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As noites estão esquentando mais rapidamente do que os dias. Mas por quê?

Por| Editado por Patricia Gnipper | 29 de Outubro de 2021 às 20h20

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NASA
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Quando se fala em aquecimento global, é muito comum que as altas temperaturas registradas durante o dia sejam diretamente associadas a este fenômeno. No entanto, as mudanças climáticas têm impactado também as temperaturas mais baixas do dia a dia, aquelas registradas quando o Sol se põe. Em outras palavras: as noites estão ficando mais quentes, e estão esquentando num ritmo mais acelerado do que os dias.

Sim, cientistas têm observado que as temperaturas noturnas estão aumentando bem mais do que as registradas durante o dia, o que eles chamam “assimetria de aquecimento”. Embora este fenômeno ainda seja pouco compreendido, ele tem sido observado em todo mundo e não há dúvidas quanto aos impactos profundos que esta mudança provocará ao sistema terrestre.

Culpado número 1: o aquecimento global

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O efeito estufa é um processo físico que ocorre naturalmente na atmosfera da Terra. Quando a radiação do Sol reflete na superfície, parte deste calor fica retido por determinados gases atmosféricos, que, posteriormente, irradiam este calor de volta à superfície, funcionando como uma espécie de cobertor. Na medida certa, este fenômeno é de vital importância, pois o planeta seria um lugar frio sem ele — o planeta Marte, seco e frio, é um exemplo da insuficiência do efeito estufa. No entanto, em excesso, provoca um efeito antagônico.

Entre estes gases, conhecidos como gases de efeito estufa (GEE), destaca-se o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4). O problema é que as atividades humanas, como a queima de combustíveis fósseis, têm produzido uma grande quantidade destes elementos, elevando os níveis atmosféricos dos gases de efeito estufa. Uma vez que este "cobertor" se torna mais espesso, a temperatura média global aumenta, dando origem ao fenômeno conhecido como aquecimento global.

As consequências do aquecimento global são diversas e, em diferentes partes do planeta, elas já podem ser observadas, como no derretimento das calotas polares, o que vem elevando os níveis do oceano — e a tendência é que este processo seja cada vez mais veloz. Outro efeito é o aumento da umidade, consequentemente gerando mais nuvens.

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Culpado número 2: a atmosfera mais úmida

Em 2020, uma pesquisa liderada pela Universidade de Exeter, na Inglaterra, apresentou a análise das temperaturas mínimas e máximas registradas diariamente entre 1983 e 2017, a partir dos dados fornecidos pela Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA, na sigla em inglês) dos EUA. O estudo observou que 54% da superfície da Terra experimentou alguma variação de aquecimento superior a 0,25 °C entre o dia e a noite ao longo destes 35 anos.

Como já esperado, o crescente aumento dos níveis de GEE estão elevando tanto as temperaturas máximas quanto as mínimas, mas a pesquisa apresentou uma tendência de isso acontecer em maior intensidade à noite. A assimetria de aquecimento tem sido impulsionada principalmente pelas mudanças na proporção da cobertura de nuvens, que tem aumentado à medida que o planeta se torna mais quente e, portanto, também mais úmido.

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Assim como os gases de efeito estufa, as nuvens também funcionam como um cobertor que retém parte do calor emanado pela superfície, embora não absorva tanto quanto os GEE. Segundo o pesquisador Daniel Cox, do Insituto de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Universidade de Exeter e principal autor do estudo, enquanto a temperatura noturna sobe mais rapidamente do que a diurna em regiões com aumento das nuvens, nos locais mais secos é a temperatura do dia que aumenta.

Quando o Sol se põe, o calor absorvido pela superfície é rapidamente emanado para a atmosfera, mas, com o aumento da cobertura de nuvens, parte desse calor é empurrado de volta para o chão, fazendo com que as noites fiquem cada vez mais quentes — se comparadas à elevação das temperaturas diurnas.

Fonte: The Guardian, NASA