Marvel nos cinemas: será que começou a bater o desespero?
Por André Mello • Editado por Durval Ramos |
A história é sempre a mesma. Algo começa como azarão, tinha tudo para dar errado, mas, por conta de uma combinação de fatores, funciona. As coisas vão evoluindo, ganhando o apoio das pessoas e logo se transforma em algo grandioso. Só que se manter no topo é bem mais difícil do que chegar lá.
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Esse é o dilema atual do Marvel Studios. Com mais de trinta filmes produzidos e mais séries criadas para o Disney+, o estúdio se vê em uma encruzilhada devido a problemas internos de produção, bilheteria e interesse em personagens em queda, além da a necessidade de continuar produzindo mais para não deixar a máquina parar.
Recentemente, reportagens do The Hollywood Reporter e Variety revelaram que, nos bastidores do Marvel Studios, executivos tentam encontrar um meio de colocar as coisas de volta nos trilhos. Isso pode parecer difícil de acontecer do dia para a noite, mas algumas medidas drásticas podem ser tomadas em breve para tentar manter o Universo Cinematográfico da Marvel no topo — a um preço que pode ser um tanto alto.
Impaciência e um fluxo constante de "conteúdo"
Existe um problema na indústria do entretenimento nos tempos atuais que é o de tratar qualquer obra como "conteúdo". Filmes e séries deixam de ter como propósito contar boas histórias para o público apenas para servir como conteúdo de algum serviço de streaming ou calendário de lançamentos, sempre deixando os espectadores abastecidos.
A Marvel passou a operar dessa forma com os planos que envolviam lançamentos constantes de filmes nos cinemas e séries e especiais para o Disney+, serviço de streaming da Disney, empresa dona da Marvel.
Isso fez com que séries fossem aprovadas sem que o público tivesse interesse em personagens específicos, como é o caso de Eco, e filmes passassem por problemas cada vez mais recorrentes durante a produção que prejudicaram a sua qualidade.
O ritmo de lançamento constante fez com que os efeitos especiais desses longas e séries ficassem bem abaixo do que os artistas conseguiam criar, simplesmente porque não tinham tempo hábil para conseguir trabalhar direito. Séries tiveram episódios alterados depois do seu lançamento porque os efeitos estavam ruins e os artistas continuaram trabalhando após eles terem ido ao ar.
Como diria um grande narrador esportivo, foi se criando um clima terrível. A enxurrada de adaptações, aliadas com uma qualidade reduzida, algo que não era esperado dos filmes e séries da Marvel, começou a deixar o público sem muita empolgação pelo gênero. Em alguns casos, até pessimista.
Baixa empolgação = baixa bilheteria
Com o lançamento de Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, um alerta soou dentro da Marvel. De acordo com Joanna Robinson, autora do livro MCU: The Reign of Marvel Studios, que fala sobre a ascensão do estúdio, fontes revelaram que os executivos acreditavam que Quantumania faria muito sucesso e seria adorado por todos. Quando o filme foi bastante criticado por profissionais e fãs, arrecadando bem menos que o esperado, eles ficaram chocados.
De acordo com números do Box Office Mojo, o longa arrecadou um total de US$ 476 milhões em todo o mundo, ficando atrás de filmes como Elementos e A Pequena Sereia. Esse número é quase metade do arrecadado por Guardiões da Galáxia 3. Já com a crítica especializada, Quantumania foi ainda mais decepcionante, tendo uma média de 46% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes.
Junte isso aos problemas legais enfrentados por Jonathan Majors, ator que será o grande vilão de toda a nova saga da Marvel nos cinemas. O ator foi acusado de violência doméstica e sua permanência no papel foi colocada em dúvida recentemente, com a possibilidade de até mesmo Kang ser substituído por outro vilão.
Em 2023, o único filme da Marvel a ter feito bastante sucesso com o público e crítica foi Guardiões da Galáxia Vol 3. Isso era algo esperado, mas ao mesmo tempo é um problema, já que James Gunn, responsável pelo filme, deixou a Marvel para ser o novo CEO do DC Studios.
O que nos leva ao lançamento de As Marvels. O filme teve um marketing estranho, bem abaixo do esperado para um filme do estúdio. Enquanto existe uma parcela barulhenta da internet, que reclamaria do filme pela simples existência de um filme com personagens femininos em destaque, boa parte do público sequer tem noção de que ele estreia no começo de novembro.
As projeções da bilheteria de estreia do filme também estão bem abaixo do normal para um filme da Marvel. Segundo o The Hollywood Reporter, espera-se que ele fature até US$ 80 milhões no primeiro fim de semana nos EUA. Isso é bem abaixo do primeiro Capitã Marvel, que faturou US$ 153 milhões.
Bateu o desespero?
O que nos leva às novas informações publicadas pela Variety sobre o futuro do Marvel Studios. Apesar dos problemas, executivos estariam pensando em formas de trazer o público de volta aos seus filmes e séries.
Além de apressar a entrada dos mutantes no universo cinematográfico, algo que pode acontecer mais cedo do que muitos imaginam, o estúdio estaria cogitando apresentar um novo grande vilão na figura do Doutor Destino. Se isso não é o suficiente, conversas indicariam até mesmo o retorno do grupo original de Vingadores, com Robert Downey Jr e Scarlett Johansson, para pelo menos mais um filme.
Apesar de essas possibilidades parecerem loucura, dentro do contexto do multiverso e o caminho que a Marvel parece estar criando para o MCU, nada ali é absurdo. Inclusive, é algo que poderia ser esperado caso a Disney tivesse interesse em gastar oceanos de dinheiro nos próximos filmes, principalmente em Vingadores: Guerras Secretas.
Porém, pelo contexto abordado e os problemas que vieram à tona recentemente, essas decisões têm um novo cheiro, que alguns poderiam considerar desespero, mas que realmente não parece que estavam dentro dos planos principais.
Ainda é cedo para saber com exatidão o que vai acontecer com o Marvel Studios. Bater o martelo sobre fracasso ou, sendo mais ousado, sobre o fim do estúdio. Seria até pouco inteligente acreditar nisso.
É possível que uma mudança agora faça a diferença e as coisas iniciem uma nova era de glória das adaptações dos quadrinhos da empresa. Mas que no atual momento, tudo parece um pouco confuso demais, isso parece.