Estamos perdendo diversidade das árvores do planeta — e isso é muito grave
Por Augusto Dala Costa • Editado por Patricia Gnipper |
Cientistas ambientais e botânicos alertam que nossas florestas estão correndo perigo, com muitas espécies de árvore em risco de extinção e, com elas, ecossistemas inteiros. Em 2021, a análise global Estado das Árvores do Mundo sugeriu que 1/3 de todas as espécies de árvore, na verdade, estão ameaçadas — ou seja, cerca de 17.500 tipos diferentes de planta.
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O número de árvores em perigo é o dobro do número de tetrápodes ameaçados: em outras palavras, o dobro de anfíbios, répteis, mamíferos e pássaros. Algumas árvores são tão raras que possuem apenas um exemplar conhecido, como o solitário pinheiro Hyophorbe amaricaulais, endêmico das ilhas Maurício.
Estamos perdendo árvores
A mesma equipe responsável pelo alerta global publicou um artigo na revista científica Plants, People, Planet com um alerta mais sério à humanidade, comentando os riscos que uma extinção arbórea em massa representa para nossa espécie e muitas outras que habitam a Terra. Outros 45 cientistas, de 20 países diferentes, apoiam a pesquisa e seus resultados.
A maioria das frutas que consumimos advém das árvores, além de nozes e medicamentos. Produtos não relacionados à madeira representam cerca de R$ 448 bilhões em potencial comercial. Nos países em desenvolvimento, 880 milhões de pessoas dependem de lenha para se aquecer e cozinhas, e 1,6 bilhão vivem a 5 km de florestas, dependendo delas para alimento e renda.
Além disso, cada árvore tem seu próprio ecossistema, com vida uni e multicelular que inclui outras plantas, fungos, bactérias e animais. Não raro, as árvores são a base de toda a rede vital ao seu redor: metade de todos os animais e plantas do mundo dependem de habitats florestais.
Perder a diversidade das espécies arbóreas diminui também a diversidade das respostas imunes, genes e respostas a condições ambientais, ou seja, as chances de sobreviver às ameaças à complexa cadeia de interações da vida na terra fica cada vez menor. Algumas árvores proporcionam interações únicas, que não podem ser substituídas por nenhuma outra espécie.
Um exemplo é o dragoeiro (Dracaena cinnabari), resquício das antigas florestas do Oligoceno do qual dependem várias espécies, como a polinizadora lagartixa-leopardo. Perder uma árvore causa um efeito dominó que afeta todas as espécies interligadas. Espécies dependentes das florestas já foram reduzidas em 53% desde os anos 1970, e mais florestas pelo mundo mostram sinais de estresse.
Perigo a todo o planeta
O solo, atmosfera e clima do planeta também são ligados às árvores, já que elas limpam o ar, produzem oxigênio e são parte integrante do sistema das chuvas. Nas florestas, estão 3/4 da água potável acessível ao mundo e mais da metade de seu dióxido de carbono. Perder árvores é afetar a ciclagem do carbono, da água e dos nutrientes, o que levará a um grande caos.
Florestas diversas, vale ressaltar, guardam mais carbono do que monoculturas, como provado pelos cientistas. Isso também vale para outras funções ecológicas, como habitat animal, estabilização do solo, resiliência contra tempestades e clima adverso e a pestes e doenças.
Às portas da Cop15, conferência de biodiversidade que ocorrerá em dezembro, urge trazer atenção às árvores, e florestas, elementos que temos por garantido na natureza — mas que dependem do nosso esforço para continuar existindo. R$ 6,62 trilhões são trazidos à economia global pelas árvores todos os anos, mas continuamos as derrubando para construir fazendas. É hora de repensar as prioridades econômicas e ambientais do planeta.
Fonte: Plants, People, Planet