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Coronavirus: mitos, verdades e a enxurrada de memes

Por| 04 de Fevereiro de 2020 às 18h20

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Reprodução/ Twitter
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O ano de 2020 mal começou e não há dúvidas de que um polêmico assunto já será pauta de retrospectiva: o novo coronavírus, descoberto na China e provisoriamente chamado de 2019-nCoV. Responsável por atacar o sistema respiratório humano, o vírus, que tem causado grande preocupação em autoridades ao redor do mundo tudo, já levou ao óbito mais de 420 e infectou mais de 20.700 pessoas. Também foram cerca de 720 pacientes recuperados, após contraírem a infecção, de acordo com o mapa interativo da Johns Hopkins University.

Desde que os primeiros casos desse coronavírus foram notificados no começo do mês, na China, centralizados na cidade de Wuhan, muita coisa aconteceu. Inclusive, o presidente do país, Xi Jinping, chegou a afirmar para o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS) que esse vírus era um "demônio", mas que os chineses estavam confiantes em vencer essa batalha, segundo a Reuters.

Uma declaração polêmica como essa, junto à seriedade do tópico e o desejo natural do homem ao apocalipse, geraram uma espécie de histeria coletiva. De fato, justificada, com a própria OMS declarando o coronavírus como uma emergência mundial e com a cidade epicentro do surto, Wuhan, em quarentena.

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Mesmo com poucas respostas sobre o funcionamento do novo vírus no organismo humano e suas formas de transmissão, o que aparenta é que ele é altamente infeccioso, mas pouco letal. Igual a outros vírus, como da SARS, H1N1, Ebola, ele deve se espalhar rapidamente pelo mundo, nesse primeiro momento, e depois se estabilizar, quando a ciência encontrar bons métodos de defesa, como medicamentos e vacinas. O que não vale é acreditar em todas as besteiras que se escrevem, filmam e compartilham na internet.

Epidemia de fake news

Segundo Thomas Rid, professor da Johns Hopkins University e pesquisador da história da desinformação, "os rumores podem viajar mais rapidamente e mais amplamente do que podiam" Comenta o pesquisador sobre as fake news do novo coronavírus divulgadas nas redes socais, incluindo o WhatsApp. Rid ainda alerta para os riscos de "conspirações se espalhando mais rapidamente." Afinal, é difícil argumentar contra crenças, sem nenhuma evidência.

Essas teorias conspiratórias também ganharam tanta notoriedade, que as próprias redes sociais se posicionaram contra a desinformação e passam a remover conteúdos mentirosos (porque não há outro adjetivo). Mesmo que haja toda uma questão sobre liberdade de expressão, essas versões falsificadas da realidade podem colocar vidas em risco.

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É o caso do próprio Facebook que, em comunicado, afirma que "Começaremos a remover conteúdo com alegações falsas ou teorias de conspiração que foram denunciadas pelas principais organizações globais e autoridades locais de saúde que possam causar danos às pessoas que acreditam nelas."

Como exemplo de fake news, surgiram "informações" que orientam pessoas a tomarem antibiótico para se prevenirem contra o novo coronavírus — sendo que antibióticos nem são indicados para a prevenção de vírus e, sim, de bactérias. Ou ainda a imagem, um pouco mais antiga, de uma sopa de morcegos como a responsável pela disseminação da doença. História que não tem nenhuma comprovação científica, de acordo com a OMS, e pode iniciar uma perseguição infundada aos bichos.

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Ainda mais bizarras são as histórias de que objetos comprados na China, via internet, possam estar contaminados com o novo coronavírus, quando dificilmente um vírus pode resistir por dias e até meses, ainda mais dentro de um navio cargueiro, sem um hospedeiro para chamar de seu. Vale esclarecer que objetos não podem hospedar vírus. E a criatividade maldosa humana vai além: também já compartilham uma imagem com centenas de pessoas caídas, como sendo o estado atual da China. No entanto, é uma imagem artística, feita em 2014, na Alemanha, sem a menor conexão com a atualidade.

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Ainda relatos de pessoas que indicam enxágues bucais com água salgada para evitar infecções. Ou ainda uma receita milagrosa para "tomar chá de erva-doce duas vezes ao dia", supostamente indicada pelo diretor do Hospital das Clínicas, mas já desmentida pelo próprio Ministério da Saúde. Em tweet, o ministério ainda frisa que "Nenhum tipo de chá pode ser utilizado para substituir um tratamento adequado contra a gripe."

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Talvez, a mais perversa de todas seja a informação de que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) descobriu que o vírus pode atingir os neurônios, causando confusão mental, dificuldade motora e até coma. Em esclarecimento, o Ministério da Saúde explica que a instituição não tem condições de realizar pesquisas do tipo e que não há nenhum caso do novo coronavírus no Brasil para ser estudado.

Antes de qualquer alarmismo, é importante citar que as melhores maneiras de se prevenir de uma possível infecção, de acordo com as autoridades brasileiras, são: "frequente higienização das mãos, principalmente antes de consumir alimentos; utilizar lenço descartável para higiene nasal; cobrir nariz e boca quando espirrar ou tossir; evitar tocar mucosas de olhos, nariz e boca."

Além disso, não é recomendado o compartilhamento de objetos de uso pessoal, como talheres ou copos, e uma boa é sempre manter os ambientes bem ventilados e evitar contato próximo a pessoas que apresentem sinais ou sintomas da doença.

Descubra mais sobre o novo coronavírus:

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Enxurrada de memes

Junto às fake news o que mais têm circulado em grupos de amigos e nas redes socais estão os inevitáveis memes. Já se diz que o melhor do Brasil é o brasileiro, mas qual é o limite desse humor? Essa é mais uma delicada questão que esse problema de saúde pública traz para a sociedade discutir, ainda mais quando essas "brincadeiras" espalham desinformação.

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É o caso da associação constante entre o coronavírus e a marca de cerveja mexicana Corona. Nos últimos dias, houve um grande aumento no número de pesquisas por "vírus da cerveja Corona" na América do Norte, Brasil, Austrália, partes da Ásia e Europa, o que pode sugerir que usuários estejam preocupados pelo fato de a bebida ser ou não culpada pelo recente surto viral. Vale também ressaltar que a cerveja, obviamente, não está relacionada a nenhum caso.

Em mais memes espalhados pelas redes sociais, há "brincadeiras" com a possibilidade já descartada de um caso suspeito na cidade de Curitiba. Na ocasião, os curitibanos teriam baixas chances de infecção por "serem antissociais". Em um tweet, o usuário escreve sobre tossir em uma fila de banco e contar sobre a última viagem para a China, potencialmente causando um alvoroço. É claro que também há relacionamentos entre os produtos chineses e o vírus, que "podem" chegar junto de encomendas. Tudo o crème de la crème da mais pura balela.

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No Twitter, até Suzana Vieira e o Papa Francisco viraram peças ilustrativas da histeria coletiva e brincadeiras decorrentes do surto. No caso da atriz, a piada surge a partir de uma foto em que está usando uma máscara, provavelmente fora de contexto, e uma roupa colorida, que segundo um usuário será a fantasia perfeita para o carnaval de 2020. Já sobre o Papa, resgatam o tapa que deu na mão de uma fiel, no ano passado, como uma forma de evitar contaminações do novo coronavírus.

O que se sabe de fato?

Em pronunciamento do Ministério da Saúde, na quarta passada (29), o secretário de Vigilância em Saúde Wanderson de Oliveira discorreu sobre as mudanças no escopo de definições de caso. Passa a ser considerado suspeito de portar o novo coronavírus "qualquer paciente que apresente febre, sintomas respiratórios e que, nos últimos 14 dias, tenha viajado para a China."

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De acordo com o governo Federal e as últimas suspeitas, o Brasil também elevou sua classificação de risco do nível 1 de alerta para o nível 2, que é considerado como perigo iminente. Essa escala de riscos chega até o nível 3, onde há emergência de saúde pública — situação que pode vir a acontecer quando confirmado o primeiro caso de transmissão do novo coronavírus chinês no país.

Ainda não está claro como acontece a transmissão do vírus, mas as autoridades de saúde acreditam que seja transmitido igual aos outros coronavírus. O que significa que deve ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirros e tosse. Além disso, os sinais e sintomas clínicos são principalmente respiratórios, como febre, tosse e dificuldade para respirar.

Para a identificação dos vírus, é necessária a coleta de duas amostras respiratórias, que seguem o protocolo da gripe. Isso porque uma das amostras é encaminhada para o Centro Nacional de Influenza (NIC) e outra amostra é enviada para análise de metagenômica — estudo genômico da comunidade de microrganismos presentes para entender o que compõe a infecção.

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Saiba como o Brasil tem se preparado para o novo vírus:

Onde checar a informação?

O mais importante de tudo, antes de compartilhar uma informação, é entender a responsabilidade que você, como usuário, tem sobre o conteúdo e sua capacidade de influenciar pessoas do seu círculo virtual. Por isso, é sempre importante se perguntar se uma informação pode mesmo ser verdade.

Caso tenha dúvidas, durante esse julgamento, que não deve levar mais do que 10 segundos, considere acompanhar perfis oficiais de instituições de saúde nas redes sociais, como o do Ministério da Saúde, que foram usados ao longo deste artigo.

Boas fontes também são os materiais divulgados por institutos, considerados como referências no controle e acompanhamento do novo vírus no país. São eles: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro; Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo; Instituto Evandro Chagas (IEC), no Pará.

Também vale consultar sites de fact checking, ou seja, que verificam se determinada notícia (nacional ou internacional) é real, de maneira rápida. Aqui no Brasil, boas opções são a Agência Lupa, o Fato ou Fake, o Comprova e ainda o Truco. Nessas horas, vale tudo, menos compartilhar desinformação!

Fonte: Com informações de Ministério da Saúde, BBC News, Bloomberg, Fox NewsReuters