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Soldados russos estão com síndrome aguda da radiação pela poeira de Chernobyl

Por| Editado por Luciana Zaramela | 31 de Março de 2022 às 11h59

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Stramyk/Envato Elements
Stramyk/Envato Elements

Em 24 de fevereiro deste ano, iniciou-se a invasão russa da Ucrânia, com tropas da Rússia entrando e se espalhando por todo o país, buscando controlar zonas estratégicas e capturar a capital, Kiev (Kyiv, em ucraniano). Entre os esforços de guerra, a Rússia tomou o controle de Prypiat, cidade no norte da Ucrânia onde fica a usina nuclear de Chernobyl, bem como sua zona de exclusão, área ainda radioativa devido à explosão do quarto bloco, em 1986.

A conquista do território norte da Ucrânia onde a usina se localiza foi no primeiro dia da invasão, mas foi só neste mês de março que as tropas russas passaram pela zona de exclusão de Chernobyl. Uma floresta de pinheiros no local, cujas folhas se tornaram vermelhas devido à absorção de altas doses de radiação — e, por essa razão, chamada "Floresta Vermelha" — foi cruzada por soldados na ocasião.

Ontem (30), um funcionário da administração local informou que as tropas russas que recuavam do território estavam sofrendo de síndrome aguda da radiação, ou envenenamento por radiação.

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Incidente com poeira radioativa

Yaroslav Yemelianenko, funcionário do Conselho Público na Agência de Estado da Ucrânia para a Administração da Zona de Exclusão, foi quem fez o reporte do incidente, em sua página pessoal no Facebook. O pentágono havia confirmado que as tropas russas estavam recuando de Chernobyl, mas foi o ucraniano que deu detalhes sobre a condição dos soldados. Segundo ele, os russos foram levados até a Bielorrússia, no centro de medicina radioativa de Gomel, para tratamento.

Yaroslav comenta incisivamente sobre a falta de cuidado dos russos, lembrando das regras para lidar com o território radiativo: "Elas são obrigatórias porque radiação é física. Ela funciona independente de perseguições ou status. Com o mínimo de inteligência no comando ou nos soldados, essas consequências poderiam ter sido evitadas". Cerca de 7 ônibus carregando soldados chegaram ao Centro Prático e Científico da República para Medicina Radioativa e Ecologia Humana na Bielorrússia, segundo informações de um canal televisivo do país.

O que é síndrome da radiação aguda?

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Também chamada doença da radiação ou envenenamento radioativo, a síndrome é causada pela alta exposição do corpo à radiação ionizante. Os sintomas surgem em até 24 horas após o contato com os elementos radioativos, que causam danos ao DNA e demais estruturas moleculares fundamentais das células corporais.

Em doses menores, isso causa vômitos e náuseas, além de deixar o indivíduo mais suscetível a infecções e hemorragias. Maior exposição pode causar efeitos mais sérios, como problemas neurológicos e morte rápida. Os sintomas podem persistir por meses, e o tratamento é feito com transfusão de sangue e antibióticos — casos mais sérios podem requerer a transfusão de medula óssea.

Descuidos com radiação

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Fontes presentes no local visitado pelas tropas russas contaram à Reuters que as forças do país passaram pela zona proibida da Floresta Vermelha com veículos, mas sem qualquer equipamento de proteção contra radioatividade, então é muito provável que tenham inalado material nuclear, ou seja, que irá causar radiação interna em seus corpos. O atual diretor em comando da usina de Chernobyl, Valery Seida, comentou preocupado que "ninguém vai até lá... pelo amor de deus".

Seida tentou alertar os soldados acerca do perigo, mas eles não o deram ouvidos, e mais — não pareciam entender a importância do local. Quando outro trabalhador local questionou se sabiam sobre o desastre de 1986, a explosão do quarto bloco da usina e a dispersão da radiação, responderam que não faziam ideia. Além do risco que correram ao passar pelo local, o comboio armado ainda acabou espalhando poeira radioativa por toda a área: sensores de radiação registraram picos até sete vezes mais altos do que os níveis normais.

Esses não foram os únicos problemas causados pela invasão russa ao local: trabalhadores locais também acusam as tropas de impedirem esforços de apagar inúmeros incêndios nas florestas da zona de exclusão de Chernobyl, além de funcionários da usina terem de trabalhar sob a mira de armas e condições de trabalho parcas. Vale lembrar que o local não é mais utilizado para gerar energia, mas fica sob constate supervisão para evitar acidentes radioativos. Os soldados teriam, também, destruído um dos laboratórios de monitoramento de radiação no local.

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Para completar, um reporte da semana passada informa o sumiço de materiais radioativos de pelo menos um laboratório local, que os cientistas acreditam poder serem usados na fabricação de uma bomba suja — ou seja, feita com explosivos comuns e cujo objetivo é espalhar radiação por uma área limitada de atuação. Apesar não haver perigo de uma catástrofe como a de 1986, segundo especialistas, a situação do local é a mais precária desde o incidente.

Fonte: Reuters, CNN, Mirror