SARS-CoV2), sendo 1,7 milhão de óbitos, segundo dados levantados pela Universidade Johns Hopkins. Na luta contra a COVID-19, pesquisadores e cientistas seguem investigando remédios eficazes contra a infecção, como o anti-inflamatório dexametasona já usado em alguns quadros. Outras fórmulas, ainda em pesquisa, também devem ajudar o tratamento dos doentes.
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É estimado que a dexametasona já teria salvo cerca de 650 mil vidas em todo o mundo, segundo Martin Landray, professor da Universidade de Oxford e principal pesquisador do estudo randomizado Recovery. Até o momento, este é o maior ensaio clínico randomizado de drogas contra a COVID-19. “Só no Reino Unido, a dexametasona já evitou mais de 12 mil mortes”, afirmou o pesquisador.
Medicamentos contra a COVID-19
Além da dexametasona, os pesquisadores do estudo Recovery devem divulgar, entre janeiro e o começo de fevereiro, resultados de outros medicamentos no combate da COVID-19, a partir de ensaios clínicos randomizados em grande escala. Para verificar a eficácia dos tratamentos, esses testes são realizados por milhares de médicos e enfermeiras em pacientes, atualmente tratados em hospitais no Reino Unido.
De acordo com Landray, testar alternativas contra a COVID-19 em grupos tão grandes é fundamental para verificar a eficácia dos tratamentos. Isso porque respostas robustas são possíveis a partir de milhares de testes e, não, de centenas ou dezenas. Dessa forma, “você descobre o que realmente funciona”, explica Landray. “Além disso, podemos descobrir quais pacientes serão mais beneficiados. Serão os velhos, os jovens ou os imunocomprometidos? Você só pode descobrir isso se tiver um teste com milhares de pessoas nele”, completa.
A seguir, confira os medicamentos que estão sendo investigados pelo grupo contra a COVID-19:
Plasma convalescente
Alternativa cogitada desde o início da pandemia, o método já foi aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration), nos EUA, de forma emergencial. Para o tratamento, o plasma sanguíneo convalescente é obtido em pacientes que se recuperaram da COVID-19. Esse material é rico em anticorpos contra o coronavírus e que podem ajudar outras pessoas a combater a infecção.
Anticorpos monoclonais
Essa proposta de tratamento da COVID-19 é com um tipo relativamente novo de medicamento, mais usado para tratar alguns tipos de câncer e doenças autoimunes. Nesses casos, o paciente recebe uma espécie de coquetel de anticorpos, baseado nos mais eficazes que descobriram no corpo de pacientes que se recuperaram da COVID-19. Existem várias fórmulas em desenvolvimento, mas o estudo Recovery deve focar no medicamento da empresa de biotecnologia norte-americana Regeneron.
Mais anti-inflamatórios
Entre os anit-inflamatórios, está o tocilizumab. Normalmente, é receitado para o tratamento de artrite e, agora, pode ser um dos promissores medicamentos contra a COVID-19, caso se comprove sua eficácia. A desvantagem da fórmula é o seu elevado custo. Usado há décadas para o tratamento da gota, a colchicina é outra droga anti-inflamatória promissora contra o coronavírus. Ambos atuam para amenizar a tempestade de citocinas inflamatórias que costuma ocorrer em alguns quadros da infecção.
Aspirina
Muito conhecida, a aspirina é um medicamento utilizado para afinar o sangue e, dessa forma, ajuda na redução dos coágulos sanguíneos nos pulmões. Esta é uma complicação preocupante em alguns casos da COVID-19 e, por isso, o medicamento pode ser um eventual aliado.
Tratamentos descartados contra o coronavírus
Até o momento, o estudo divulgou resultados obtidos a partir de quatro medicamentos testados contra a COVID-19: o antibiótico azitromicina, a combinação de drogas lopinavir-ritonavir, a hidroxicloroquina e a dexametasona. De todos, apenas o último demonstrou evidências de sucesso no combate ao coronavírus.
“Quando iniciamos o Recovery, olhamos para medicamentos baratos, amplamente disponíveis, mas promissores, e descobrimos que um deles — a dexametasona — funcionava. Mas os medicamentos que estamos examinando custarão centenas de libras por tratamento, então precisamos ter certeza de que funcionam antes de implantá-los em larga escala”, explica Landray.
“Projetamos este estudo para ser o mais simples possível de implementar, de modo a não sobrecarregar a equipe da linha de frente ocupada do NHS [espécie de SUS do Reino Unido]. O apoio deles e dos pacientes tem sido notável. Nossos resultados melhoraram o atendimento da COVID-19 para milhões. As respostas que receberemos no início do próximo ano, quaisquer que sejam, farão isso novamente”, completa o pesquisador.
Fonte: The Guardian