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Será que alienígenas estão ouvindo nossas mensagens mas não querem responder?

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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PhotoVision/Pixabay
PhotoVision/Pixabay

Em 1950, o físico Enrico Fermi conversava sobre alienígenas com seus colegas durante o almoço. Em dado momento, Fermi perguntou: “onde estão todos?” Ainda não há uma resposta à questão, mas, desde então, muitas hipóteses surgiram tentando explicar a ausência de evidências de que não estamos sozinhos no universo. Uma dessas propostas é o Paradoxo SETI.

Existem algumas abordagens para buscar evidências de vida alienígena, mais especificamente formas de vida inteligente e tecnológica. A principal delas — de longe a mais adotada por cientistas de todo o mundo — é o SETI (sigla para Search for Extraterrestrial Intelligence, que significa Busca por Inteligência Extraterrestre). Trata-se de, basicamente, a busca por sinais de emissões artificiais no espaço — como o rádio pode ser.

Outra via, conhecida como METI (sigla para Messaging Extraterrestrial Intelligence), é complementar ao SETI. Nessa abordagem, os cientistas enviam sinais da Terra ao espaço para gritar ao universo, como que dizendo: “ei, estamos aqui!” No entanto, poucas mensagens foram enviadas, em comparação com a quantidade de instrumentos que tentam "ouvir" sinais vindos do espaço.

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Foi em 1962 que a primeira tentativa de enviar uma mensagem para civilizações alienígenas aconteceu. Cientistas do centro do Radiotelescópio Yevpatoria, na Crimeia, mandaram a Vênus uma transmissão em código morse com as letras MIR (a palavra russa para "paz") ​​seguidas por "Lenin" e "SSSR". Só mais tarde, em 1974, a Mensagem de Arecibo, transmissão mais famosa foi enviada a partir do Observatório de Arecibo, com informações sobre o planeta Terra e a civilização humana.

O envio foi realizado pelo Instituto SETI (não confundir com o termo SETI para nos referirmos a todas as buscas por mensagens alienígenas) na ocasião de inauguração do radiotelescópio porto-riquenho. A mensagem em si era uma série de 1 e 0 que, decodificada, formando a imagem mais abaixo. Algumas alterações foram efetuadas no transmissor do radiotelescópio para que os sinais fossem transmitidos com até 20 terawatts de potência.

A mensagem foi direcionada para Grande Aglomerado Globular de Hércules (ou M 13), que está a aproximadamente 25 anos-luz de distância e possui cerca de 300 mil estrelas. Os 1679 impulsos de código binário levaram três minutos para serem transmitidos na frequência de 2380 MHz. Mas não se anime: alienígenas em planetas ao redor de qualquer estrela do aglomerado só receberiam a mensagem daqui a 25 mil anos. Se eles puderem decifrá-la e quiserem responder, esperaríamos quase 50 mil anos.

Esse é um bom exemplo para compreender as dimensões do problema e o que pode significar o Grande Silêncio. Em primeiro lugar, nós, enquanto civilização, produzimos ondas eletromagnéticas (luz, rádio, raios X, etc) há pouco mais de um século. Se algum alienígena estiver começando a buscar sinais da existência de vida tecnológica no universo somente agora, ainda levará um bom tempo para que nossos sinais cheguem até ele. Quanto mais longe ele estiver, mais tempo demorará para que uma comunicação seja estabelecida.

Em um cenário pouco animador, a civilização mais próxima de nós pode levar milhões anos para receber as primeiras ondas eletromagnéticas enviadas por nós em direção ao universo — isso supondo que elas sejam potentes o suficiente para ir tão longe. É possível que nossa própria civilização não exista mais quando eles finalmente souberem que estivemos aqui.

A resposta também demoraria a chegar, caso os alienígenas não tenham dominado a tecnologia de dobra espacial — o EmDrive —, ou não sejam capazes de criar buracos de minhoca, que na teoria serviriam como atalhos espaciais. Todas as transmissões em ondas eletromagnéticas viajam à velocidade da luz, e isso significa que mensagens de aliens que vivem a 50 mil anos-luz de distância levariam 50 mil anos para chegar aqui.

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Então deveríamos desistir? Não exatamente, porque não sabemos se há aliens mais próximos de nós. O Sol tem algumas estrelas na sua vizinhança, e distâncias como 4, 20 ou 50 anos-luz são bem mais promissoras. Será que temos vizinhos tão próximos a ponto estabelecermos uma troca de mensagens durante um período de vida humana? Não é impossível.

E, de fato, não desistimos dessa missão. Em 2008, a NASA transmitiu a música Across the Universe dos Beatles, em direção à estrela Polaris, usando uma de suas antenas de 70 metros. Em 2012, no 35º aniversário do Sinal Wow!, foi transmitida uma resposta do Observatório de Arecibo, com mais de 10 mil mensagens do Twitter e vídeos de celebridades. E, em 2016, a mensagem de rádio “Uma Resposta Simples a uma Mensagem Elementar” foi transmitida da Estação à para a Polaris.

Contudo, as tentativas de enviar mensagens correspondem a menos de 1% dos esforços em ouvir mensagens. O motivo é que ainda não sabemos se devemos continuar dizendo a todos que estamos aqui, e não há outros planos de enviar a mensagens até que haja um amplo debate entre cientistas e líderes mundiais sobre as questões éticas e filosóficas que essas transmissões implicam.

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Nos últimos anos, cientistas como Stephen Hawking trouxeram essas questões e fizeram outros pesquisadores a se perguntarem se devemos denunciar nossa existência. Em um artigo de 2006, um famoso cientista chamado David Brin escreveu que “METI é uma coisa muito diferente de peneirar passivamente os sinais do espaço sideral. Carl Sagan, um dos maiores apoiadores do SETI e um grande crente na noção de civilizações alienígenas altruístas, chamou tal movimento profundamente imprudente e imaturo”.

Sagan e outros cientistas do Instituto SETI eram mais cautelosos e sugeriam que nós, “crianças mais novas em um cosmos estranho e incerto”, deveríamos ficar em silêncio “aprendendo pacientemente sobre o universo e comparando notas, antes de gritar para uma selva desconhecida que não entendemos”. Muitos outros pesquisadores hoje concordam com essa postura de cautela, mesmo que outras civilizações possam ser menos hostis que a nossa própria.

Seguindo esse raciocínio, pode ser que as demais civilizações tecnologicamente evoluídas na nossa vizinhança cósmica estejam fazendo o mesmo: ouvindo o silêncio do universo e aprendendo sobre ele e sobre si mesmos, antes de encontrar outros povos. Talvez essa seja a forma natural que o próprio instinto de sobrevivência, herdado após milhares de anos de evolução, tenha encontrado para compreender e estabelecer melhor seu próprio lugar no cosmos.

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O cientista russo Alexander Zaitsev, que cunhou o termo METI, sugeriu que alienígenas avançados são altruístas e “covardes”, uma provável explicação para o Grande Silêncio. Ele argumenta que as espécies tecnológicas mais jovens e mais ignorantes — como a nossa — certamente “atropelam” essa covardia e anunciam sua presença até mesmo com certa arrogância de suas próprias capacidades de refletir sobre si mesmos e sobre o universo.

Considerando, contudo, que os alienígenas sejam altruístas (qualidades que, para alguns filósofos, é necessária para alcançar um nível mais elevado de avanço tecnológico) e ainda preferem manter o silêncio sobre si mesmos... “Por que não deveríamos seguir o exemplo e fazer o mesmo? Pelo menos por um tempo? É possível que eles fiquem em silêncio porque sabem algo que não sabemos?”, questiona Zaitsev.

É difícil saber exatamente o que está acontecendo lá fora, porque mal compreendemos nossas próprias posturas em relação ao cosmos. Se, por um lado, enviamos uma dúzia de mensagens ao espaço, é de se esperar que alguma civilização em um estágio tecnológico equiparável ao nosso se apressasse a responder — assim como nós mesmos enviaríamos centenas de milhares de sinais, caso detectássemos alguma mensagem alienígena. Possivelmente, seria impossível controlar o anseio de todos, mesmo que cientistas renomados convocassem um debate promovendo a cautela.

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Por outro lado, se qualquer civilização mais avançada detectar um sinal da Terra, é possível que eles prefiram não responder, o que nos leva a outra hipótese chamada “Floresta Escura”, que também tenta resolver o Paradoxo de Fermi. De acordo com essa ideia, as civilizações tecnológicas não estão muito ansiosas para divulgar sua existência, seja por cautela, seja por saberem que qualquer tentativa de contato ou ataque levaria centenas ou milhares de anos para acontecer.

Talvez ainda demore até que tenhamos uma resposta para o Paradoxo de Fermi. De qualquer forma, quanto mais tentamos fazer isso, mais aprendemos sobre o próprio universo. E aprender sobre o universo é, de muitas maneiras, aprender sobre nossa própria natureza. Em última análise, talvez o mais importante na busca por vida alienígena seja a própria jornada — talvez ela seja importante para tomar as decisões certas quando finalmente conseguirmos o primeiro “olá”.

Fonte: Universe Today