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Ser humano foi o responsável pelas baratas estarem em todo lugar

Por| Editado por Luciana Zaramela | 29 de Maio de 2024 às 19h10

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Lmbuga/CC-BY-S.A-3.0
Lmbuga/CC-BY-S.A-3.0

A baratinha, ou barata-alemã, é um inseto presente em todo o mundo, sendo uma das espécies de barata mais comuns que existem — mas, curiosamente, é ausente na natureza. Como, então, essas criaturas se aventuraram e evoluíram até habitar residências globalmente, a ponto de serem consideradas pragas?

Cientistas da Universidade do Oeste da Austrália e da Universidade de Harvard usaram DNA para resolver esse mistério — mais especificamente, envolvendo a espécie Blatella germanica (que também confere o nome barata-germânica ao animal).

A evolução das baratinhas

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Embora não pareça, as baratinhas nem sempre estiveram em todos os cantos. A primeira identificação da espécie foi em um armazém militar de alimentos durante a Guerra dos Sete Anos, entre 1756 e 1763. Cada um dos lados deu ao inseto o nome do adversário, então os russos o chamaram de “barata prussiana” enquanto os britânicos e prussianos criaram o apelido “barata russa”.

Apesar disso, o biólogo sueco Carl Linnaeus (conhecido como Lineu, em português) classificou a espécie como Blatta germanica em 1767 — em latim, “blatta” significa “aquele que evita a luz”, e “germanica” faz referência ao fato de ela ter sido coletada na Alemanha. O nome do gênero mudou para “Blatella” para juntar vários grupos de baratas sob um só termo.

Com o sequenciamento genético de 281 baratas de 17 países, então, descobriu-se a origem definitiva das baratinhas, apontando a região genética responsável: a CO1. Espécies parecidas da Ásia foram comparadas, descobrindo que o animal surgiu na Índia e Bangladesh, já que os espécimes alemães são praticamente idênticos aos da região da Baía de Bengala, chamados Blatella asahinai.

Os cientistas acreditam que a espécie bengali se adaptou à vida entre humanos após fazendeiros devastarem seu habitat natural, algo comum entre animais que se tornaram urbanos. A descoberta da jornada do inseto foi revelada pelo estudo de polimorfismo de nucleotídeo único em seu DNA.

Após sair da Baía de Bengala, há 1.200 anos, as B. asahinai viajaram para o oeste, pegando carona com comerciantes e exércitos dos Califados Omíada e Abássida, dinastias islâmicas que dominaram do Cazaquistão ao Norte da África e Península Ibérica.

A próxima onda migratória foi há 390 anos, em direção à Indonésia, provavelmente de carona com companhias de comércio europeias, como as britânicas e holandesas, que viajaram pelo sul do oeste asiático e retornaram à Europa no início do século XVII. Isso coloca a chegada das baratinhas à Alemanha em cerca de 270 anos atrás, o que bate com os registros históricos da Guerra dos Sete Anos.

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Os insetos, então, se espalharam da Europa para o resto do mundo há 120 anos, também coincidindo com seus primeiros avistamentos por todo o globo. À medida que a globalização crescia, especialmente com o advento dos navios a vapor, os animais caroneiros tinham mais chances de sobreviver à viagem, já que ficava mais rápida. 

Melhorias nas condições de moradia, como encanamento e aquecimento, também ajudaram a acomodar melhor as inquilinas — atualmente, para sobreviver, elas precisam apenas da habilidade de se esconder de nós. Como o nome dado por Lineu sugere, elas desenvolveram hábitos noturnos, evitando espaços abertos e perdendo a capacidade de voar, embora tenham mantido as asas.

Agora, o que salva os insetos é sua alta capacidade de adaptação às armadilhas — sua resistência a substâncias surge dentro de poucos anos, o que aumenta o custo e a dificuldade de descobrir novos ingredientes eficientes contra as baratinhas.

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As primeiras armadilhas usavam açúcar para atraí-las, então as que preferiam doces morreram, deixando espaço para que as com outras preferências sobrevivessem. Para descobrir como vencer as baratas, precisamos estudar a maneira com que evoluem e como sua resistência surge. É uma verdadeira corrida armamentista contra os insetos, que não deve terminar tão cedo.

Fonte: Evolution 1, 2Acta Tropica, Current Opinion in Insect Science