Barata pode contribuir para a neurociência
Por Stephanie Kohn |

O neurocientista e engenheiro elétrico, Grega Gage, adora uma gambiarra e está sempre criando kits para experimentos. Nessa terça-feira (30), ele abriu a programação de palestras da 11a edição da Campus Party para apresentar um de seus sucessos, o RoboRoach, um dispositivo que manipula baratas. O objetivo do aparelho é mostrar que é possível entender como a microestimulação neural e a neurotecnologia funcionam por meio de experimentos simples e materiais baratos.
Em uma entrevista ao Canaltech, Gage conta que a neurociência é um dos campos que menos tem tido progressos ao longo dos anos. Ele acredita que, assim como aconteceu com a revolução computacional, a ciência que estuda o sistema nervoso pode se democratizar por meio desses experimentos.
“Grandes marcas como a IBM criaram computadores extremamente caros que apenas empresas podiam ter. Foram precisos algumas experiências caseiras, feitas por hackers, para que os computadores pessoais surgissem. A Apple é o melhor exemplo disso. Ou seja, a gente não teria tido acesso às ferramentas e facilidades dos computadores se não fossem essas pessoas que exploraram as máquinas em casa”, disse.
Além do PhD em neurociência, ele é CEO da Backyard Brains (Cérebros de Jardim), uma startup focada em experimentos que conecta hardwares baratos a insetos. O propósito, mais uma vez, é desmistificar a neurociência.
“Analisamos os equipamentos avançados de pesquisa, pegamos a essência do que são e colocamos em kits open source que permitem ao público interagir pela primeira vez com a neurociência. Aprendemos como os neurônios agem, como os músculos movem, como plantas se comunicam. Foi a forma que achei de explorar essas coisas que temos contato a vida inteira, mas não sabemos ao certo como funcionam. Espero que isso estimule as pessoas a publicarem seus próprios experimentos e que a neurociência não fique restrita aos cientistas”, explicou.
O engenheiro ainda chama a atenção para o fato de que uma entre cada cinco pessoas tem 20% de chance de desenvolver uma doença neurológica que ainda não tem cura, como a doença Lou Gehrig, que causa a morte dos neurônios de controle dos músculos voluntários, depressão e Alzheimer.
“Existem tratamentos para essas doenças, mas não há cura. Por isso há muito trabalho que podemos fazer para entender como nosso sistema nervoso funciona. Eu defendo a neurorevolução, amadores contribuindo de forma significativa para a neurociência. Quero despertar a neurociência para estudantes treinando-os a fazerem as perguntas certas”, finalizou.
Gage é membro sênior do TED, onde discute inovações no campo da neurociência. No site do TED é possível ver vídeos de todas as suas palestras.