Desmatamento da Amazônia pode prejudicar combate ao aquecimento global
Por Danielle Cassita • Editado por Rafael Rigues |
Carlos Nobre, pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), estima que se o ritmo atual de desmatamento, degradação e queimada da Amazônia continuar, até 70% da floresta podem ser perdidos em 50 anos. O alerta veio durante uma mesa-redonda realizada no fim de julho, durante a 74º Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
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Em sua fala, Nobre observou que as florestas tropicais comportam mais de 400 bilhões de toneladas de carbono capturado da atmosfera, e a maior parte deste total está na Amazônia. “Só a perda de 50% a 70% da floresta amazônica jogaria na atmosfera 300 bilhões de toneladas de carbono”, disse ele.
Segundo ele, mesmo que as emissões de gás carbônico da queima de combustíveis fósseis sejam reduzidas até 2050, a degradação da Amazônia e de outras florestas tropicais faria com que o aquecimento global chegasse à marca de 2,4 ºC. Neste cenário, a região que hoje abriga a floresta acabaria com características bem diferentes daquelas que conhecemos hoje.
Ela teria poucas árvores, muitas gramíneas e arbustos, e perderia grande parte de suas funções. “A floresta se restringiria a áreas próximas dos Andes, onde a estação seca é muito curta e os volumes de chuva são maiores”, disse. Além disso, a floresta perderia também sua capacidade de absorção do carbono.
Por fim, Nobre lembrou que a comunidade científica já tem dúvidas se ainda é possível impedir que a Amazônia chegue ao chamado “ponto de não retorno”, nome dado ao processo em que a floresta é tão desmatada que se torna um ambiente com menos chuvas; através de um ciclo vicioso de queimadas, ela acaba cada vez mais seca.
“Pessoalmente, acho que isso é possível se conseguirmos restaurar o sul da Amazônia; dessa forma, a floresta conseguirá se regenerar”, sugeriu ele. Medidas diversas, como zerar o desmatamento da floresta até o fim da década e iniciar um programa de restauração em todo o sul dela podem contribuir para evitar que algo do tipo aconteça.
Fonte: Fapesp