Como a Estação Espacial Internacional vai ser destruída?
Por Daniele Cavalcante | Editado por Patricia Gnipper | 11 de Maio de 2023 às 11h02
A Estação Espacial Internacional (ISS) só será descartada na próxima década, mas a NASA já começou os preparativos para a reentrada dramática de uma das maiores realizações internacionais da humanidade. O problema é decidir como isso será feito, já que se trata de um objeto de 400 toneladas.
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Rebocando a ISS de volta à Terra
Conforme as decisões recentes da NASA, as atividades da ISS serão estendidas até 2030, prazo após o qual ocorrerá uma transição gradual do trabalho desenvolvido por lá para as futuras estações. Quando o momento chegar, uma espaçonave “rebocadora” vai empurrar a ISS de volta à Terra.
Embora o plano pareça simples, envolve muita ciência e engenharia e, por isso, a NASA já está procurando parceiros para o desenvolvimento do rebocador. Além disso, os planos atuais já incluem o envio de uma última equipe de astronautas para recuperar os objetos mais importantes e trazê-los de volta antes do descarte da ISS.
O início dessas atividades começa em 2026, quando a órbita da ISS deve decair naturalmente dos atuais 400 km de altitude, até atingir cerca de 320 km em meados de 2030. Nesse momento, o time final dos astronautas será enviado para buscar equipamentos.
A recuperação de objetos úteis ou de importância histórica pode ser importante também para reduzir o peso da ISS antes de ser empurrada à Terra, mas o assunto ainda não está concluído. “Isso ainda está em discussão”, diz Josef Aschbacher, o chefe da Agência Espacial Europeia (ESA), uma das parceiras da ISS.
Também fazem parte dessa parceria histórica a Rússia (desde a época da extinta União Soviética), Japão, Canadá e Japão. É bem provável que as tecnologias e pesquisas a serem desenvolvidas para a “aposentadoria” da estação recebam contribuições desses parceiros.
Durante a etapa final, a ISS deve perder mais altitude, até os 280 km, de onde não poderá mais retornar ao espaço mesmo que impulsionada por outra nave. Então, a espaçonave russa Progress deve dar à estação um empurrão final de volta à atmosfera mais densa do planeta.
O problema é que a participação do Progress ainda é incerta, devido à atual situação política da Rússia. “A NASA está apostando na participação russa”, disse Wendy Whitman Cobb, especialista em política espacial da Escola de Estudos Aéreos e Espaciais Avançados da Força Aérea dos EUA.
Reentrada da ISS
Após o empurrão final, a estação atingirá uma altitude de 120 km a cerca de 29.000 km/h. Nesse ponto, a reentrada começará a despedaçar as partes mais frágeis da ISS, começando pelos painéis solares. A 80 km de altitude, os módulos começarão a se separar um do outro.
Como ocorre em qualquer reentrada, os módulos serão queimados pelo atrito com a atmosfera e derreterão a temperaturas de milhares de graus. O evento será também anunciado por estrondos causados pela reentrada, antes de atingir o Oceano Pacífico — local escolhido para a queda.
O lugar exato selecionado é o Ponto Nemo, uma extensão do Oceano Pacífico entre a Nova Zelândia e a América do Sul, onde espaçonaves já são descartadas com frequência. Um dos motivos dessa preferência é que, além de muito distante de qualquer população humana, também abriga pouca vida marinha.
Calcula-se que a ISS deixará um rastro de detritos por vários quilômetros de largura e 6.000 km de comprimento — algo inédito em qualquer reentrada de objetos artificiais na Terra, o que é de se esperar da maior estrutura já fabricada. Inclusive, um bom trecho do Oceano Pacífico será fechado para trânsito de navios e aviões.
Todo esse processo de reentrada deve durar apenas 40 minutos, mas será espetacular para quem tiver a oportunidade de assistir de longe ou em coberturas da mídia, talvez com drones equipados com câmeras para registrar tudo a distâncias em que humanos não devem se arriscar.
Outros planos
Uma alternativa seria criar planos e tecnologias para reaproveitar o material da ISS, algo que interessa a algumas empresas privadas — cogita-se até mesmo a possibilidade de criar um “ferro-velho” no espaço para construção de naves ou outras estruturas por lá mesmo.
Seja como for, ainda há bastante tempo para refinar os planos atuais, com cálculos e simulações minuciosas para tudo ser feito com o máximo de controle possível. As empresas também poderão enviar propostas à NASA, caso desejem participar da operação, ou até mesmo apresentar outras estratégias.
Fonte: BBC