Onde é guardado e o que é feito com o lixo nuclear das usinas brasileiras?
Por Danielle Cassita • Editado por Rafael Rigues |
Você sabe onde é guardado o lixo nuclear das usinas brasileiras? Hoje, o lixo radioativo gerado pelas usinas Angra 1 e 2 é armazenado em piscinas, mas será futuramente levado para instalações complementares em uma área que ainda será construída no complexo delas. Independentemente da origem, o lixo precisa ser gerenciado e armazenado de forma que minimize ao máximo qualquer impacto sobre o meio ambiente.
De forma geral, a produção de eletricidade gera resíduos e, no caso das usinas nucleares, isso não é diferente. Nelas, grande quantidade de energia é produzida a partir de pouco combustível, o que forma uma quantidade relativamente pequena de lixo. Contudo, grande parte destes resíduos é perigosa em função da radiação, e exige manejo adequado.
Nos países com usinas nucleares, o lixo radioativo representa uma porção muito pequena dos resíduos industriais produzidos. Mesmo assim, todo e qualquer rejeito radioativo precisa ser gerenciado sempre de acordo com processos rígidos de segurança, para evitar a contaminação do ambiente e danos à saúde.
Saiba mais sobre o lixo nuclear das usinas brasileiras:
Onde é guardado o lixo nuclear das usinas brasileiras?
As usinas nucleares brasileiras ficam na Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA). Localizado em Angra dos Reis (RJ), o complexo abriga as usinas nucleares Angra 1 e 2 que, juntas, produzem 3% da energia consumida no país; já Angra 3 está em construção e ainda não opera comercialmente. Tanto Angra 1 quanto 2 funcionam com elementos combustíveis em seus reatores. Estes combustíveis são formados por conjuntos de varetas repletas de pastilhas de material, usado nas reações de fissão nuclear.
Geralmente, os elementos combustíveis ficam no núcleo do reator por três anos. Quando já não podem mais gerar energia economicamente viável, estes compostos recebem o nome “elemento combustível irradiado” (ECI). Nesta etapa, os ECIs são levados para contêineres no interior de piscinas nas usinas, equipadas com sistemas para a remoção do calor residual dos ECIs.
Acima dos combustíveis há uma camada de 7 m de água borada, que reduz a radiação para a segurança dos funcionários que trabalham por lá. Apesar da eficiência, as piscinas de armazenamento de combustíveis usados têm capacidade limitada de uso; por isso, será necessário construir uma Unidade de Armazenamento Complementar a Seco (UAS), uma instalação projetada exclusivamente para esta finalidade.
Segundo a Eletronuclear, a empresa responsável pelas usinas do CNAAA, este sistema terá estruturas de metal em aço inoxidável capazes de armazenar até 37 elementos combustíveis, confinando o material radioativo e permitindo trocas de calor com o ambiente. Este é o mesmo tipo de armazenamento usado em 70 sítios nos Estados Unidos e, até hoje, não há registros de vazamentos de materiais radioativos.
Apesar de os resíduos radioativos serem popularmente relacionados às atividades das usinas nucleares, é importante lembrar que não são exclusivos delas. Como compostos radioativos são usados na medicina, agricultura, pesquisas, exploração de minérios e outras, o termo "rejeito nuclear radioativo" vale tanto para o lixo das usinas quanto para materiais de outras atividades. Além disso, ao contrário do que vemos em outros resíduos industriais nocivos, a radioatividade destes compostos diminui com o tempo; apenas uma pequena parte do lixo radioativo exige isolamento por milhares de anos.
O que é feito com o lixo radioativo?
Cada atividade gera resíduos de diferentes níveis de radioatividade: por exemplo, hospitais, indústrias e o próprio ciclo dos combustíveis nucleares geram resíduos de nível baixo (“LLW”, na sigla em inglês), classificação dada ao lixo que excede 4 giga-becquerels por tonelada de atividade (GBq/t) de radiação alfa ou 12 GBq/t de radiação beta e gama. Este tipo de lixo radioativo não exige proteções para o manuseio e transporte, e geralmente é compactado ou incinerado antes do descarte.
Já o lixo de nível intermediário, vindo de resinas, materiais contaminados após o fim das operações de reatores e até revestimento de combustível metálico, gera mais calor que o de nível baixo; por isso, este tipo de resíduo precisa de proteções especiais para seu manejo. Se o resíduo representar itens pequenos e não-sólidos, eles podem ser solidificados em concreto para o descarte.
Por fim, chegamos aos resíduos de alto nível radioativo (HLW), normalmente vindo da “queima” do urânio nos reatores nucleares. Como este tipo de lixo contém os produtos da fissão e elementos gerados no núcleo do reator, ele é radioativo o suficiente para aumentar sua temperatura e de seus arredores, de modo que exige resfriamento e proteções adequadas. Dito isso, o procedimento de descarte vai depender do tipo de resíduo.
Tomemos os LLW como exemplo: este tipo de lixo radioativo costuma ser armazenado próximo da superfície ou em cavernas abaixo do nível do mar. Já os HWL são armazenados em locais seguros (como piscinas ou estruturas tanto nos locais dos reatores quanto nos arredores deles) para o decaimento da radioatividade e calor — o problema é que esta é uma alternativa temporária.
A solução mais amplamente aceita no momento é colocá-los em depósitos geológicos profundos, prática aplicada na Finlândia, por exemplo. Hoje, cientistas, geólogos e engenheiros têm planos detalhados de segurança para depósitos subterrâneos de resíduos nucleares de alta atividade. Estes depósitos foram desenhados com uma série de camadas de proteção, como uma forma de garantir que a radiação nociva não chegará à superfície mesmo que haja algum evento extremo, como um terremoto forte.
Fonte: Via: Eletronuclear, World Nuclear, USP