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Momentos finais da sonda Peregrine: o que causou o fracasso da missão?

Por  • Editado por  Patricia Gnipper  | 

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Astrobotic Technology
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O lander Peregrine, da Astrobotic, foi lançado à Lua em 8 de janeiro. A expectativa era grande: ele levava consigo 20 cargas úteis, e se tudo corresse bem, poderia realizar o primeiro pouso lunar de uma espaçonave norte-americana desde a Apollo 17. Entretanto, uma falha impediu que esta conquista se tornasse realidade — e, para entender o que aconteceu, o Canaltech conversou com Lucas Fonseca, engenheiro espacial e diretor da Missão Garatéa.   

Para recapitularmos: a espaçonave foi desenvolvida por meio da Commercial Lunar Payload Services (CLPS), da NASA, iniciativa criada para incentivar empresas privadas a criar e operar landers lunares para levar cargas da agência espacial à Lua. Ela foi lançada no voo inaugural do foguete Vulcan Centaur, da United Launch Alliance. 

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Passados mais de 50 minutos do lançamento, o Peregrine, que era a carga útil primária da missão, foi liberado com destino à Lua. Cerca de sete horas após o início da viagem ao nosso satélite natural, o lander sofreu uma anomalia que prejudicou sua jornada: a Astrobotic declarou que os sistemas de propulsão foram ativados com sucesso, mas a sonda não conseguiu se estabilizar para apontar os painéis para o Sol e carregar suas baterias.

Sonda Peregrine: o que aconteceu?

Inicialmente, a Astrobotic anunciou que a raiz do problema poderia estar no sistema de propulsão do veículo, causando perda considerável de propelente. Pouco depois, a empresa publicou uma foto tirada pela câmera do Peregrine, mostrando danos nas camadas externas do isolante que o revestia. 

Depois, a companhia anunciou que o vazamento de combustível estava prejudicando o sistema que alinha o lander. Felizmente, os engenheiros da empresa foram rápidos e usaram os propulsores do Peregrine para estabilizá-lo, conseguindo apontar seus painéis solares em direção ao Sol para carregar as baterias. 

Em um comunicado publicado em 9 de janeiro, representantes apontaram que a causa da anomalia era uma válvula entre o pressurizador de hélio e o oxidante, que pareceu não ter sido fechada após sua ativação. "Componentes eletromecânicos são pontos de risco consideráveis em missões espaciais, e por mais que existam meios de compensar falhas de determinados dispositivos, nem sempre temos condições de criar redundância para qualquer emergência", observou Fonseca, ao Canaltech

O Peregrine tinha perdido tanto propelente que já não poderia mais tentar pousar na Lua, e a partir dali, a Astrobotic tentou mantê-lo ativo para aproveitar seus recursos ao máximo. Foi assim que o lander ficou a mais de 300 mil quilômetros da Terra e ativou todas as suas 10 cargas úteis — duas delas, inclusive, coletaram dados da radiação no ambiente ao redor do lander. 

Próximos passos 

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Lucas Fonseca destaca que a falha do Peregrine ocorreu em um momento crítico da sua jornada até a Lua, o que exigiu acompanhamento atento dos membros da missão. "A partir do momento que uma falha é identificada, reuniões de contenção de danos são estabelecidas e ideias trabalhadas para garantir a melhor resposta ao risco", explicou.

No dia 17, a Astrobotic declarou que o Peregrine iria reentrar na atmosfera sobre a região do Pacífico sul, marcando o fim de sua missão de dez dias. Segundo a empresa, a trajetória do lander foi ajustada para garantir a segurança do processo. O Comando Espacial dos Estados Unidos confirmou a reentrada do Peregrine no dia 18

“Embora ainda seja cedo demais para entender a causa principal por trás do incidente da propulsão, a NASA continua apoiando a Astrobotic e vai contribuir para a análise dos dados de voo, identificando a causa e desenvolvendo um plano para futuros voos comerciais e da CLPS com a empresa”, declarou Nicola Fox. administradora associada aggência espacial.

Desafios para pousar na Lua 

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Descer uma espaçonave em segurança à superfície da Lua está longe de ser uma tarefa fácil. "Quando falamos de um pouso em outro corpo que está no mínimo 10 vezes mais distante que nossos satélites posicionados nas órbitas terrestres, o grau de dificuldade aumenta consideravelmente", recordou o engenheiro, em entrevista ao Canaltech

Ele destacou as condições desafiadoras que missões lunares enfrentam, que incluem temperaturas extremas, vácuo, exposição à radiação e, claro, o desafio natural de se pousar uma espaçonave em um ambiente tão diferente do da Terra. "Essas falhas todas são observadas por todas as empresas privadas que estão tentando pousar na Lua, e com certeza são levadas em consideração para aprimoramento de projetos", acrescentou. 

Agora, a Astrobotic quer investigar os erros que aconteceram e incorporar qualquer mudança ao Griffin, o outro lander que vai desenvolver para a NASA. A empresa planeja organizar um comitê para analisar os dados e confirmar a causa por trás do vazamento de propelente, mas pode levar tempo até as investigações serem finalizadas e até descobrirmos o que, de fato, prejudicou a jornada do Peregrine à Lua.

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Vale lembrar que a Astrobotic não foi a primeira empresa privada a falhar em uma tentativa de pouso na Lua — os módulos Beresheet e Hakuto-R, de companhias de Israel e do Japão, respectivamente, também não tiveram os desfechos planejados por suas equipe. "Lembrando que hoje existe uma competição entre empresas para ver quem chega primeiro [na Lua]. A próxima a tentar deve ser a empresa americana Intuitive Machines com seu módulo IM-1, que deve decolar no final de fevereiro", finalizou ele. Resta aguardar para saber se a Intuitive Machines vai ter sucesso.