Urano | O planeta mais frio também tem anéis
Por Augusto Dala Costa |
Sétimo planeta mais próximo do Sol no Sistema Solar, terceiro maior e o quarto mais massivo, Urano é gasoso e o mais gelado de todos. Conhecido há mais de 200 anos, o corpo celeste ainda é bastante misterioso, já que sua distância impede estudos detalhados, que se limitam a observações telescópicas. Sabemos, no entanto, muito sobre ele, incluindo diversas curiosidades, como suas várias luas e anéis.
Urano foi descoberto pelo astrônomo anglo-germânico William Herschel, que divulgou o novo planeta em 1781 — apesar disso, como é visível a olho nu, sua existência já era conhecida desde a antiguidade, mas era considerado uma estrela, por brilhar pouco e ter uma órbita lenta. Sua composição lhe confere o título de “gigante gelado”, apelido que Netuno também recebe.
O que se sabe sobre o planeta Urano
Em 1977, quando pesquisadores australianos notaram os anéis de Urano pela primeira vez, a NASA (Agência Espacial Americana) enviou suas primeiras sondas ao planeta — Voyager 1 e Voyager 2. Apenas a segunda visitou o corpo celeste, chegando o mais perto possível até os dias de hoje, 81.500 km, antes de seguir para Netuno.
Devido à grande distância, a sonda só chegou próxima em 1986, notando diversas novidades, como o campo magnético forte, dez novas luas e dois sistemas de anéis novos. De resto, sua exploração tem sido feita majoritariamente por telescópios como o Hubble, que descobriu, em 2004, mais dois satélites e dois anéis.
Urano é opaco, e, quando a Voyager 2 chegou próxima a ele, notou-se a falta de características à luz visível, diferente dos outros planetas gigantes — neles, faixas de nuvens e grandes tempestades são comuns. O planeta aparenta apenas um azul pálido uniforme.
Características de Urano
O sétimo planeta possui o diâmetro de cerca de 4 Terras, com 50.724 km no seu equador. Ele fica a 20 unidades astronômicas do Sol (UA, medidas a partir da distância da Terra até a estrela), ou cerca de 3 bi km. Nessa distância, a luz solar chega a uma intensidade de 1/400 em comparação com a Terra. Para completar um ano, Urano leva 84 anos terrestres, e, para completar um dia, 17h15min.
O eixo de Urano tem uma inclinação de 97,7 graus, o que quer dizer que o eixo de rotação é praticamente paralelo ao plano do Sistema Solar. Isso faz com que o planeta gire “de lado”, de leste para oeste, como uma bola rolando sobre uma superfície, ao contrário dos outros planetas, que lembram o movimento de um pião.
Com isso, perto do solstício, só um dos polos é iluminado pelo Sol, deixando o outro no escuro. Uma faixa pequena no equador experimenta ciclos de dia e noite, muito rapidamente, com a luz ficando baixa no horizonte, como nos polos terrestres. Cada polo uraniano tem 42 anos de escuridão seguidos de 42 anos de luz solar.
Apesar de ser um dos gigantes gasosos, sua composição é diferente de Júpiter e Saturno, sendo mais parecida com a de Netuno. A atmosfera interior de Urano, que fica abaixo de suas nuvens, é composta majoritariamente por hidrogênio e hélio, mas também há muito metano, bem como hidrocarbonetos.
As nuvens são acumuladas em camadas, formando a atmosfera exterior, e astrônomos acreditam que a água forme as mais baixas delas. O manto é formado por água, amônia e metano, todos em formato de gelo. No interior, o núcleo é composto por rochas de silicato e misturas de ferro e níquel.
Seu sistema de anéis é bastante complexo, feito de partículas muito escuras que variam entre um micrômetro a frações de metro no tamanho. Treze sistemas de anéis são conhecidos, a maioria estreitos, e provavelmente não se formaram com o planeta, mas a partir da colisão de um planeta gelado com três vezes a massa da Terra.
A coloração dos anéis varia entre cinza e vermelho, com apenas um sendo azul. Os sistemas ganharam os nomes de Zeta, 6, 5, 4, Alfa, Beta, Eta, Gama, Delta, Lambda, Épsilon, Nu e Mu, na ordem crescente de distância de Urano.
Qual a temperatura de Urano?
Urano possui a atmosfera mais fria em todo o Sistema Solar, chegando a um mínimo de −224 °C e uma média de −220 °C. Além disso, o calor interno do planeta também é menor, embora a ciência ainda não saiba por quê.
O corpo celeste irradia uma parte muito pequena do excesso de calor que recebe do sol, em quantidade menor do que a Terra. Acredita-se que o impacto de outro corpo celeste tenha feito Urano expelir seu calor primordial, deixando seu núcleo mais gelado.
Quantas luas tem Urano?
A astronomia conhece 28 satélites naturais orbitando Urano, cujos nomes homenageiam personagens da literatura de Shakespeare e Alexander Pope, ambos autores britânicos. As cinco principais luas de Urano são Ariel, Miranda, Oberon, Titânia e Umbriel, mas todas são compostas de cerca de 50% de gelo e 50% de rocha. A 28ª lua do planeta foi descoberta ainda em 2024.
Curiosidades sobre Urano
Originalmente, Herschel nomeou Urano como Georgium Sidus, “Estrela de George”, em Latim, em homenagem ao rei inglês George III. Como astrônomos de outros países não aprovaram a ideia, foram propostos outros nomes, com o alemão Johann Elert Bode propondo Urano, o titã grego do céu.
O motivo era que, como Saturno era pai de Júpiter na mitologia, nada mais justo do que nomear o novo planeta em homenagem ao pai de Saturno. O planeta é o único que possui um nome vindo da mitologia grega ao invés da romana, embora em ambas os deuses sejam correspondentes — para os romanos, Urano é Celo (ou Caelus, no original), palavra relacionada a “céu”, em português.
Em 1789, um colega de Bode, Martin Klaproth, nomeou o elemento que descobriu de “urânio”, em homenagem à escolha do amigo.
Urano foi o primeiro planeta a ser descoberto com o auxílio de um telescópio, apenas 39 anos antes da descoberta do continente da Antártida. Desde que o descobrimos oficialmente, o planeta completou somente duas voltas ao redor do sol, com a terceira ocorrendo em 2033. Seu aspecto azulado vem da absorção da luz vermelha pelo metano, refletindo o tom azul-esverdeado.
Imagens históricas de Urano
Apesar de ser um planeta de difícil estudo, Urano foi fotografado pela sonda Voyager 2 durante sua viagem pelo Sistema Solar e registrado inúmeras vezes por telescópios terrestres, sejam os de centros de observação, seja na órbita da Terra.
A primeira foto é de 23 de janeiro de 1986, pela Voyager 2, que usou seu sistema de imagens para compor um registro usando as cores laranja, verde e azul. Na imagem, a cor foi calibrada para representar melhor o verdadeiro aspecto de Urano a olho nu.
Já esta imagem foi tirada pelo Telescópio Espacial Hubble, em 1998, usando infravermelho. Nela, é possível ver a faixa de nuvens acima da atmosfera em gradiente, assim como os anéis planetários que circulam o sétimo planeta do Sistema Solar e alguns de seus satélites naturais.
A foto acima foi tirada pela sonda Voyager 2 em 25 de janeiro de 1986, quando partia em direção a Netuno, registrando Urano a 1 milhão de quilômetros de distância e capturando seu crescente.
Um dos mais recentes registros de Urano, este foi feito pelo Telescópio Espacial James Webb em fevereiro de 2023, também em infravermelho e mostrando seus anéis. A mancha branca na direita representa o polo exposto ao sol, ficando na “lateral” em relação ao plano do Sistema Solar.
Idade média | 4,5 bilhões de anos |
Distância da Terra | entre 2,6 bi e 3,2 bi de quilômetros |
Satélites | 28 |
Composição | hidrogênio, hélio, metano, hidrocarbonetos, água, ferro, níquel, amônio e silicato |
Temperatura média | -220 ºC |
Área da superfície | 15,91 terras ou 8,115 bi km² |
Duração do dia | 17 horas e 14 minutos |
Período orbital | 84 anos |
Gravidade | 8,69 m/s² |
Massa | 14,5 Terras ou 8,681 × 10^25 kg |
Raio | 25.362 km |