Como escolher o processador certo para o seu notebook
Por Fábio Jordan • Editado por Léo Müller |
Se você vai comprar um notebook novo, há chances de que você tenha um bocado de dúvidas quanto aos componentes do seu futuro laptop, pois é preciso observar dados como tamanho de tela, peso, números de conexões e, principalmente, os componentes internos, como o processador, a placa gráfica e a memória RAM.
Vários desses quesitos são importantes, mas alguns nem sempre impactam no desempenho do computador. Outros, no entanto, devem ter prioridade na sua lista de pesquisas, já que não apenas são fundamentais para o bom desempenho da máquina, como muitas vezes não são componentes que podem ser trocados.
É o caso do processador dos notebooks, considerado como o cérebro do computador, sendo que suas especificações impactam diretamente na capacidade do laptop. É claro que a CPU não trabalha sozinha, sendo que outros dispositivos podem (e vão) interferir no desempenho do produto, porém é a unidade central de processamento que vai ditar muita coisa!
Dessa forma, hoje nós vamos trazer algumas dicas importantes para você ficar esperto na hora de comprar um notebook novo, já que há uma enorme variedade de opções, de diferentes fabricantes, de variadas gerações e focadas nas mais diversas tarefas. Este não é um artigo que vai englobar todas as informações possíveis sobre processadores, mas ao menos você terá um norte para evitar cair em ciladas.
Para que serve o processador?
Muito se fala em processador dual-core, quad-core e em números dos mais variados tipos que supostamente servem para definir a velocidade do computador. No entanto, antes de tudo, é preciso entender o propósito da CPU, para então compreender como esses tipos de detalhes podem impactar nas suas tarefas, assim você não precisa sair comprando algo apenas porque alguém falou, mas porque de fato você compreende a importância do componente.
Basicamente, tudo na informática é baseado em cálculos matemáticos, que são convertidos para diversos códigos e resultam na "mágica" que você vê na tela do seu computador. Quem faz todos esses cálculos é o processador, que fica responsável por decifrar suas ordens, processar os dados (daí o nome do componente) e comandar outras peças, delegando tarefas para cada dispositivo, que auxiliará a CPU de alguma forma.
Assim, de modo geral, é o processador que gerencia o sistema operacional, executa os aplicativos e realiza os cálculos de quase todas as atividades dentro dos softwares. É importante frisar o “quase todas”, pois há alguns programas que contam com códigos específicos e conseguem repassar determinadas tarefas para a placa de vídeo, que conta com um processador gráfico, sendo então especializada em situações de decodificação de imagem e vídeo.
O detalhe é que um processador pode realizar mais ou menos tarefas de forma simultânea, bem como pode calcular os dados numa frequência maior ou menor. A quantidade de tarefas executadas é definida por duas especificações: núcleos e threads. Os núcleos são como subsetores na CPU que permitem dividir as tarefas internamente no processador, sendo que eles podem executar processos de uma forma mais ampla.
Já os threads no processador são como núcleos virtuais (também chamados de processadores lógicos). É como se, dentro de cada núcleo, a CPU fingisse que há mais núcleos, o que possibilita a execução de subpartes de um processo. Isto é de suma importância, pois um programa nem sempre é executado como um único bloco, e a divisão do processo em pequenas partes acelera muito a abertura de um software ou a ativação de um comando.
Quer entender melhor? Se você abrir o Gerenciador de Tarefas do Windows (ou qualquer ferramenta similar em outros sistemas), você poderá ver que, mesmo com alguns poucos apps abertos, há centenas ou milhares de threads em execução. Como isso é possível? Como a CPU consegue dar conta de tantas tarefas? E de onde vem tantos threads?
Isto acontece porque um programa não é apenas um arquivo EXE, mas sim um conjunto de pequenos blocos de tarefas, que, não são mostrados para você, mas precisam ser executados de forma simultânea e paralela. Assim, os threads de cada aplicativo (sub-blocos de um processo) são enviados para diferentes threads (processadores lógicos) dentro do processador. É possível rodar tantos threads ao mesmo tempo porque a CPU é muito rápida nos cálculos.
E falando em rapidez, chegamos no segundo ponto para entender o porquê de optar por um processador de alta performance.
Primeiro, vale entender que uma CPU não tem velocidade, já que ela não se desloca como um carro ou moto. Porém, muitas vezes associamos o termo pelo simples fato de ter resultados práticos em pouco tempo, aplicando então o termo de "alta velocidade" para a frequência com que os cálculos são realizados no processador.
Eis aqui o detalhe do porquê não podemos falar em velocidade. Se pegarmos o exemplo de um carro, o conceito de velocidade está associado à quantos quilômetros é possível percorrer num determinado tempo. Em teoria, se dois carros partem de um mesmo ponto, tem a mesma aceleração e mantêm velocidade idêntica num determinado trajeto, eles chegarão num ponto final simultaneamente. Não há segredo, 80 km/h é 80 km/h para todo veículo.
No caso de uma CPU, a frequência de execução de cálculos é informada em Hertz, que é uma unidade de medida que representa quantos ciclos são realizados em um segundo. Assim, um chip que opera a 5 GHz realiza 5 milhões de ciclos em um segundo. Dessa maneira, uma CPU que faz mais ciclos em um segundo tende a finalizar os cálculos de um processo em menor tempo.
Apesar de ser simples de entender, é preciso ponderar que, na prática, as coisas são diferentes, de forma que 5 GHz nem sempre é 5 GHz, pelo simples fato de que há outras especificações que ditam a rapidez com que um programa é executado ou que uma determinada ação é finalizada. Ou seja, se você pega dois processadores que operam com clock de 3 GHz, mas um tem mais núcleos do que o outro, a diferença de performance pode ser substancial.
Portanto, se você costuma trabalhar com aplicativos considerados “pesados”, ou seja, que demoram para abrir e exigem muito tempo para realizar algumas ações (por exemplo, o Adobe Photoshop), a escolha de um processador apropriado fará toda a diferença em seu notebook (ou mesmo em um desktop). E aí é que vem uma longa novela para entender qual chip é o mais apropriado para cada situação.
Como saber qual é o processador ideal para suas tarefas?
Por muito tempo, era bastante comum encontrar dicas pela internet com algumas subdivisões entre os processadores de diferentes marcas que serviam como sugestões para as diferentes finalidades de cada usuário. Este era um tipo de segmentação comum até por parte das fabricantes, que sempre tiveram uma grande variedade de produtos, com o intuito de atender as diferentes finalidades. Uma divisão bem simplificada pode ser feita da seguinte forma:
- Intel Celeron e Pentium: uso básico (navegação na web, reprodução de músicas);
- Intel Core i3 ou AMD Ryzen 3: produtividade (apps de texto, planilhas, etc);
- Intel Core i5 ou AMD Ryzen 5: edição de imagens e multi tarefa avançado;
- Intel Core i7 ou Ryzen 7: edição de vídeos, streaming e jogos.
Este tipo de orientação não é algo definitivo e nem preciso nos detalhes, mas ao menos serve como um norte para quem está totalmente perdido. Todavia, nem tudo é tão simples, já que mesmo dentro de cada série, há vários modelos com variadas especificações, de modo que não basta simplesmente comprar um Intel Core i7 para ter a melhor tecnologia do momento.
Tenha em mente ainda que a escolha do processador depende muito dos apps que você usa, mas que os programas não rodam de forma exclusiva ou que serão péssimos em modelos mais simples. Se você usa o Adobe Photoshop uma vez no mês para retocar uma ou duas fotos, é provável que um Intel Core i3 ou um AMD Ryzen 3 seja suficiente. Já se você edita imagens todos os dias, o indicado já é investir numa CPU com mais núcleos.
Aliás, esta é uma mensagem que tem que ficar clara: nem todas as pessoas precisam do Intel Core i7 ou do AMD Ryzen 7 para ter um bom desempenho. Mesmo que você use o Adobe Photoshop, ele pode funcionar sem problemas numa CPU intermediária. E se você só navega na internet ou usa o Microsoft Word, definitivamente não é preciso gastar o dobro em um notebook para ter um processador top de linha.
Atenção especial com a geração do processador
A pegadinha é que, além de existirem várias versões de um mesmo produto, há um fator ainda mais relevante que pode impactar severamente na performance do processador: a época de lançamento do produto.
É claro que o ano não é um parâmetro de desempenho, porém o ano define a geração de cada dispositivo, o que pode revelar informações relevantes.
Muitas vezes, a diferença entre uma geração e outra pode ser enorme, já que é possível as fabricantes mudarem a arquitetura, reorganizarem as finalidades de cada série de CPUs e ainda alterar especificações internas, como a quantidade de núcleos e threads. Dessa forma, é possível que um chip Intel Core i7 de uma geração tenha 4 núcleos e um modelo sucessor tenha o dobro de núcleos ou mesmo que haja diferenças de memória cache e clock. Confira:
- i5-6300U - Núcleos: 2 / Threads: 4 / Clock: até 3,0 GHz / Cache: 3 MB - TDP: 25 W
- i5-8250U - Núcleos: 4 / Threads: 8 / Clock: até 3,4 GHz / Cache: 6 MB - TDP: 25 W
- i3-1115G4 - Núcleos: 2 / Threads: 4 / Clock: até 4,1 GHz / Cache: 6 MB - TDP: 28 W
- i5-1135G7 - Núcleos: 4 / Threads: 8 / Clock: até 4,2 GHz / Cache: 8 MB - TDP: 28 W - Gráficos Intel Iris Xᵉ
Neste exemplo acima, podemos ver que o Intel Core i5 da 6ª geração é “mais lento” que o Intel Core i3 de 11ª geração. Já se comparado com o Intel Core i5 de 8ª geração, o modelo da 6ª geração tem metade dos núcleos. E ao cruzar os dados com o Intel Core i5 da 11ª geração, podemos ver que o modelo mais recente é superior em todos os quesitos e já tem gráficos melhores.
Portanto, não basta apenas escolher seu notebook com Intel Core i5 (ou qualquer que seja o modelo) e supor que apenas o nome do produto é o padrão de performance. Hoje, é fácil encontrar notebooks com Intel Core de 6ª, 7ª, 8ª, 9ª, 10ª e 11ª geração. Do lado da AMD, há laptops com Ryzen de 3ª, 4ª e 5ª geração.
É claro que, na teoria, basta pegar um notebook com processador mais recente, afinal um dispositivo mais novo deve entregar uma performance superior. Todavia, tal raciocínio só é válido para comparação entre os mesmos tipos de processadores. Ou seja, modelos que não apenas são da mesma série, mas que também são identificados dentro de um mesmo perfil.
Processador de alta performance ou econômico?
Pode parecer óbvio, mas é bom entender que os notebooks são projetados para atender determinados públicos e seus respectivos interesses. Assim, há produtos focados em tarefas básicas, bem como existem unidades especiais para alto rendimento. Tal separação não se dá apenas pela capacidade de memória RAM ou a frequência do processador, mas também pelo design e projeto do notebook.
Um notebook focado em jogos precisa não apenas de uma CPU para gaming, mas também de um sistema de refrigeração de alta performance. Já um aparelho focado em tarefas do dia a dia não necessita somente de uma bateria com autonomia prolongada, mas principalmente ele deve contar com um processador capaz de economizar energia, o qual deve ter alguma capacidade também para as situações que demandam maior poder de processamento.
O detalhe é que não é possível descobrir isso apenas através da família do processador, ou seja, não basta optar por um Intel Core i3 ou um AMD Ryzen 3 para ter maior economia de energia e, da mesma forma, nem todo chip Intel Core i7 ou AMD Ryzen 7 vai ser focado em jogos. E mais: isto pode ser algo muito sutil na hora da divulgação de um produto, então é preciso ter atenção ao sufixo do processador. Quer ver como é confuso? Veja este exemplo:
- AMD Ryzen 5 3500U - Núcleos: 4 / Threads: 8 / Clock: até 3,7 GHz / Cache: 4 MB - TDP: 15 W
- AMD Ryzen 5 3550H - Núcleos: 4 / Threads: 8 / Clock: até 3,7 GHz / Cache: 4 MB - TDP: 35 W
Estas duas CPUs parecem quase iguais nos nomes, mas elas podem ser bem diferentes. Neste caso, o Ryzen 5 3500U é um modelo econômico, então ele tenta desempenhar o melhor possível, mantendo a economia de energia e baixa temperatura, já que foi projetado para gastar até 15 watts. Já o Ryzen 5 3550H é liberado para usar mais energia (até 35 watts), então ele pode entregar maior performance, mesmo que isso cause um aumento de temperatura – a algo que pode e deve ser regulado por um projeto de notebook eficiente.
Dessa forma, fica claro que somente as especificações não indicam um desempenho idêntico, algo que vale inclusive em produtos com as mesmas configurações.
Moral da história: os processadores da série U são focados em eficiência energética, de modo que eles têm uma trava para impedir o gasto excessivo de bateria e as altas temperaturas, enquanto os chips da série H são focados em maior desempenho.
Além desses perfis energéticos, há outras variantes de chips com diferentes sufixos do lado da AMD e da Intel, sendo importante você consultar todos os detalhes para não pegar um processador que parece potente, mas que, na prática, não entregará a performance que você precisa para suas tarefas. Muitas vezes, a melhor solução para ter uma noção do desempenho de um produto é pesquisar em reviews como cada modelo se comporta na prática.
Por fim, vale lembrar que só escolher um bom processador não é garantia de um notebook de qualidade e desempenho, já que é importante ter um conjunto balanceado, com memória RAM adequada e de preferência um SSD. Então, pesquise bem antes de comprar para não ser enganado, porque pior que um notebook lento é um notebook lento e caro.