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Aquecimento global X mudanças climáticas: qual a diferença?

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Reprodução: Pete Linforth/Pixabay
Reprodução: Pete Linforth/Pixabay

Quando o assunto é meio ambiente, dois termos são trazidos à tona: o aquecimento global e as mudanças climáticas. Sabemos que o planeta Terra vem sofrendo algumas consequências das ações humanas, entre outras naturais, que já são vistas há bastante tempo, mas muitas pessoas ainda têm dúvidas em relação ao que vem acontecendo e como agir para prevenir que a situação continue se agravando.

Para ajudar nessa conscientização, o Canaltech conversou com Willians Bini, meteorologista e diretor de projetos da Somar Meteorologia, que explicou a diferença entre os dois termos, e como isso vem impactando em nosso planeta. E para entender a questão, é preciso voltar no tempo para relembrar como foi o início desses alertas. Bini conta que o termo aquecimento global começou a ser debatido ainda no final dos anos 1980 e início de 1990, ganhando bastante evidência em todo o mundo. Naquela época, muito se falava sobre a emissão dos gases CFC, que interferiam na camada de ozônio, resultando em mais radiação e aquecimento, e o tema vem sendo debatido até hoje.

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Porém, o monitoramento do clima começou a ser feito muito antes, há pouco mais de 100 anos. "Os primeiros registros são do final do século 19, quando os primeiros termômetros começaram a ser instalados. Temos uma fatia muito pequena de medição perante várias eras que o planeta passou, e os cientistas sabem que passamos por inúmeras variações, várias grandes eras do gelo, períodos de aquecimento e períodos de resfriamento", conta o profissional.

Então, com este assunto em pauta há quase 40 anos, o mundo começou a ficar alerta em relação a como essa questão poderia ser prejudicial à humanidade. Bini diz que ao pegar o histórico de temperatura de uma região, já é possível ver a curva crescendo ao longo dos anos, mesmo que sejam apenas décimos de graus. "O mundo está aquecendo? Está, não tem como negar. Temos que considerar, então, quais são os fatores que estão fazendo com que as temperaturas estejam subindo", conta. O vídeo abaixo, inclusive, de propriedade da NASA, mostra os efeitos do aumento da temperatura no globo:

Aquecimento global X mudança climática

O aquecimento global é uma consequência da intervenção do ser humano na natureza, principalmente com a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), gás metano (CH4), óxido nitroso N20 e hexafluoreto de enxofre (SF6), e essa emissão acontece, principalmente, com o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis.

O fenômeno efeito estufa é essencial para absorver parte da radiação emitida pelo Sol, fazendo com que o restante seja emitido ao planeta, o aquecendo, e sem ele viveríamos em baixas temperaturas. Porém, quando em excesso, consequentemente o aquecimento que chega até nós é maior.

Então, afinal, qual a diferença entre aquecimento global e mudança climática? A resposta é diferente, mas há relação entre elas. De acordo com o profissional, o aquecimento global está incorporado na questão das mudanças climáticas que, por sua vez, é um termo um pouco mais amplo, que explica as alterações, em variáveis médias, que não se aplicam apenas à temperatura.

Basicamente, o aquecimento global está se referindo ao aquecimento da Terra a longo prazo, e as mudanças climáticas se referem não só ao planeta estar esquentando, como também nas consequências disso, em alterações mais amplas que envolvem o aumento ou redução da quantidade de chuva, maior frequência de temporais, temporada de furacões mais intensa, aumento ou redução da umidade do ar, entre outras questões.

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"As mudanças climáticas também analisam eventos extremos do clima. Por exemplo, se tem ocorrido mais furacões, mais tempestades, mais ou menos neve, e tudo mais incorporado às mudanças em relação ao que considerávamos como normal. Já o aquecimento global foca, principalmente, na questão do aumento das temperaturas", explica Bini, que também acrescenta mais um ponto.

"A grande questão é que quando a gente fala em aquecimento global, as variáveis meteorológicas são relacionadas, são interligadas, existe toda uma questão de um balanço na atmosfera. Então, se uma região está mais quente, é natural que outras variáveis meteorológicas sejam influenciadas também", completa.

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E qual é a gravidade das mudanças climáticas? 

O Canaltech também perguntou a Bini quais são as consequências que as alterações climáticas podem trazer para a Terra, e a resposta não é tão simples assim. O profissional diz que a questão é bem controversa, pois existem várias linhas de pesquisa sobre o tema, com pesquisadores renomados tendo opiniões diferentes e resultados de estudos e pesquisas também diferentes.

Bini diz que existem dois extremos, que envolvem linhas de pesquisa diferentes. Uma delas diz que o planeta está seguindo uma direção em que as mudanças climáticas têm sido extremamente perigosas e significativas, e que se nada for feito, realmente iríamos para uma situação caótica. "Teria a elevação do nível dos mares, a redução das áreas de plantio, o que é muito importante, além de alterações na composição atmosférica, de gases, o que seria algo bem complicado", conta. Tudo isso considerando o fator antropogênico, termo que se refere às ações da humanidade no planeta, com a emissão de poluentes, por exemplo.

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Por outro lado, há uma outra linha de pesquisadores que consideram essas alterações do clima como parte de um ciclo natural. "Alguns defendem a hipótese de que tudo isso é algo dentro de um ciclo que já se repetiu antes, que pode se repetir daqui a milhares de anos", explica Bini, dizendo ainda que, pontualmente, não há como dizer que a primeira hipótese não existe.

"Grandes metrópoles, como São Paulo, têm um clima diferente do início do século 20 porque teve sim uma industrialização. A cidade é totalmente diferente e isso altera sim o clima, dificilmente um pesquisador vai contra isso. Então existem, sim, fatores antropogênicos que alteram o microclima de grandes cidades", exemplifica. Outro exemplo concedido é sobre a criação de grandes empreendimentos que exigem o desmatamento de uma grande área, por exemplo, o que vai provocar uma alteração local do microclima, basicamente uma mudança climática em menor escala.

Então, a determinação da gravidade das consequências das alterações climáticas vai depender de cada linha de pesquisa. Para Bini, que é mestre em meteorologia, estão acontecendo mudanças no clima em diferentes escalas, mas também não se deve deixar de considerar possíveis ciclos climáticos naturais. "Não é um único fator. São outros fatores, além da questão antropogênica, que podem estar contribuindo", diz Bini, citando que eventos mais recentes usados em pesquisas, como o El Niño e La Niña, por exemplo, que são mais fáceis de estudar, pois eles estão acontecendo com uma periodicidade curta. Já com os eventos de milhares de anos atrás isso não é possível, pois são ciclos muito mais demorados.

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E o futuro?

Infelizmente, o futuro será definido com base em cenários e não há como prever com precisão os próximos acontecimentos. Segundo o profissional, vai ser muito difícil que uma ação a curto prazo faça com que as mudanças climáticas deixem de ser um problema. "Temos a população crescendo, o que envolve o consumo de alimentos, áreas de plantio, a questão de gado e outras fontes de proteína, que são preocupações muito grandes e que são crescentes. Então, é difícil reverter o atual cenário. Em curto prazo, não há como voltar às condições climáticas existentes no século 19 e início do século 20", exemplifica.

Sendo essa a realidade, é preciso encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade e a questão ambiental, o que envolve vários governos ao redor do mundo, que trazem promessas de parar com emissões, com a poluição, entre outros debates. Atualmente, o tema ainda não é motivo para pânico, por mais que seja uma situação de alerta e que exija a conscientização por parte de políticos e dos cidadãos. Porém, como diz o meteorologista, nas próximas décadas, se nada for feito, as gerações futuras sentirão esse impacto com mais força.

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"Eu acredito muito no poder de adaptação do ser humano, como uma espécie que evoluiu e vem se adaptando a diferentes regiões do planeta e também a diferentes condições climáticas. Temos uma capacidade muito grande de adaptação. Então, eu acredito sim que nós iremos encontrar um ponto de equilíbrio sustentável entre a tecnologia, inovação e o uso consciente de nossos recursos naturais. Mas esses resultados serão notados apenas pelas próximas gerações", finaliza.

Com informações de Climate.gov, Global Climate Change