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Existe usina nuclear no Brasil? Onde fica e como funciona?

Por  • Editado por  Rafael Rigues  | 

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Rodrigo Soldon/Flickr
Rodrigo Soldon/Flickr

Caso você já tenha se perguntado se existe usina nuclear no Brasil, saiba que nosso país conta com três instalações do tipo. Elas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAAA), um complexo localizado na cidade de Angra dos Reis (RJ) que abriga as usinas Angra 1 e 2, operando a plena capacidade; já Angra 3, a terceira usina do CNAAA, ainda está em construção e o esperado é que inicie as atividades ainda nesta década.

As primeiras usinas nucleares iniciaram suas operações durante a década de 1950. Hoje, passados mais de 70 anos, a Associação Nuclear Mundial (ou “WNA”, na sigla em inglês) estima que 10% da eletricidade mundial venha dos mais de 400 reatores nucleares espalhados pelo mundo. Há mais de 30 países com usinas nucleares operacionais em seus territórios, sendo que alguns deles dependem parcialmente delas.

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Já no Brasil, as usinas Angra 1 e 2 produzem aproximadamente 3% da energia consumida em nosso país — para comparação, vale lembrar da usina hidrelétrica de Itaipu, considerada a maior geradora de energia limpa e renovável no planeta. Sozinha, Itaipu produz cerca de 8,4% da energia consumida no Brasil e 85,6% do consumo elétrico no Paraguai.

Saiba mais sobre as usinas nucleares de Angra dos Reis:

As usinas nucleares no Brasil

Angra dos Reis foi a cidade escolhida para abrigar a Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto por diferentes motivos. Um deles é a proximidade com o Rio de Janeiro e São Paulo, que facilita a transmissão da energia elétrica produzida para os grandes centros que precisam dela. Outro fator que pesou na decisão é a proximidade com o mar, cuja água auxilia no sistema de resfriamento das usinas.

Angra 1, a primeira usina nuclear brasileira, iniciou suas operações comerciais em 1985. Os primeiros anos de atividades foram acompanhados de problemas em equipamentos corrigidos na década de 1990, permitindo que Angra 1 operasse acompanhando padrões de desempenho internacionais. Com potência de 640 megawatts, a usina é capaz de gerar energia suficiente para abastecer cidades com 1 milhão de habitantes, como Porto Alegre.

Já Angra 2, a segunda usina nuclear brasileira, iniciou as operações comerciais em 2001. Segundo a Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas, Angra 2 teve performance exemplar desde o início, e seu funcionamento permitiu economia de água significativa dos reservatórios das hidrelétricas. De acordo com a empresa, Angra 2 consegue produzir 1.350 megawatts, o suficiente para atender o consumo de cidades com 2 milhões de habitantes, como Belo Horizonte.

Por fim, Angra 3 será a terceira usina do CNAAA. Mais de 60% das obras civis da usina já foram concluídas, e Leonam Guimarães, presidente da Eletronuclear, estimava em 2019 que a usina deveria iniciar as operações comerciais em 2026. A ideia é que Angra 3 seja a “irmã gêmea” de Angra 2, equipada com tecnologia alemã e melhorias incorporadas ao longo de atualizações do projeto, como controles digitais.

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Embora haja vários benefícios, é importante lembrar também que as usinas produzem resíduos que, se não forem destinados corretamente, podem se manter radioativos por longos períodos, colocando em risco a saúde humana por milhares de anos; além disso, reações nucleares descontroladas poderiam também contaminar a água e o ar. Apesar de preocupantes, a chance de algum cenário destes acontecer é mínimo, graças a extensos cuidados com a segurança das usinas.

No caso de Angra, há diferentes proteções para garantir a segurança das instalações e de suas operações, como as paredes de concreto e aço envolvendo o circuito primário, análises de riscos inerentes ao projeto, entre outros. Estas medidas não eliminam completamente os riscos, mas os reduzem a níveis baixíssimos — segundo a Eletronuclear, em 30 anos de operação das usinas de Angra nunca houve um acidente ou evento que pusesse em risco os trabalhadores das usinas, a população ou o meio ambiente da região.

A energia nuclear no Brasil

O funcionamento das usinas nucleares está intimamente relacionado às propriedades dos átomos de determinados elementos químicos que permitem transformar massa em energia, conforme demonstrado por Albert Einstein. Há elementos que permitem que este processo ocorra espontaneamente, mas em outros, precisa ser provocado por meio de algumas técnicas específicas.

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Esta energia pode ser obtida para gerar eletricidade de diferentes formas — no caso das usinas nucleares de Angra dos Reis, o meio adotado é a fissão nuclear do urânio, um processo em que o núcleo atômico é dividido e, assim, libera energia. Só que, para poder ser utilizado nas reações de fissão, o urânio precisa primeiro passar pelo enriquecimento, um processo que o concentra no isótopo urânio-235, mais leve.

Como não queimam combustíveis fósseis, as usinas não emitem poluentes para a atmosfera. Ainda, o urânio usado nelas está disponível em amplas quantidades pelo mundo, sendo um combustível de baixo custo sem riscos de escassez a médio prazo. Apesar de o Brasil ser rico no elemento, ainda levou algum tempo até as usinas nucleares chegarem ao nosso país: foi em 1951 que o antigo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) foi criado, marcando o início do interesse por tecnologia nuclear no Brasil.

Entre os envolvidos na criação da instituição, estava Álvaro Alberto, almirante da Marinha com carreira marcada pelo estudo da física nuclear. Ele queria criar uma instituição governamental para incrementar, amparar e coordenar a pesquisa científica nacional, e foi presidente do CNPq (hoje, a instituição é chamada “Conselho Nacional de Pesquisas”) até 1955.

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Por mais de 30 anos, Álvaro Alberto lecionou disciplinas relacionadas à química dos explosivos e à física nuclear, sem nunca deixar de lado seus estudos sobre o assunto; assim, ele é o pioneiro no Brasil sobre os estudos e pesquisas da energia nuclear, e teve importância fundamental para a criação do Programa Nuclear Brasileiro.

Fonte: EletronuclearItaipu; Via: BBC, World Nuclear, FEI, Marinha