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Anti-inflamatório colchicina acelera recuperação de hospitalizados por COVID-19

Por| 18 de Agosto de 2020 às 15h31

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Pixabay
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Na busca por tratamentos contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto obtiveram resultados positivos com o uso do anti-inflamatório colchicina. Usado há décadas para o tratamento da gota, o remédio acelerou o tempo de recuperação dos pacientes, em estado moderado e grave, da COVID-19 e auxiliou no combate a inflamação pulmonar. Além disso, é um medicamento considerado barato e pode ser usado em larga escala.

“Voluntários tratados com o fármaco ficaram livres da suplementação de oxigênio, em média, três dias antes que os pacientes que receberam apenas o protocolo terapêutico padrão do hospital. Além disso, puderam voltar para casa mais cedo”, afirma o pesquisador e coordenador do estudo no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP), Renê Oliveira, sobre o estudo publicado como preprint (artigo ainda não revisado por pares) na plataforma medRxiv.

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Como foi o estudo?

Para avaliar a eficácia da colchicina no tratamento da COVID-19, o grupo de pesquisadores da USP conduziram, durante os seis primeiros dias de julho, um ensaio clínico controlado, randomizado e duplo-cego. Isso significa que nem os médicos e nem os pacientes sabiam quais medicamentos estavam recebendo.

No total, 38 participantes foram separados, de forma aleatória, em dois grupos e todos receberam o protocolo terapêutico padrão do hospital para o tratamento da COVID-19. No entanto, um dos grupos recebeu adicionalmente o anti-inflamatório colchicina, enquanto o outro tomou um medicamento placebo.

Entre os pacientes contaminados pelo novo coronavírus, estavam incluídos casos de insuficiência respiratória que precisaram ser internados para receber suplementação de oxigênio e, por isso, foram desconsiderados do estudo. Três pacientes foram descartados por causa da internação. Dessa forma, foram analisados 35 dos 38 participantes, sendo 18 do grupo placebo e 17 do grupo tratado com colchicina.

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“Não incluímos no estudo pacientes intubados e mantidos em UTI, mas não haveria contraindicação clínica para o uso da colchicina também nesses casos. Esse perfil de paciente pode vir a fazer parte da próxima fase do ensaio clínico”, comenta Oliveira.

Colchicina contra a COVID-19

Ao comparar a recuperação entre os grupos, a equipe da USP observou que a colchicina agiu em três importantes frentes para a recuperação: reduziu o tempo de oxigenoterapia; reduziu o tempo geral de internação; e diminuiu, de forma mais acelerada, os níveis de proteína C-reativa no sangue, uma molécula que indica inflamação sistêmica (quando se afeta o organismo como um todo).

“Após sete dias de tratamento, os marcadores inflamatórios retornaram aos níveis normais”, detalha Paulo Louzada Junior, professor da universidade e coautor do artigo. Isso porque a colchicina pode, provavelmente, amenizar a tempestade de citocinas inflamatórias que costuma ocorrer em alguns quadros da COVID-19.

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Esse tipo de "tempestade" ocorre quando o organismo do paciente gera uma quantidade exagerada de defesas, conhecidas como citocinas, contra o coronavírus. É como se o sistema imunológico, ao invés de melhorar o quadro do paciente, causasse um agravamento e piora do seu estado. Afinal, as citocinas são proteínas que deveriam regular a resposta imunológica contra invasores e, não atacar o próprio corpo, de forma descontrolada.

“Então, imaginamos que a colchicina poderia ter um efeito benéfico, diminuindo a inflamação pulmonar que leva à insuficiência respiratória”, afirma Oliveira sobre os resultados. Inclusive, nenhum dos 38 voluntários foi ao óbito durante a pesquisa. Agora, a próxima fase do estudo com o anti-inflamatório será aberta, ou seja, os pacientes serão convidados a participar e terão conhecimento do medicamento que tomarem.

Vantagens do tratamento

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“De modo geral, a colchicina é considerada segura. Mas é importante ressaltar que, no caso da COVID-19, os benefícios foram observados apenas em pacientes hospitalizados e com algum nível de comprometimento pulmonar. Não recomendamos o uso indiscriminado do fármaco, nem para prevenção e nem para tratar sintomas leves da doença”, explica Louzada Junior. Entre os efeitos adversos conhecidos, esta a diarreia.

Vale ressaltar que os estudos sobre o uso do anti-inflamatório ainda continuam, ou seja, mesmo no caso de pacientes internados em hospital, os benefícios precisam ser confirmados em uma pesquisa com um número maior de participantes — o que já está previsto pelo grupo de pesquisadores da USP.  

Além disso, a redução no tempo de recuperação dos doentes pode representar uma economia de recursos para a rede pública de saúde. “Cada dia de internação em unidade de terapia intensiva [UTI] pode custar entre R$ 5 mil e R$ 10 mil por paciente. A suplementação com oxigênio, mesmo quando é feita fora da UTI, também é uma terapia cara. A colchicina, por outro lado, é um medicamento barato e com potencial de uso em larga escala. O tratamento completo custou cerca de R$ 30,00 por paciente”, lembra Louzada Junior.

Leia o preprint completo sobre o uso do anti-inflamatório colchicina em pacientes da COVID-19 aqui.

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Fonte: medRxiv via Agência Fapesp