Gelo diminui, e "ilha" desconhecida surge na costa da Antártida
Por Wyllian Torres • Editado por Rafael Rigues |

Uma possível ilha surgiu na costa leste da Antártida, em uma região anteriormente coberta pelas plataformas de gelo Glenzer e Congler, que perderam grande parte de seu gelo nas últimas décadas. Caso a formação seja confirmada como uma ilha, esta seria apenas mais uma que foi exposta conforme o gelo glacial do continente recua diante do aquecimento global.
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A ilha, ainda sem nome, foi observada em uma série de imagens dos satélites Landsat, obtidas entre 1989 e 2022. Os registros são uma combinação de infravermelho de ondas curtas e luz visível, com apenas alguns ajustes em sua cor e brilho.
Na sequência de imagens, é possível observar como a suposta ilha permaneceu do mesmo tamanho e na mesma posição ao longo de décadas, mesmo após o gelo da plataforma próxima ter recuado.
A ilha, que aparece como um monte branco com formato circular, provavelmente resistiu até mesmo à colisão de enormes icebergs após as plataformas Glenzer e Conger terem desmoronado em março deste ano, mesmo em uma região considerada “estável” em relação aos efeitos do aquecimento global.
Dados adquiridos no ano passado pelo satélite ICESat-2, da NASA, ajudaram a estimar a altura da possível ilha. Ao que tudo indica, a formação parece se erguer de 30 a 35 metros acima do nível médio do mar, destacando-se em altura de seus arredores.
Será mesmo uma ilha?
Embora a estrutura se assemelhe a uma ilha, os cientistas ainda não têm certeza se existe terreno sólido logo abaixo do gelo e neve que cobre a formação. Para John Gibson, pesquisador da Divisão Antártica Australiana, as características indicam ser provavelmente uma ilha de gelo.
Ilhas de gelo são normalmente formadas por uma enorme e pesada massa de gelo, cujo pico supera o nível do mar. “É, sem dúvida, semelhante a outras ilhas de gelo, como Bowman Island”, acrescentou Gibson. Ele acrescentou que a formação seria uma ilha de gelo “autoperpetuadora”.
Isso significa que o gelo e a neve acumulados acima da superfície do mar compensam o derretimento do gelo abaixo dela. Se houver um desiquilíbrio, a ilha pode diminuir e passar a flutuar como um iceberg. Hoje, a formação é uma característica relativamente permanente da paisagem, mas um dia ela pode deixar de existir.
O glaciologista Christopher Shuman, da Universidade de Maryland, explicou que para confirmar se a ilha é feita apenas de gelo ou se também possui uma parte de terra, é necessário um navio ou um radar para detectar algum afloramento rochoso e a espessura da camada de gelo.
À medida que a Antártida perde seu gelo glacial e marinho, uma série de outras ilhas surgiram desse processo. Em 2019, o Conselho de Nomes Geográficos dos EUA oficializou a Ilha Quebra-Gelo, que se isolou da plataforma de gelo Larsen B em 1996.
Em 2020, em uma expedição a bordo de um navio, pesquisadores descobriam uma ilha rochosa coberta de gelo. Eles acreditam que ela tenha sido parta da geleira de Pine Island. Shuman acrescentou que mais dessas formações devem surgir nos próximos anos.
Embora sejam características novas para os pesquisadores e, portanto, ainda não exista um padrão no surgimento delas, essas características, até então ocultas, passarão a ser consideradas em futuras pesquisas e simulações climáticas.
Fonte: Via Earth Observatory