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Coronavírus tem cura? Por que não tomar ibuprofeno? O que fazer, afinal?

Por| 17 de Março de 2020 às 21h15

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O cenário de contaminação pelo novo coronavírus Brasil não para de crescer: já são quase 300 casos da COVID-19, confirmados após teste laboratorial, outros oito mil ainda em fase de confirmação e um óbito, segundo o Ministério da Saúde. Há também uma significativa porção da população brasileira ainda pouco informada sobre o novo coronavírus (SARS-CoV-19), sem saber em quais casos procurar ajuda médica, com dúvidas sobre o que tomar para aliviar os sintomas leves ou ainda desconhecendo totalmente o risco de duas infecções simultâneas, como a COVID-19 e dengue, por exemplo.

Um desses casos é o de um homem, com menos de 30 anos, que não quis ter sua identidade divulgada. Na última sexta-feira (13), ele recebeu a notícia de que estava dispensado do trabalho e que nos próximos dias teria que realizar suas atividades, de forma remota, para o grupo de academias no qual trabalha. Isso porque uma colega de trabalho assintomática, com quem mantém relação diária, recebeu o diagnóstico positivo para a COVID-19. Sem saber, a paciente entrou em contato com outro paciente que viajara para o exterior e não sabia que estava infectado, e contraiu o vírus.

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"Na hora, eu fiquei assustado e meio confuso, a gente vê o que acontece na TV, mas pensa que é diferente, que não vamos ter nada", comenta o funcionário dispensado. Após receber a notícia, ele começou a buscar por clínicas que realizassem o exame na cidade de São Paulo — foi quando descobriu que precisaria primeiro de uma receita médica.

"Fui a um hospital particular e, chegando lá, já havia pessoas na recepção que perguntavam se era suspeita de coronavírus ou não", conta o homem. Depois de uma triagem rápida, com aferição de temperatura e pressão, e de após receber uma máscara descartável, foi encaminhado para outro espaço, onde estavam reunidos somente casos suspeitos de COVID-19.

Até chegar a um médico na rede de saúde privada, o homem aguardou cerca de quatro horas na sala "especial". Sem nenhum sintoma da infeção pelo novo coronavírus, a médica o orientou que essa não era a recomendação para sua vinda até o hospital e explicou que o atendimento padrão era, principalmente, para casos com sintomas graves, como dificuldades respiratórias, ou para quem faz parte de grupos de risco. Ainda assim, aguardou mais 1h30 no hospital para fazer o exame.

Segundo seu relato, o exame é rápido: "um coletor é introduzido nas duas narinas, uma por vez, o que causa uma grande vontade de espirrar e tossir". Após a coleta, o homem recebeu um atestado provisório de três dias, até que os resultados oficias chegassem, entre 24 a 48 horas. Felizmente, o resultado veio negativo para COVID-19, mas o homem segue em isolamento por 14 dias.

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Diante dos inúmeros desencontros desse paciente e, provavelmente, de muitos outros casos suspeitos do novo coronavírus, o Canaltech entrevistou o Dr. José Leão de Souza Junior, Gerente Médico do Pronto Atendimento do Hospital Israelita Albert Einstein, sobre como proceder nessa situação. A instituição é referência no tratamento da COVID-19 no Brasil e soma mais de 90 casos confirmados em sua rede.

Entrevista com o médico especialista na COVID-19

Canaltech: Quando há suspeita da COVID-19, em que momento o paciente deve procurar ajuda médica?

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Dr. José Leão: Agora, que a epidemia se propaga a partir da transmissão comunitária, nos preparamos para receber os pacientes em casos graves. O paciente só deve procurar um pronto atendimento quando o seu quadro de gripe estiver associado a falta de ar ou sinais de inapetência, ou seja, quando ele começa a ficar sem energia, sonolento, sem forças para se alimentar e prostrado em casa. Esses são sinais de que pode ter havido a evolução dos sintomas da gripe, que será o quadro de 80% dos infectados, para os 20% que caracterizamos como uma doença de maior gravidade.

CT: Dentro desse cenário, para uma pessoa que convive com um diagnosticado com a COVID-19: não é recomendado que ela procure ajuda médica, em um primeiro momento?

J.L.: Se uma pessoa tem um parente contaminado, somente, não é recomendada a busca por ajuda médica. O paciente doente deve seguir algumas precauções, como usar máscara, fazer a higiene das mãos e ficar em um cômodo reservado da casa. E quem cuida diretamente de alguém doente deve usar máscara e fazer a higiene das mãos, também. Se essa pessoa desenvolver um quadro, em média de cinco a sete dias de gripe, com tosse seca, dor no corpo, fraqueza, dor de garganta, coriza, muito provavelmente também irá adquirir a doença. Mesmo assim, só deve procurar o atendimento se tiver falta de ar ou se o quadro evoluir para prostração, de cama, por exemplo.

CT: No caso das pessoas não mais procurarem atendimento médico quando há suspeita, diminuímos os casos de notificação da doença. É positivo?

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J.L.: Desde que passamos para o nível três de epidemia, as notificações só passam a ser feitas dos pacientes internados. Nesse contexto, o primeiro nível é quando se consegue, claramente, identificar o indivíduo que veio do exterior contaminado. Quando alguém que cuida desse caso ou se relaciona com a pessoa vinda do exterior, se contamina, começa a segunda fase. A terceira, que é a que estamos, é quando há uma transmissão para a comunidade e você não consegue mais ter um elo de onde essa pessoa contraiu o novo coronavírus. Assim, você considera que o vírus está circulando no meio de nós, e aí é preciso partir para uma estratégia de mais agressividade, que é a de se precaver para os casos graves.

Casos simples, que felizmente são a maioria, não são mais o foco; o problema é que 20% vão apresentar falta de ar e evolução dos sintomas leves. É para esses pacientes que temos que nos preparar, porque eles precisarão do hospital, onde terão suporte para oxigênio ou mesmo tratamentos para infecção na corrente sanguínea e falência de outros órgãos. É para essa guerra que estamos nos preparando.

CT: Dentro dos quadros mais leves, qual é a indicação para as pessoas se cuidarem, além do repouso?

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J.L.: O principal recado é evitar a transmissão. Então se um paciente tem os sintomas, deve ser feita sempre a higiene das mãos e usar a máscara — caso precise sair de casa — durante o isolamento de 14 dias. Pode-se tomar analgésicos comuns, como dipirona ou paracetamol, que é o que normalmente se toma para uma febre, uma dor no corpo ou um mal-estar. Quanto ao ibuprofeno especificamente, há um relato da Itália de que, talvez, haja uma piora do quadro de pacientes com o seu uso, mas não sabemos se é causa ou uma coincidência com pessoas que tenham tomado. Do ponto de vista científico ainda não é possível afirmar isso, mas não indicamos. Quanto ao uso de corticoides, já há uma comprovação de que eles podem piorar os casos.

Também orientamos a beber bastante líquido para se hidratar e deve-se evitar esforços extremos até os sintomas passarem. Se o paciente tiver alguma dúvida, deve entrar em contato com seu médico, mas não recomendamos que procure atendimento. São quadros simples que passarão espontaneamente. Ao sair para procurar atendimento médico, a pessoa pode, nesse trajeto, contaminar e ajudar a disseminar ainda mais o vírus.

No entanto, um importante fato a se recomendar é que existe um grupo de pacientes, que se contraírem o coronavírus, têm um risco maior de desenvolver a COVID-19 de forma mais grave. São pessoas com mais de 65 anos, ou pacientes que já possuem alguma doença pulmonar ou fazem uso de medicação para imunidade. Ou que estejam em tratamento de um câncer, por exemplo… Essas pessoas devem procurar auxílio.

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CT: De acordo com as últimas descobertas da COVID-19, é possível que um paciente contraia o novo coronavírus e o vírus da influenza ao mesmo tempo?

J.L.: É possível, sim, e já vemos casos desses tanto aqui no Brasil quanto no exterior, de acordo com os relatos. Nesses casos, chamamos de coinfecção. No próprio hospital, temos um quadro de coinfecção em um paciente com dengue e com o novo coronavírus, em tratamento.

CT: Quando se fala em pacientes em estado grave, como é feito o tratamento?

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J.L.: O tratamento inicial para esse paciente costuma ser a oxigenioterapia, que é quando ele precisa desde um catéter para ter um maior conforto na hora respirar, por exemplo, até os casos mais graves, em que precisam de um tubo associado a um ventilador mecânico. Alguns pacientes também evoluem com uma septicemia, quando o agente infeccioso cai na corrente sanguínea e desencadeia um processo inflamatório em todo o corpo. Nesses casos, são necessários medicamentos para os rins, o coração ou o cérebro funcionarem.

Nos pacientes com quadros muito graves, aqueles que estão respirando com auxílio do ventilador, que o rim está parando de funcionar e com sinais de falência de vários órgãos, temos utilizado alguns remédios testados para HIV anteriormente, por exemplo. O uso desses medicamentos é uma indicação que chamamos de indicação por compaixão, ou seja, o individuo está em uma fase grave, com risco de morte alto, e, apesar de não haver mais evidência científica tão clara, utilizamos alguns medicamentos como uma última tentativa de ajudar na recuperação. Para esses casos, usamos os mais de 100 estudos que estão sendo feitos na China e, agora, na Itália, que trazem algumas evidências científicas de novos usos para remédios ou uma nova droga. A questão é que, no fundo, não temos nenhum remédio específico para a tratar a COVID-19.

CT: Tanto no caso dos pacientes graves quanto em pacientes com sintomas mais leves, como se sabe quando a pessoa está totalmente curada do novo coronavírus?

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J.L.: A resposta é quando os pacientes param de exibir os sintomas. Em muitos pacientes, quando eles melhoram do quadro da tosse, da coriza, da febre, repetimos o exame para o novo coronavírus e ele precisa dar negativo. Sabemos pela melhora do quadro, mas cada paciente tem uma meia vida da contaminação para negativar, ou seja... é possível ter melhora dos sintomas, mas o paciente ainda pode eliminar o vírus [em fase contaminante]. Por isso, só tiramos essa pessoa do isolamento quando se tem o exame negativo, provando que não existe mais a possível transmissão.

CT: Existe alguma relação da COVID-19 com animais de estimação?

J.L.: Até o momento não existe nenhum relato de que um animal de estimação seja transmissor do novo coronavírus. Esse é um vírus que vive em animais. Provavelmente o morcego foi o vetor [ser vivo que pode transmitir o agente infeccioso] em Wuhan [cidade da China considerada o primeiro epicentro do coronavírus]. Quando olhamos para trás, na última grande infecção do coronavírus, a MERS (Síndrome respiratória do Oriente Médio), o vetor foi o dromedário. Hoje, ainda não conseguimos precisar o vetor até chegar ao homem. No entanto, animais domésticos, como gato, cachorro ou hamster, não são vetores para a infecção.

Ibuprofeno: OMS não recomenda

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Nesta terça-feira (17), após a entrevista com o Dr. José, a Organização Mundial da Saúde desencorajou o uso de ibuprofeno para tratar dores e febre em casa, em casos de suspeita de COVID-19. A recomendação surge a partir do momento que o medicamento passou a ser associado com evolução mais rápida da doença, piorando seus sintomas.

"Em casos suspeitos, recomendamos o uso de paracetamol, e não de ibuprofeno", declarou um dos porta-vozes da organização, Christian Lindmeier.

Fonte: Com informações do G1, Cofen